*Por Domênica Soares
Fundador e baterista do Barão Vermelho, Guto Goffi lançou seu terceiro trabalho C.A.O.S, que foi pensado a partir de um material fotográfico feito pelo próprio artista há aproximadamente 15 anos. “O momento do Brasil e do mundo começaram a me trazer um certo desconforto e todo retrocesso e a caretice presentes, nesse show de horrores que estamos presenciando, estavam merecendo chumbo grosso, e é mais ou menos o que trago nas letras do meu C.A.O.S. um convite Pa reflexão sobre as desigualdades. Tento nas letras dar enfatizar mais espiritualidade aos seres chamados humanos – e que na verdade são desumanos -, não inclusivos e que ajudam a corroer nossa sociedade com um ferrugem amargo e perverso. São essas aberrações que tento implodir com minhas músicas”, desabafa.
Ele explica que C.A.O.S é uma sigla que representa suas Confusões Artísticas & Obras Sonoras. É um conjunto de imagens e músicas que clamam pela liberdade e contra qualquer conservadorismo. Segundo o músico, o conservador na verdade, tem medo de perder seu espaço e suas mini certezas pouco luminosas.
Capa do projeto C.A.O.SEm entrevista exclusiva ao site Heloisa Tolipan, Guto Gofii afirma que, com seu som, busca levar ao público o melhor possível e a energia da música é a certeza de que existe luz para os homens. É uma chama que aquece e transforma pessoas, uma força sagrada, como se eu fosse um sacerdote dessa matéria espiritualizada, feita para iluminar corações, e botar o dedo nas feridas no grande milagre que é a vida.
“Não fomos feitos apenas para sermos escravizados por um sistema injusto e usurpador. O paraíso não é isso e nem pode ser prometido após a nossa morte, isso não está com nada. A vida é agora e não depois e a chave para abrir esse portal pode ser a música”. Sobre o cenário cultural, o artista diz que o Brasil parece um deserto sem oásis e que se não fosse pelos artistas de resistência só teríamos a música banal, comercializada pelas gravadoras e a música evangelizada e gravada por padres e pastores.
“A religião é algo que não deveria nem existir, nenhuma delas, porque sempre foram os motivos de desalinhamento, incompreensão e grandes guerras. O acesso a Deus, para quem realmente acredita, é via direta, sem a necessidade desses pedágios espirituais, feito por padres, pastores, pais de santo, entre outros. Esses caras tinham que estar nas ruas alimentando e cuidando dos menos favorecidos, não trancados em seus templos enriquecendo e tornando-se, prefeitos, governadores…. Francamente: é o fim da picada”, pontua.
Para Guto, existem grandes diferenças da música atual em comparação com 20 anos atrás. Ele explica que quem está piorando é o ser humano e a música acaba sendo um reflexo da sociedade mesquinha, hipócrita e pobre de espírito que está com cada vez mais ausência de arte de verdade.
“Acredito que um livro, filme e um disco podem mudar a vida de um ser para melhor. Sou sempre crente de que evoluir é a mensagem do espírito para o corpo e a música pode ser a porta que se abre para o melhor da vida”, diz. Para Guto, a grande evolução da sociedade é o grito das minorias pedindo igualdade e respeito. Os fracassos são as pessoas que enxergam isso com medos. Inquisidores natos e verdadeiros atravancadores das liberdades humanas.
Após “Alimentar” em 2011 e “Bem” em 2016, o artista vem cumprindo a promessa de lançar um disco para cada letra do alfabeto brasileiro. Para 2020, ele anuncia que fez com o seu grupo “O Bando do Bem”, um disco lindo e que ele vai cair na estrada. Além disso, adianta que até o final do ano lançará mais um disco, só que instrumental, com o grupo Bicho de Pau, um trio que participa e tem muito a dar ao público e a música também. “O meu maior sonho sempre foi a música. Através dela prego o amor, quase uma religião para mim, aberta aos pensamentos de quem irá me ouvir, quero deixar o máximo de composições, letras, poemas, livros que tiver fôlego para abastecer essa alma viva e cheia de artes que carrego nesse cavalo forte batizado Guto Goffi”, conclui
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