Para Dinho Ouro Preto, “a polarização política leva a um emburrecimento”. E ele é claro, em entrevista exclusiva ao HT: fala do duelo travado entre PSDB e PT. “Eu vejo virtudes e defeitos em ambos. Acho que algumas ações feitas pelo Fernando Henrique Cardoso (presidente do Brasil entre 1995 e 2003 pelo PSDB) são direitos adquiridos dos brasileiros. Quem viveu a inflação, como eu, sabe o valor que a responsabilidade fiscal e a estabilidade da moeda tem. No mesmo passo que a inserção social iniciada pelo PT não pertence ao partido”. Dinho, no entanto, faz questão de dizer: “Eu não me sinto representado por nenhum dos dois”. E prossegue na crítica ao embate polarizado. “É um emburrecimento também do debate político. É uma dicotomia que não admite que algo seja aproveitado do outro. Um maniqueísmo quase que puril. Há a demonização de um lado e de outro, o que reduz o debate”.
Expor essa opinião, para o vocalista do grupo de rock Capital Inicial, acreditem, é mais fácil em um veículo da grande imprensa do que…nas redes sociais. “Lá há muita patrulha. Você escreve uma opinião e é massacrado na hora. Principalmente se você tem opiniões mais liberais sobre o aborto ou sobre a maconha. Estou até escrevendo uma música para o novo disco do Capital sobre patrulha e internet”. Enquanto isso, continua o opinar sobre o assunto que lhe apetece. “Quando vier a alternância política (fim da Era PT, iniciada com Luiz Inácio Lula da Silva entre 2003 e 2011), as virtudes do governo anterior devem ser mantidas. O Lula manteve o tripé que mantinha a estabilidade da moeda brasileira. Foi um gesto acertado. E agora me parece um erro de Dilma Rousseff no que diz respeito suas ações. Mas eu sempre tento não parecer que estou demonizando o PT porque tem virtudes, também. Coisas boas aconteceram nos últimos anos”, ponderou.
Essa conversa com Dinho Ouro Preto aconteceu poucos dias antes dele pousar, ao lado de Fê Lemos, Flávio Lemos, Yves Passarell, Loro Jones, Murilo Lima e Bozo Barretti no Rio de Janeiro para cantar, no próximo sábado (05) no Metropolitan como o show “Acústico NY” – que já gerou um CD e um DVD. Segundo ele, gravar um trabalho em Nova York não era o plano inicial no grupo criado no Distrito Federal. “Nossa ideia era algo que lembrasse verão, sol, praia e pensamos em Fernando de Noronha. Mas, na época, com tantas restrições ambientais, acabou se revelando uma alternativa muito cara. E o novo plano era o inverso: centro urbano, buzinas, caos, poluição. Quando falaram em NY, levamos na brincadeira. Mas, na ponta do lápis, vimos que não seria tamanha loucura. Colocamos ingresso à venda para cerca de 1500 pagantes e ainda tocamos antes em Boston como um ensaio geral. O Capital entrou com quase um quarto do valor. E a gente não pegou o câmbio alto como está hoje”, lembrou.
Papo de quem está na estrada há algumas décadas e sabe muito bem como jogar o jogo, já que acompanhou dois momentos importantes da indústria fonográfica: o endeusamento do CD físico e, agora, o advento do streaming de música. “O streaming foi um jeito das gravadores capitularem a pirataria. Não é um bom negócio para os artistas e compositores. Cada um paga uma mensalidade minúscula e pode baixar milhões de músicas. Não tem como ser bom para os artistas. A gente ganhando um trocado e essa não é a solução para democratizar a música. Para as gravadoras, talvez, seja um bom negócio”. A saída, então? “Sugeri, certa vez, conversando com executivos de gravadoras, que elas pudessem passar a funcionar como um canal de televisão aberto onde disponibilizam seus artistas e, através da publicidade de cada um, eles fossem pagos. Como uma publicidade normal de programas que assistimos na TV. O valor seria diretamente proporcional ao número de downloads. Mas me disseram que era inviável. Para mim, no momento, pareceu bastante razoável”, contou.
Dinho é assim, fala o que pensa sem soar prepotente e, quando consegue, tenta apontar um caminho. No entanto, nem sempre caminha pelo otimismo preponderante. É assim quando fala de seu gênero musical, por exemplo. “Eu sei que o rock não é mais a bola da vez. A gente tem um número limitado de revistas, jornais e blogs dispostos a falar da gente. Os espaços são cada vez menores. O Capital cresceu numa atmosfera inóspita ao rock. Mas mesmo assim gravamos dezenas de discos e continuamos tocando todo final de semana. As coisas vêm e vão e pode ser que mudem, já que funcionam de modo quase que pendular”. E assim vai seguindo, apreciando uma turma de gente nova que vai tentando empurrar o gênero para a frente. É o caso dos brasilienses da Scalene e da Dona Xislene, dos nordestinos da Selvagens à Procura da Lei e dos paulistas da Vespas mandarinas.
O papo vai se encerrando, Dinho já foi da política à música, mas não sem antes usar todo seu potencial opinativo para dissertar sobre a última polêmica que envolve o meio: o uso de incentivos sem dedução fiscal que a Lei Rouanet, do Ministério da Cultura, concede para projetos como musicais, DVD’s, livros, discos e afins. Casos envolvendo a cantora Claudia Leitte (ela foi autorizada a captar R$ 356 mil junto a empresas privadas sem dedução fiscal para lançar uma biografia – e, depois de midiatizada a permissão, recuou) e o Jota Quest (que poderá captar R$ 3,1 milhões para uma turnê comemorativa dos 20 anos do grupo) ganharam os noticiários, mas muitos outros deixam de vir à tona. “A Lei Rouanet é para o folclore brasileiro, museus, música erudita, para manifestações da nossa cultura que encontrem dificuldade para se pagar. Não para nós. O Capital consegue se pagar e outros artistas também. O resto que se vire aí para se pagar e não utilizar”. A gente não precisa dizer mais nada.
Serviço
CAPITAL INICIAL – ACÚSTICO NYC
Data: Sábado, dia 05 de março de 2016
Horário: 22h30
Local: Metropolitan – Av. Ayrton Senna, 3000 – Shopping Via Parque – Barra da Tijuca
Ingressos: de R$ 45 a 200 (ver tabela completa).
Vendas: www.ticketsforfun.com.br
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