*Com Yuri Hildebrand
A luta por direitos iguais é antiga. Desde 1848, na primeira onda feminista da história, até aqui, muitas mulheres batalharam para ter um maior reconhecimento na sociedade. E é graças às suas conquistas que podemos ver hoje uma mulher desbravando águas que até pouco tempo eram exclusivamente masculinas. E uma das artistas brasileiras a mais defender essa jornada é Pitty, a baiana mais querida dos roqueiros, que voltou e voltou muito bem, obrigada. Com seu novo álbum, “SETEVIDAS”, ela aumentou o peso do gênero, abraçou ritmos afro-brasileiros e foi até o Velho Continente para pôr a cereja no bolo. Com a mixagem de Tim Palmer (responsável também pelo clássico “Ten”, do Pearl Jam), o CD adquiriu uma pegada única que mexeu com os fãs. E, no Circo Voador, todo esse peso se fez presente inclusive nas músicas mais antigas da cantora, mostrando que ela inovou na proposta de som, mas mantém a mesma atitude de sempre.
Pitty – “SETEVIDAS”
O público estava bem ansioso por esse encontro, como era de se esperar. Jorge e Ana Loureiro foram curtir a baiana e retratavam bem essa expectativa. Fã antigo, ele comentou sobre a música que leva o mesmo nome do CD: “‘SETEVIDAS’ é sensacional, tem um refrão bem interessante”. Ana, por sua vez, debutava em shows da cantora; nada que diminuísse sua admiração pela mesma: “Não tenho uma música predileta. Todas elas me agradam muito!”. Outra fã presente foi Linda Ramalho, filha do lendário Zé Ramalho. “Ela voltou muito bem! Amadureceu bastante musicalmente, algo que não acontece com muitos artistas”, declarou a moça sobre o último álbum de Pitty. Reconhecendo “Equalize” como a principal faixa da carreira da baiana, ela lembrou de quando era pequena e ia a seus shows no Canecão: “Fui a um show dela quando eu tinha dez anos. Muito bom!”.
Com tantos elogios para a música homônima ao álbum lançado no ano passado, não haveria escolha melhor para começar o show. “SETEVIDAS” abriu o espetáculo e diminuiu ainda mais os espaços na plateia. Com um público extremamente caloroso, a baiana tocou um antigo sucesso para incendiá-los ainda mais: “Anacrônico”, do álbum de mesmo nome, animou toda a galera presente, que bateu cabeça em um dos refrões mais grooveados do rock nacional. O show seguiu com mais sucessos, como “Admirável Chip Novo”, “Teto de Vidro” e “Memórias”. Em uma das interações com o público, Pitty pediu ajuda aos presentes, que cantaram “Só Agora” em coro.
O som agravado conquistado com a experiência do último álbum fez-se presente em quase todas as músicas. Os riffs, que sempre foram bem trabalhados, ganharam um aspecto mais cru. Na música “Olho Calmo” – com visível influência de Pink Floyd –, alterna-se o peso do refrão com a leveza do riff principal, algo que também foi adicionado com maestria pela banda aos antigos hits como “Pulsos” e “Me Adora”. No momento mais alto do show, Pitty lembra o público da importância do dia de hoje: “Queria dedicar esta música para todas as mulheres. Não é um dia de trocas de presente, e sim um dia de luta! Vamos viver iguais, masculino e feminino!”. E qual música ela tocou? Sim, a mesma que Linda Ramalho havia dito ter sido a principal de sua carreira, “Equalize”. Logicamente, o coro foi mais alto que a própria baiana, que chegou a parar e deixar o público fazer a sua parte. “Fiquei até arrepiada. Vocês são foda!”, gritou a roqueira após outro coro emocionante durante “Na sua estante”.
Após apresentar “Máscara”, a baiana agradeceu bastante ao público pelo show à parte, além de prometer voltar outras vezes: “Amo esse lugar, e amo tocar nesse lugar!”. Encerrando, tocou “Serpente”, single do último álbum, que faz um resumo das influências da banda nesse período. Um pouco mais experimental, Pitty continua com seu nome cravado como expressão da mulher no rock brasileiro contemporâneo. E seu reinado, reforçado pelo recente amadurecimento de seu som, provavelmente ainda vai durar bastante.
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