“Em um mundo bélico, nas mãos as flores”, frisa o cantor, compositor e multi-instrumentista Rodrigo Suricato


Em seu terceiro disco de estúdio, o mais autoral de sua carreira, ele entrega um trabalho que tem no social e na natureza humana fontes de inspiração

O cantor acaba de lançar o trabalho mais autoral de sua carreira (Foto: Divulgação)

O cantor acaba de lançar o trabalho mais autoral de sua carreira (Foto: Renan Oliveira)

*Por Iron Ferreira

“O pior de mim está na mesma mão que trago flores pra você”. O verso da canção “Na Mão as Flores”, décima faixa do álbum homônimo, o mais recente lançamento de Rodrigo Suricato, disponível em todas as plataformas digitais, resume bem o tom e a principal fonte de inspiração para o trabalho: a natureza humana. Desde a aparição meteórica na primeira temporada do programa Superstar, exibido pela TV Globo, em 2014, até se tornar integrante de uma das bandas mais prestigiadas do cenário musical brasileiro, o Barão Vermelho, em 2017, ele acumulou experiências que o trouxeram até a fase mais frutífera de sua carreira. O novo projeto propõe uma sonoridade mais pop e eletrônica.

Capa do disco “Na Mão as Flores” (Foto: Renan Oliveira)

Em conversa com o Site Heloisa Tolipan, o vocalista multifacetado, vencedor do Grammy Latino, em 2015, de melhor álbum de rock brasileiro com o CD “Sol-Te”, contou que a realidade polarizada e pautada pela violência social o inspirou a tentar mostrar, através de suas composições, que estamos todos no mesmo barco: “O nome do disco tem muito a ver com o contexto social em que vivemos. Com tantas arminhas nas mãos e uma realidade bélica, o álbum vem para mostrar que estamos todos do mesmo lado. Esse trabalho é fruto de um profundo entendimento de que toda arte é uma maneira de fazer política. Porém, nem todos os soldados são adeptos da violência”.

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O cantor revelou que tudo nasceu de um profundo olhar interior. Segundo ele, a leveza das melodias ajuda a compreender também a profundidade. “É um trabalho completamente autoral. Eu quis dar uma repaginada no estilo de música que eu fazia. Quis trazer uma pegada mais pop, mais contemporânea para esse novo trabalho. Ele foi produzido por mim e pelo meu amigo Marco Vasconcellos, que ajudou nesse processo de imersão. Foi um processo de autoanálise muito profundo”, afirmou. Rodrigo ainda exaltou a importância do trabalho na sua trajetória e a forma como ele contribuiu com a evolução do seu lado artístico: “Eu gosto de fazer o meu trabalho como uma forma de me desenvolver artisticamente. Não gosto de ficar parado em uma zona de conforto, e acho que esse disco é isso. É, indiscutivelmente, um divisor de águas na minha carreira”.

Uma das surpresas do novo disco é a regravação da canção “Como Nossos Pais”, clássico na voz de Belchior (1946-2017). Inspirado pelo trabalho do cearense, Suricato reafirmou a influência do artista em sua música. “Belchior sempre foi um apaixonado por blues. Eu acredito que o momento político e social tenha me estimulado a gravá-la. Me identifico muito com a frase “Qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa”. Isso mostra que a vida humana é maior do que qualquer arte. Como o meu disco retrata a natureza humana e a forma como ela se comporta, me sinto inspirado pela canção”, enfatizou.

O cantor se apresentará sozinho e tocando diversos instrumentos simultaneamente em sua nova turnê (Foto: Renan Oliveira)

Embalado pelo conceito de one man band, no qual o músico toca vários instrumentos simultaneamente, ele adianta que trará essa referência para os shows da nova turnê, que fará sua estreia no dia 20 de agosto, no Theatro NET Rio, em Copacabana. “O grande barato desse show é que eu vou estar sozinho no palco, diferente do que as pessoas estão acostumadas. Eu toco inúmeros instrumentos ao mesmo tempo, o que traz uma sonoridade muito interessante”, disse.

Apesar da rotina agitada, se dividindo entre inúmeros projetos, o artista revelou que consegue acompanhar a nova geração de músicos e que a internet ajuda nesse processo. De acordo com ele, vivemos na era musical mais fértil do país e apesar de muitas pessoas acharem que alguns gêneros estão desaparecendo, isso é apenas um reflexo da grande quantidade de ofertas: “Sou muito curioso em relação aos trabalhos dessa nova geração. Admiro muito o trabalho de alguns artistas contemporâneos. Entre eles, Rubel, Letrux, Melim e Cícero. Acho que tem muita coisa boa acontecendo. Conseguimos ecoar nossa obra artística de maneira mais rápida e fácil. Afinal, é a primeira geração que consegue escolher o seu próprio entretenimento e que não fica refém dos veículos de massa. O rap e o hip hop ocupam o espaço, hoje, que o rock ocupou nos anos 80, através da contestação e da contracultura. Ao mesmo tempo é encantador saber que nunca se produziu tanta música boa como hoje no Brasil. Muitas pessoas acham que o samba está acabando, ou que o rock está acabando. Pelo contrário, hoje temos milhões de vertentes para escolher. São vários lançamentos a cada semana”.

O artista falou sobre a realidade política do país e como isso o inspira a compor (Foto: Renan Oliveira)

Rodrigo comentou também sobre a opção que muitos cantores fazem pelo lançamento de singles e EP’s ao invés de álbuns. Ele acredita que isso acontece pela impossibilidade que alguns artistas possuem de contemplarem uma obra completa com sua visão, optando por divulgações mais rápidas: “A única coisa que me entristece hoje é o fato de que muitos artistas estão optando pelo lançamento de singles ao invés de discos. Não acho que o CD esteja morrendo. Porém, é difícil se fazer entender em uma obra completa, muitos não conseguem. Eu queria que eles pensassem no conjunto da obra e não em uma coletânea de soluços”.

Rodrigo conclui afirmando que “Nas Mãos as Flores” é um sopro de esperança diante de um conturbado cenário social. Apesar da sua notável insatisfação com a atual realidade brasileira, ele acredita que a sociedade irá caminhar para um futuro mais harmônico. O vocalista também completou dizendo que são períodos conflitantes, como esse, que ajudam a instigar a imaginação: “Tudo alimenta a arte! Momentos de crise, como o que vivemos hoje estimulam a criatividade. A humanidade está discutindo relações e acredito que, ao final, caminharemos para uma realidade melhor. As mídias sociais, por exemplo, ajudam a reverberar essas opiniões”.

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