Já faz mais de uma década desde que o Detonautas Roque Clube estourou nas rádios do país com hits como “Olhos Certos” e “Quando o sol se for”. Hoje, a banda já se encontra em seu quinto disco de estúdio e se prepara para subir ao palco do Circo Voador nesta quinta-feira, onde se apresentará na final do concurso Rio Banda Fest.
Como HT já contou aqui, o festival tem como objetivo eleger os dois melhores nomes do rock na nova cena alternativa carioca. Com o apoio da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro e da Secretaria Municipal de Cultura, a etapa final conta com cinco participantes que foram escolhido por um júri especializado e voto popular. São elas: Diabo Verde, regada a punk/hardcore; La Nuova, que traz uma mistura de MPB com samba e baião; Linda Lobo, cheia de blues dançantes; Nove Zero Nove, com seu rock alternativo e grunge; e o indie da Sound Bullet.
Através de uma votação online no site do concurso e da avaliação de um júri especializado, as duas bandas vencedoras ganharão um prêmio de R$10 mil cada e serão anunciadas por Tico Santa Cruz. HT bateu um papo com o vocalista de uma das bandas de rock mais tradicionais do país sobre o atual estado do gênero no país e seu poder contestador, o poder de reinvenção do grupo, novas plataformas de divulgação e outros tópicos que você confere abaixo:
HT: A banda já tem quase 20 anos de estrada. Qual o desafio de se manter relevante por todo esse tempo e como faz para se reinventar a cada projeto?
TSC: Acredito que a relevância do Detonautas está na resistência. Em ter conseguido sobreviver às diversas etapas de um processo complexo que é ter uma banda de rock no Brasil. Através de músicas e mensagens, criar uma identidade ideológica com seu público que, por redes sociais e formas alternativas de divulgação, transcendeu o poder do que se estabelece como tendência pelos grandes canais de comunicação. Temos um repertório de hits enorme e somos completamente independentes há muitos anos. Para conseguir seguir assim, é preciso compromisso com a banda e com a nossa proposta, que é desafiar as regras impostas.
HT: Muito tem se falado sobre o rock ter perdido o seu poder contestador. Como você vê o atual cenário do gênero no Brasil? Acha que ele está passando por alguma forma de reciclagem?
TSC: A juventude vai mudando a forma de se comunicar ao longo dos anos. Vai escolhendo por qual viés musical e cultural prefere se expressar. O rock do mainstream ficou muito careta, muito certinho, pau mandado de empresário. Está com medo de falar o que pensa para não perder espaços e, consequentemente, se distanciou de uma de suas funções, que é contestar. Ele precisa entreter, divertir, mas precisa contestar também. Hoje, vejo no rap muito mais essa linguagem do que no rock, mas acredito que ainda existam muitas bandas que não tiveram grandes oportunidades e que atendam ao propósito do gênero.
Existe um movimento de bandas no Rio de janeiro, São Paulo e em outros estados, que vai fomentando novamente a cena rock do Brasil. Falta apenas que desponte alguma que realmente consiga fazer a ligação entre os guetos e o grande público.
HT: Como você acredita que iniciativas como o Rio Banda Fest possa impulsionar o rock no país?
TSC: É assim que o público conhece novos trabalhos. Você pega uma banda consagrada no Brasil, como o Detonautas, e a usa essa para atrair um público para um certo evento e, assim, apresenta novos projetos. Há quem vá pela novidade, mas há muita gente que vai pelo nome famoso e acaba descobrindo esses projetos mais recentes. É essa a função de uma banda grande em um evento como esse.
HT: O Tchello saiu da banda em 2013 e, no ano seguinte, vocês lançaram o quinto álbum de estúdio. Como isso se refletiu no disco?
TSC: O Tchello deu a contribuição dele no tempo em que esteve no Detonautas e isso está registrado nas músicas das quais ele efetivamente participou. No restante, o Renato gravou baixo e manteve nossa linha própria de compor. Nós temos uma identidade que é inerente à banda, independente de um nome específico.
HT: Hoje há várias formas de um artista se lançar no mercado, desde a disponibilização online de um repertório aos reality shows. Acha que isso teria ajudado a banda no início? E como enxerga a eficiência dessas novas plataformas?
TSC: Nós nunca tivemos nenhuma oportunidade em festivais, nunca fomos selecionados para nada desse tipo. O que conquistamos foi com a nossa própria iniciativa, sem grande simpatia da imprensa especializada e nem a empatia de movimentos da nossa época. Somos uma banda que cresceu e frutificou à margem de tudo que estava acontecendo e que continua acontecendo. Não porque nós nos isolamos, mas porque essa é a realidade. A internet foi um caminho muito importante para nós e, enquanto estivemos nas gravadoras, soubemos usar e ser usados sem perder nossas convicções. Um artista pode ter a plataforma que for à sua disposição, mas se não tiver músicas boas e atitude para se manter, nascerá e morrerá na mesma velocidade.
HT: Quais bandas/cantores/cantoras de rock você admiram hoje no Brasil?
TSC: Muitas bandas legais. O Fabio Brasil desenvolve um grande trabalho gravando nomes independentes no Mobilia Space, que é o estúdio no qual o Detonautas produz. Grupos como Setembro e Stellabella despontam com trabalhos interessantes por lá. Gosto muito da Anacrônica, de Curitiba. O Far From Alaska, de Natal, é um grande nome do rock brasileiro, que tem grandes chances de se tornar um nome do rock mundial. Baltazares (MG), Diabo Verde (RJ), Scalene e SuperCombo, que estão indo muito bem no “Superstar”. A Reverse, que é da nossa geração e também apareceu no reality é um bom nome. O Suricato é um projeto que vem ganhando espaços. Há boas bandas no Brasil.
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