Exclusivo! Carlinhos Brown fala sobre cultura e indústria fonográfica: “O mercado que se lixe! Ele se tornou careta e desinteressante”

Não há dúvida de que Carlinhos Brown é um dos maiores representantes da música nacional. O cantor, produtor e compositor é presença confirmada na maioria dos festivais que rolam no exterior e, com seu suingue e jeito divertido, tem conquistado ainda mais o público nacional com sua participação semanal no The Voice, que volta amanhã à grade da Rede Globo. Durante sua passagem pelo Rock In Rio 2015, que marcou o retorno do músico ao festival após 14 anos, ao lado de Sérgio Mendes, HT invadiu o camarim de Brown e conversou com ele sobre sua trajetória no evento, qual a sua opinião sobre as mudanças pelas quais a indústria fonográfica vem passando e ainda como encara a valorização da música brasileira aqui e no exterior. Vem com a gente!

“O Rock In Rio amadureceu, né? Esse é um processo natural para festivais. E, desde aquela época, eu também fiz inúmeros trabalhos no mundo. Participei de quase 90% dos festivais nos Estados Unidos e na Europa e sei que eles só sobrevivem quando têm história. Encontrei o Roberto Medina no backstage e ele continua o mesmo de sempre, que pensa grande e do tamanho do Brasil. Acho que o nosso país tem dificuldade de pensar grande, o que nos faz perder a nossa vanguarda”, comentou o músico, citando produções como o rock nordestino e a produção eletrônica.

Carlinhos Brown no backstage do Rock In Rio (Foto: João Ker)

Carlinhos também repercutiu a maneira como ele próprio e a música brasileira têm sido mais notados no exterior. “Graças a Deus! Em dólar e em euro tem havido uma valorização muito maior da nossa cultura. Mas a música brasileira é sofisticadíssima, até para os próprios brasileiros”, explicou. “Nossa cultura é fortíssima, e uma prova disso é o Sérgio Mendes, mesmo. Estou fazendo um documentário sobre Paulinho da Costa, um artista incrível que também não é reconhecido aqui”, comentou sobre o percussionista carioca que conquistou os principais nomes da Califórnia, de Michael Jackson e Madonna a Celine Dion e Elton John.

Carlinhos Brown: “A música brasileira é sofisticadíssima, até para os próprios brasileiros”

Mas, uma mudança que Carlinhos Brown não vê com bons olhos e sobre a qual desabafa com HT é a forma de consumir música, a pirataria online e como o que toca na rádio nem sempre reflete o que acontece no país. “Eu sou underground desde que nasci. A música tem que trazer na alma e no coração. Imagina um lugar onde a pirataria nunca conseguiu chegar: a inspiração. O mercado que se lixe. Ele se tornou desinteressante e, inclusive, careta para a gente. As pessoas estão jogando a música popular brasileira, que nunca foi algo de prateleira, mas sim de diversidade, pela janela. Hoje, ela enfrenta dificuldade inclusive dentro de sua casa”, disse, reafirmando um caráter da audiência nacional que poucos têm coragem de admitir – a forma como o público tem uma aceitação mais fácil com o produto exterior do que com o regional. Mas, enquanto vozes como Carlinhos continuarem lutando para essa valorização, podemos sonhar com um caminho mais próspero.