Erasmo Carlos celebra 80 anos: ‘Semana que vem já vou ter a grande notícia que estou curado do câncer no fígado’

*Por Carlos Lima Costa

Um dos grandes artistas desse país, Erasmo Carlos celebra 80 anos neste sábado, 5 de junho. “Não imaginava chegar nessa idade”, frisou em entrevista ao Conversa com Bial, exibida nas primeiras horas do dia, o Tremendão respirou aliviado dando uma grande notícia aos fãs. Ele, que recentemente havia revelado ter enfrentado um câncer no fígado, pontuou emocionado sobre a cura. “Eu sou um cara completamente otimista, positivo, não admito derrotas. E só tenho a agradecer, não peço mais nada. Já me livrei de um câncer de garganta há uns 20 anos e estou quase me livrando desse no fígado. Se Deus quiser, semana que vem já vou ter essa grande notícia de que estou curado”, ressaltou sobre a doença descoberta enquanto realizava exame para investigar um cálculo renal.

No programa, Erasmo ressaltou a forma discreta como gosta de conduzir sua vida e como manteve o tumor em segredo. “Eu sou muito comedido. Meu médico teve a luz de me propor um tratamento meio inédito que, em vez de você cortar, em vez de ser invasivo, ele enfia um conduto e queima a região atingida, o tumor todo, vamos dizer assim. Isso foi feito uma vez, aí ficou um pinguinho, foi feito esse outro e sumiu. Se Deus quiser, vou receber essa notícia de que estou livre. Então, é uma vitória. Isso passou sem ninguém saber, só a minha família. Não quis falar para não fazer burburinho. Não preciso desse tipo de publicidade. Quero a publicidade agora, para dizer que estou curado. Isso serve de exemplo para muita gente. Agora que é hora de falar”, salientou.

Para o jornalista Pedro Bial, o cantor explicou a firmeza como enfrentou a difícil situação que em geral desestabiliza as pessoas. “Em nenhum momento eu lamentei e perguntei a Deus: Por que eu? Isso é muito comum e é horrível, o máximo do egoísmo da humanidade. Acontece porque é a hora de você ter. Vai reclamar, você quer que seja o outro? Então, jamais reclamei de nada. O que me acontece, eu tenho que enfrentar na maior disposição com otimismo, boa fé e muito amor. Eu tenho amor em tudo que eu faço na minha vida”, relatou.

“Eu sou um cara completamente otimista, positivo, não admito derrotas. E só tenho a agradecer, não peço mais nada”, ressalta Erasmo (Foto: Reprodução Instagram)

Na entrevista, ele relembrou a fase áurea da Jovem Guarda, mas em outros momentos, o bate papo transcorreu totalmente dominado de muita emoção. Foi ao relembrar a morte do segundo filho, Carlos Alexandre, (conhecido como Alexandre Pessoal, o afilhado do cantor Roberto Carlos, morreu em 2014, após acidente de moto) que a voz de Erasmo ficou embargada. “É brabo, é pesado perder um filho. Eu sinto uma falta muito grande (voz embargada), ele era um amigo. Era o único filho que eu tinha que era vascaíno, que assistia jogos comigo, o resto (Gil Eduardo e Leonardo Bruno) é tudo flamengo. Então, ele era o meu companheirinho de ver jogo. Sinto muita saudade dele, que era muito carinhoso, um pedaço meu realmente que se foi. Fiquei capenga depois que ele morreu”, frisou.

Erasmo comentou ainda sobre como ele e os filhos enfrentaram outro momento difícil, quando a ex-mulher Narinha, (Sandra Sayonara Saião Lobato Esteves), mãe de seus filhos, se suicidou em 1995, sobre como ele e os rapazes conseguiram dar um sentido a essa tragédia. “Acho que foi com união, amor. O amor é algo realmente muito forte, faz coisas que você nem imagina. A gente tem os pés muito no chão, a cabeça muito consciente. Ninguém vive de ilusão, a gente sabe que a regra não funciona. O que funciona é pensamento positivo, então, unidos temos conseguido vencer as barreiras todas, principalmente essas. Doeu bastante, todo mundo sofreu, mas o que se vai fazer? Aconteceu”, avaliou.

A emoção dominou também em outros momentos, mas sem tristeza, como a hora em que Bial conversou rapidamente com a pedagoga Fernanda Passos, de 31 anos, atual mulher de Erasmo, com quem ele se casou no civil, no início de janeiro de 2019. “Temos uma relação de muito companheirismo. O Erasmo tem uma personalidade muito elegante. Nunca conheci ninguém igual, não imagino que eu vá conhecer”, contou ela. Questionada qual a idade real do marido, Fernanda foi enfática: “É um menino. Às vezes, sou muito adulta, muito firme com ele, que precisa dessa firmeza. Ele é mais companheiro, mais flexível, mas a cabeça é de garoto”, explicou. “Eu preciso levar uns carões, às vezes, para me situar e voltar a ter a minha idade, senão fico eternamente tendo 15, 16 anos”, disparou o Tremendão, aos risos. E ele revelou: “O Roberto chama ela de ‘cunhada’.”

