Se tem uma coisa de que os fãs de Zélia Duncan não podem reclamar é da falta de oportunidade de ver a artista no palco. A cantora, que lançou recentemente seu primeiro álbum de samba, intitulado “Antes do Mundo Acabar”, e segue em turnê pelo Brasil com o monólogo musical “ToTatiando”, comemora um total de 35 anos de carreira – e 26 anos do lançamento do seu primeiro disco “Outra Luz”. Em uma entrevista exclusiva ao HT, ela conta que o feminismo, mesmo que concentricamente, foi fundamental para os rumos de sua carreira.
“Acho que o feminismo é a coisa mais humanista que a gente tem hoje. O feminismo alivia, ele me acalenta. Acho que o empoderamento foi muito importante pra mim e pra minha carreira. É um oásis que eu nunca tinha mirado da maneira que eu miro hoje”, disse. “Tanto para homens quanto pra mulheres, é a grande solução. É a grande inteligência que a gente pode ter”, destacou.
Apesar de ser mais conhecida como uma cantora bem-sucedida da nossa MPB, Zélia também tem se aventurado, há anos, pelos teatros da vida. A artista, que também é formada pela CAL (Escola das Artes de Laranjeiras – RJ) e já foi dirigida por grandes nomes da dramaturgia, não define o espetáculo “ToTatiando” como um musical. “Tá lindo! Consegui, graças aos céus, o patrocínio da Vivo enCena e vamos fazer 10 cidades pelo Brasil. Ele não é um show nem é um musical. Eu gosto de que quem vai assistir dê a definição”, revelou, aos risos. “Costumo dizer que não é show, mas é música. E, na verdade, gosto de pensar que é mais teatro do que música”, admitiu ela, que ainda aproveitou para explicar melhor a questão. “Antes de mais nada, sou uma intérprete musical, com muito orgulho”, comenta. “Mas se tornou parte da minha experiência como artista me lançar em outras aventuras, que possam representar um desafio, que possam me levar ao inusitado e a algo novo”, ponderou.
Ainda segundo ela, a música foi a base dessa produção. Em vez de músicas feitas para teatro, é o teatro que é feito a partir das músicas. “A proposta é representar algumas das músicas de Tatit, onde eu e minha preciosa diretora (Regina Braga) enxergamos possíveis personagens ali”, explica Zélia.
Entretanto, voltando ao mundo dos discos, Zélia conta que vem flertando há tempos com a pegada do samba. Depois de estudar as obras de Itamar Assumpção no disco “Zélia Duncan Canta Itamar Assumpção – Tudo Esclarecido” (2013), ela segue em turnê com seu primeiro trabalho no gênero. “Antes do Mundo Acabar” reúne 14 faixas, sendo nove deles inéditas, a quase totalidade parcerias da intérprete com Pedro Luís, Ana Costa, Bia Paes Leme, Zeca Baleiro, Arlindo Cruz e Xande de Pilares – que assina três faixas com a cantora.
“Ninguém se torna sambista. Quem observar um pouco verá que sempre estive perto, sempre participei de muitos projetos de samba e me senti feliz e à vontade. Apenas segui minha intuição, depois de alguns fatos e parcerias, senti que era agora”, adiantou ela que ainda contou como surgiu a amizade com os bambas do samba. “Na turnê do Prêmio da Música Brasileira, me aproximei de Arlindo, ficamos amigos. Já o Xande é mais recente, mas é paixão, já fizemos várias músicas”, revelou.
No entanto, quando o assunto é política a cantora não se esquiva e se mantêm categórica em sua opinião. “Eu sou contra o impeachment. Eu não defendo o governo porque seria uma coisa insana e difícil de se fazer. Houve muito erro num lugar, que a gente que acreditava, não esperava. Eu estou muito decepcionada com o governo. Foi uma decepção imensa. Mas sou contra o impeachment. Acho que não é a melhor maneira de se resolver isso. Fiquei muito deprimida no dia seguinte com o espetáculo de horrores que a gente viu”, contou ela referindo-se à votação na Câmara dos Deputados sobre o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Questionada sobre o cenário da indústria musical, a artista é otimista e pondera que há espaço para todos os ritmos e estilos musicais e que a tecnologia veio, também, para facilitar a divulgação de novos cantores. “Não sei se todo mundo vai aparecer como gostaria, mas eu acho que quem tem alguma coisa pra dizer, acaba achando um lugar pra fazer isso. Não significa que seja o lugar mais justo, mas cabe a nós acharmos esse lugar”, disse. “Nós músicos somos formigas, operários, a gente não pode abrir mão do que a gente ama”, completou.
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