*Por Junior de Paula
Adriano Siri está surfando uma onda das boas em sua carreira de cantor e compositor. Além de ser integrante de uma das bandas mais elogiadas da música contemporânea, a Fino Coletivo, este alagoano radicado no Rio de Janeiro há mais de dez anos está lançando seu primeiro álbum solo que ganhou o nome de ‘Olha que lindo’. O álbum reflete bem todo o caminho percorrido pelo artista desde a estreia profissional com a banda alagoana Santo Samba, às parcerias com Wado e outras composições individuais, tendo ainda como elemento a diversidade autoral de um compositor que mistura com naturalidade samba, pop, psicodelia e outros balanços.
Além das voz, o autor pilotou o baixo, o violão, a guitarra, os teclados e as percussões na maioria das faixas, o que deixa tudo ainda mais especial. Pois este caldeirão promete transbordar no show que ele apresentará no Projeto PatuÁ no dia 23, na Miranda, com direito a participação mais do que especial de Otto. Antes do show, Adriano baterá um papo musical com o jornalista Leandro Souto Maior sobre todo o processo de produção deste álbum, mas, aqui, a gente conversou com ele primeiro e descolou uma entrevista que vale a leitura. Vem com a gente:
1) O que oe faz parar e falar “Olha que lindo!”
– A vida. Apesar da insanidade humana que nos rodeia, ainda há vários momentos que podemos dizer ‘olha que lindo’.
2) Como é a cena musical atual em Alagoas? Você acompanha, participa? Quem se destaca? Conta um pouco para turma do Sudeste como estão as coisas por lá
– Existe sim uma cena musical alternativa em Alagoas, mesmo estando à sombra de Recife, que por ser muito maior e que claramente tem um apoio cultural, governamental e privado, segue mais estruturada para atender um número mais diversificado de manifestações musicais. Em Alagoas, temos nomes que já são destacados e que vêm se destacando com força tanto na cena local quanto na cena nacional, como o Wado, que hoje é o nome mais forte que temos e que puxa um bonde inteiro, inclusive a mim. Por ser parceiro dele, vim ao Rio, entrei no Fino, tive músicas gravadas e cantadas por grandes nomes da música popular brasileira, como Zeca Baleiro, Marcelo Camelo, Fafá de Bélem, Maria Alcina… E tem outros nomes também conhecidos nacionalmente, como o Mopho que participou de vários programas de TV e vários festivais pelo Brasil; o Chique Baratinho; o Messias Elétrico; Junior Almeida e Vitor Pirralho, que foram gravados recentemente por Ney Matogrosso; há ainda o Sonic Junior, que tem uma carreira nacional e internacional solidificada; a Divina, super nova; Cris Braun e os Fabulosos; a Fernanda Guimarães, que é grande musicista e cantora de primeira; a Desa Pauline, que vive em São Paulo e que participou de um grande festival internacional, ficando entre os três primeiros finalistas; e uma novata chamada Lívia Buarque, que tem tudo para despontar também no âmbito nacional. Claro, ainda há muitos outros que não citei aqui.
3) Como você chegou a essa diversidade sonora? Como foi que se aproximou de ritmos tão diferentes entre si?
– Eu, desde criança, sempre fui muito eclético quanto ao gostar de música. Minha mãe escutava quase que todo dia Roberto Carlos; meu pai gostava mais de samba e forró; meus irmãos mais velhos escutavam muita música estrangeira, principalmente o U2. Com 15 anos, virei “beatlemaníaco” e pouco depois “mutantemaníaco” (risos), que são duas bandas altamente diversificadas em termos sonoros. E, além disso, tive uma grande influência dos grupos musicais com os quais andava.
4) Você pilotou quase tudo nesse seu disco, mas também faz parte do Fino Coletivo. Qual a diferença do Adriano Siri solo para o Adriano Siri coletivo?
– Eu sempre fiz parte de alguma banda, desde 1993, e em todas elas eu era o principal compositor. Todas as músicas que tocávamos eram minhas, mas nunca fui o front man, até chegar no Santo Samba em 2000, uma banda fundada originalmente pelo Wado. Com a saída dele para seguir carreira solo, eu entrei meio que sem querer e aí tudo mudou, porque passei a ser o compositor principal e front man. Só que a banda era composta por músicos mais experientes do que eu, nas outras bandas eu era um ditador (risos). Claro que é uma brincadeira, mas minhas convicções eram muito fortes e tinha que tocar do jeito que eu queria. Pela primeira vez, eu não tive esse poder e o buraco era mais embaixo. Foi aí que aprendi a compartilhar as ideias e receber críticas. Em 2004, gravei um disco demo experimental de 10 faixas. Foi quando me aventurei pela primeira vez a fazer tudo, só que alguns meses depois já estava no Rio de Janeiro fazendo parte de outra banda: o Fino Coletivo. E estar criando música com esse time foi e é formidável, Além da expansão musical que me proporciona até hoje. Esse é o Adriano Siri coletivo. E o Adriano Siri solo é simplesmente livre para experimentar todos os caminhos.
5) Como surgiu o convite para o Otto. Como é a relação de vocês, e como se aproximaram?
– O convite surgiu por conta do projeto PatuÁ que pede que um artista novo convide um artista já consagrado nacionalmente. Aí comentei com o Alvinho Lancellotti sobre o projeto e ele me disse: ‘por que você não convida o Otto? Vocês dois têm tudo a ver e ele gosta muito de você’. Eu fiquei um dia inteiro pensando nisso, muito por eu ser fã dele – fui a vários shows do Otto em Maceió e em Recife -, conheço a discografia, tenho como referência musical e sempre quis fazer algo com ele. A relação é massa, ele sempre é muito gentil comigo. Nós nos conhecemos pessoalmente em um projeto chamado Oi Fashion Tour e ficamos amigos no camarim. Logo depois saímos para bebemorar. Nesse mesmo dia, conheci o Marcelo Camelo, Frejat, Fernanda Takai, Preta Gil, Ana Cañas, mas fiquei mais próximo do Otto. Tipo, nesse dia, ele foi meu padrinho.
6) O que você tem mais ouvido ultimamente? As cinco músicas que não saem do repeat no seu som?
Radiohead – 2+2=5
Otto – Moon 1111
Wado – Alagouas
Lucas Santtanna – Particulas de amor
Alvinho Lancellotti – Alegria da gente
Ultimamente, estou viciado nessas musicas, além de que já escuto normalmente Beatles e Mutantes (esses dois tem que ser todo dia, senão deprimo).
* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura
Artigos relacionados