Erasmo Carlos e a mulher, a pedagoga Fernanda Passos (Foto: Reprodução Instagram)

Não à toa, afinal Roberto e Erasmo, criadores de inúmeros clássicos da música brasileira, são mais irmãos do que muitos irmãos biológicos. O Rei foi responsável por uma das maiores emoções da vida de Erasmo, ao mostrar a canção que havia composto para ele: Amigo. A música fez tanto sucesso, que certa vez crianças mexicanas a cantaram para o Papa João Paulo II (1920-2005), durante uma visita dele ao país. “Quando Roberto me mostrou e eu entendi que ele tinha feito pra mim, a gente se abraçou, chorou”, recordou Erasmo.

Roberto e Erasmo não se encontram pessoalmente desde que o Tremendão participou do especial de fim de ano do Rei, de 2019, gravado em Curitiba. E, claro, que nessa entrevista não poderia faltar o Roberto, que gravou uma mensagem em áudio. “Dia tão especial. Parabéns pelos seus 80 anos. Você merece tudo de maravilhoso. Você realmente é um cara fantástico, incrível, que todo mundo adora. Tenho o privilégio não só de ser seu amigo, mas de considerar você meu irmão. Que nosso Deus de bondade te proteja e te abençoe sempre”, declarou Roberto, cantando em seguida um trecho da música Amigo. Erasmo, então, devolveu o carinho. “Roberto é uma pessoa maravilhosa, um cara que mudou de uma certa forma a minha vida. Além da amizade da gente, da parceria, a gente é compadre também. E ele é o meu exemplo de homem no mundo. Sem me ensinar, ele me ensinou um monte de coisas, sabe essa fé, essa positividade que ele tem, esse amor imenso. Vendo ele, aprendi todas essas coisas. Agradeço muito a ele essa parceria maravilhosa que a gente tem tido esses anos todos. Fico muito feliz de o ter conhecido, de estar no momento certo, na hora certa, da gente ter se encaixado tão bem nesse casamento musical maravilhoso que a gente tem”, completou o Tremendão, antes do programa finalizar com ele cantando Panorama Ecológico, parceria dele com Roberto, sobre o meio ambiente.

No início do programa, Erasmo já tinha relembrado o início de carreira, o encontro dele com Tim Maia (1942-1998), Jorge Ben Jor e com Roberto, no bairro da Tijuca. “Onde eu morava tinham 23 casas, todas com rádios ligados, então, cresci ouvindo cantores como Ângela Maria (1929-2018), Francisco Carlos (1928-2003), Luiz Vieira (1928-2020), Dorival Caymmi (1914-2008), pessoas que fizeram a minha cabeça”, disse. Falou da sensação ao ouvir pela primeira vez o cantor americano Bill Haley (1925-1981) cantando Rock Around The Clock. “Foi uma libertação imediata, parecia que eu tinha descoberto Deus, religião, fiquei petrificado”, contou.

“Não imaginava chegar nessa idade. Eu sou um cara completamente otimista, positivo, não admito derrotas”, ressalta o cantor e compositor (Foto: Reprodução Instagram)

Bial lembrou como a turma da Jovem Guarda foi criticada pelo pessoal da MPB por conta da alienação na época do Golpe Militar de 1964. “Sinceramente, estávamos mais preocupados com os carros e as garotas. Estou respondendo por mim. Só vim a saber mais das coisas que estavam acontecendo aqui quando fui cantar no Chile. Ninguém era politizado. Minha formação era de histórias em quadrinhos, sabe, não frequentávamos universidades. Éramos meninos que gostávamos de jogar bola, saltar pipa. Acho que acabaram entendendo isso. Na época, era uma rixa chata”, relembrou. Wanderléa, a Ternurinha, que formou com Roberto e Erasmo o trio principal da Jovem Guarda, também está aniversariando, hoje. Ela festeja seus 75 anos.

Bial falou ainda sobre os 50 anos de um disco dele considerado antológico, o Carlos Erasmo, de 1971. “Tem um detalhe engraçado. Toda a imprensa, todo mundo elegeu esse disco com este marco na minha vida, o disco que Erasmo ficou adulto. Mas isso eu considero que isso aconteceu com o disco anterior, o Erasmo Carlos e os Tremendões, onde comecei a pensar em ser adulto. Nele, gravei músicas como Saudosismo, do Caetano (Veloso), o Sentado A Beira do Caminho, Coqueiro Verde. Estava ensaiando, ensaiando para crescer, para sair do beabá da Jovem Guarda e entrar para a universidade. Pra mim, esse disco é muito mais importante que o Carlos Erasmo, que já foi uma consolidação do meu crescimento”, aponta.

“Em nenhum momento eu lamentei e perguntei a Deus: Por que eu? Isso é muito comum e é horrível, o máximo do egoísmo da humanidade”, pontua Erasmo (Foto: Reprodução Instagram)

No disco de 1971, havia a música Maria Joana, como chamavam maconha na época. “Eu já tinha experimentado maconha, só, inclusive, esse disco foi uma influência disso. Eu estava em Israel (ele estava rodando o filme Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa), onde em uma boate ouviu uma canção que repetia I Like Marijuana, ai falei vou fazer algo parecido para lançar no Brasil”, divertiu-se.

Ainda nesse mês de junho, a Globoplay vai exibir um especial sobre Erasmo, que está sendo finalizado pelo Conversa.Doc. Quando puder, Erasmo planeja turnê com repertório da Jovem Guarda. E nessa última madrugada, logo após Conversa do Bial, a Globo o homenageou exibindo o filme Minha Fama de Mau, em que o ator Chay Suede interpreta o Tremendão.