*Por Júnior de Paula
Se a Bossa Nova tinha sua musa maior na pele e no corpo de Helô Pinheiro, a eterna Garota de Ipanema, a nova MPB, que não para de crescer desde meados dos anos 2000, já tem um “muso” para chamar de seu. Trata-se de Lucas Veríssimo, o ator-fetiche dos dois últimos clipes de Thiago Pethit, “Moon” e “Romeo”, que vem dando o que falar. Aliás, dizer que são só clipes seria pouco, já que trata-se de duas obras-primas como poucas vezes se viu no universo de vídeos musicais no Brasil.
O primeiro, “Moon”, revelou Lucas ao mundo e foi seu primeiro trabalho como ator, sob a direção de Heitor Dhalia. Na produção, o rapaz vivia um triângulo amoroso bissexual sem nenhum pudor. E por que teria, não é mesmo? Na sequência, emendou participação na série “O Caçador” e, em seguida, embarcou rumo a Los Angeles para gravar “Romeo”, com direção de Rafaela Carvalho. Desta vez, dando vida a um personagem de um road movie com muito sex appel que sai pelas paisagens áridas do interior dos EUA aprontando ao lado da parceira, vivida por Maria Laura Nogueira. O clipe lembra um pouco o cult movie “Kalifornia” (idem, de Dominic Sena, Polygram Films, 1993), que ajudou a consolidar as carreiras de Brad Pitt e Juliette Lewis.
Vídeo de “Romeo”
De volta ao Brasil, Lucas, que não à toa tem como sobrenome um sugestivo Brilhante, está terminado de gravar seu primeiro longa, “SP É Uma Festa”, sob a direção de Vera Egito. No meio de tudo isso, ele ainda canta, compõe e se acostuma ao posto de novo “muso” indie brasileiro. Se depender do talento e da determinação do garoto, ele ainda vai longe. E a gente vai se orgulhar de ter sido o primeiro a entrevistar o rapaz que não foge de nenhuma pergunta. Vem ler:
HT: Conta um pouco sobre como você se descobriu ator, sua formação e os trabalhos que já fez.
L.V.: O Pethit me encontrou no Facebook enquanto buscava o casting para “Moon” e, apesar de ter dito que eu “não tinha nenhuma foto boa” o suficiente para ver a minha cara, achou que eu tinha a ver com o clipe e me convidou para o teste. Quando eu li a mensagem, até achei que era algum spam, sei lá. Foi muito do nada, mas mesmo assim resolvi meter as caras por admirar o trabalho do Pethit e o do Heitor Dhalia. Fiz o teste, durou menos de 15 min (achei até que eles não tinham me curtido muito) e uns dias depois, já meio desiludido, eu recebi um e-mail da [produtora] Paranoid dizendo que o Heitor tinha me elencado para o papel principal do clipe. Esse foi o meu primeiro trabalho como ator e onde me descobriram (Pethit e Dhalia). No “Moon” foi tudo muito intuitivo e visceral. Por eu nunca ter estudado, tive que criar meus próprios processos, foi bem intenso. Depois, o Heitor me botou a maior pilha para seguir em frente com a atuação e o Thiago continuou comigo, tipo meu amuleto da sorte (risos). Aí eu me joguei e começaram a rolar outros trabalhos, inclusive com o Dhalia novamente, em “O Caçador”. Quando viajei para filmar “Romeo” em Los Angeles, aproveitei a oportunidade para estudar com gente que eu gosto e tive aulas no Studio 4, dirigido pelo James Franco. Curto muito os trabalhos dele como diretor (“Child of God”, 2013) e o trabalho de Val Lauren (“Interior. Leather Bar”, 2013), um dos meus atores preferidos, que também dá aula por lá. Apesar do estudo, ainda mantenho os meus processos, que vou elaborando melhor a cada trabalho.
HT: Como conheceu o Thiago e como tem sido trabalhar com ele? Aliás, ele diz que você é o ator-fetiche. Como é essa relação?
L.V.: Eu conheci o Thiago pessoalmente em “Moon” e de cara a gente se identificou. Nos tornamos amigos desde lá, mas foi a convivência que tivemos em Los Angeles que nos aproximou de verdade. Trabalhar com ele é foda, confio muito no Thiago e isso foi importante para o resultado do meu trabalho nos clipes. Ahh essa história de ator-fetiche! (muitos risos). Ouvi dizer, espero que eu seja mesmo.
HT: Você tem um despudor raro entre atores cada vez mais cheios de pudores. De onde vem essa sua liberdade na relação com o corpo? É um grito contra a caretice? E como vê o posicionamento da nossa geração nesse aspecto?
L.V.: No meu trabalho como ator eu vou até onde eu acredito, seja lá onde isso for. Essa é a razão do meu despudor em cena. Não acho que seja um grito contra a caretice, acho que é uma questão de não acreditar nela. E se a minha geração estiver mesmo cada vez mais careta, então eu não acredito nela também.
HT: Você também canta e toca. Como convivem essas artes em vc?
L.V.: Ah, eu canto e toco desde bem novinho, sempre usei várias formas artísticas para me expressar, para desenrolar uns nós de dentro, sabe? A atuação foi a mais recente, mas ela por si só não é suficiente.
HT: Onde você gostaria de estar daqui a 10 anos?
L.V.: Daqui a dez anos eu gostaria de estar vivo, bem vivo.
HT: No primeiro clipe do Thiago você tem cenas gays e me lembro que alguns amigos te zoaram por isso. Em tempos de discussão em torno da homofobia, como você, u heterossexual, vê a questão?
L.V.: Achei engraçado que todos os meus amigos que zoaram a minha cena gay, ao mesmo tempo, glorificaram minha cena hétero. Para mim, isso não faz sentido nenhum! Apesar de ser hétero, e nunca ter beijado um homem antes do “Moon”, tive a mesma sensação beijando um homem do que quando beijo uma mulher. Beijar é beijar! Eu vejo a questão da sexualidade de uma forma bem simples, eu simplesmente acho que ela nem deveria mais ser discutida, é tão obvio que gente é gente, beijo é beijo, sexo é sexo, é tudo tesão, é tudo igual. É tão claro que um casal gay pode criar um filho tão bem ou tão mal quanto um casal hétero. Mas, infelizmente, boa parte do mundo ainda não tem essa consciência e, justamente pelo absurdo que é ainda existir a homofobia, a questão tem de continuar a ser discutida, trabalhada e a causa LGBTT apoiada.
Vídeo de “Moon”
HT: Você era desconhecido e agora virou queridinho. O assédio deve ter aumentado bastante. Você está gostando ou estranhando? Conte como tem sido ver o seu trabalho reconhecido.
L.V.: Ah, eu acho que nunca vou conseguir me sentir “o queridinho”. Então é meio estranho, por exemplo, ver um monte de gente me adicionando no Facebook do nada, com esse pretexto. Mas eu gosto disso, porque entendo que, de alguma forma, é o meu trabalho sendo reconhecido e é bom demais conquistar esse reconhecimento… É tipo a segunda trepada da noite. A primeira é no set, claro!
HT: Quais as três músicas que você mais tem ouvido nos últimos tempos?
L.V.: Eu tenho escutado MUITO essa playlist que criei para o site da Singapura.
HT: Próximos projetos?
L.V.: Terminei essa semana de rodar um longa dirigido pela Vera Egito, “SP é Uma Festa”, e estou com dois curtas pra rodar ainda este ano. Também pretendo continuar investindo parte do meu tempo na Singapura, projeto que tenho junto com a minha amiga Giovanna Rouvier.
*Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura
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