Em show histórico, O Rappa toca antigos sucessos e músicas do último CD, levando um Barra Music lotado ao delírio


No templo do Funk Carioca, banda liderada por Falcão exibe a pluralidade de seu estilo, que leva as críticas sociais a todos os segmentos da população em forma de música

*Com Yuri Hildebrand 

“Sim, é logo ali o horizonte”. A música que abre o último CD d’O Rappa diz muito do que prega a banda, a qual já está na estrada há quase 20 anos. As mazelas sociais, os casos de corrupção e o que assola o cotidiano nosso de cada dia sempre foram e são criticados constantemente nas letras de toda a carreira do grupo. Na noite desta quinta-feira (15/01), a mistura de estilos característica do grupo tomou o palco do Barra Music, fazendo o público refletir (e curtir) na forma de rock, reggae, rap e, uma “novidade” desde 2013, dubstep.

Arrastando multidões, a turnê da banda, referente ao disco Nunca tem fim…”, é um sucesso. Desde seu lançamento, milhares de pessoas já presenciaram o show de luzes, sons e imagens. Paulo Nascimento, junto de seus amigos, é um dos fãs mais assíduos. Ele, inclusive, pretende repetir a dose indo ao show da banda semana que vem em São Paulo (24/01). “Já ouvi todos os álbuns, e esse com certeza é um dos melhores” , disse sobre o recente lançamento. A facilidade d’O Rappa em cativar o público vem muito de sua originalidade. Por exemplo: antes da entrada de Falcão, Xandão e Lauro Farias no palco, o parceiro do grupo nessa nova fase – mais experimental e com um quê de dub –, DJ Negralha, chamou para si a responsabilidade de aquecer a plateia com scratches e samples, aliados à bateria de Marcelo Lobato. Considerando que logo após a apresentação de um DJ, os mesmos músicos tocam hits como “Me deixa” e “Pescador de ilusões”, pode-se afirmar que qualquer um presente ali curtiria o show, em pelo menos algum desses momentos.

Paulo Nascimento (de camisa branca) curtindo o show do ídolo com o grupo de amigos (foto: Mariana Damous)

Paulo Nascimento (de camisa branca) curtindo o show do ídolo com o grupo de amigos (foto: Mariana Damous)

Após horas de espera, o público ficou em êxtase com a entrada de Michel do Passinho, na música “Auto-Reverse”, que abriu a noite. Como no clipe, o jovem dançarino – que é deficiente físico e exemplo de superação – fez o que sabe com maestria. A agilidade dos pés e a força nas pernas seguiam com facilidade a melodia, encaixando bem as duas formas de arte e inspirando os presentes a fazerem o mesmo. Em pouco tempo, todo o Barra Music estava se movendo no ritmo da música. Seguindo o balançar dos corpos, a banda tocou Homem amarelo”, desacelerando um pouco o compasso e voltando ao rock&reggae de outras épocas. Como se espera de um show d’O Rappa, o coro foi grande e a animação imensurável. Mas, um pouco mais tarde, o clima se transformou: ao som de “Cruzes de tecido” música que homenageia as vítimas do acidente no Aeroporto de Congonhas em julho de 2007 –, Falcão relembrou a tragédia com uma letra que faz refletir sobre a real causa da pane, dando um tom emotivo à apresentação.

Clipe oficial de Auto-Reverse

Logo após o momento mais tocante do show, veio o mais animado: ao som de todas as vozes na casa, o grupo apresentou “Me deixa” e “Vapor barato”. O público ávido pouco se importou com o horário – que já havia entrado madrugada adentro – e pôs-se a cantar em plenos pulmões, sobressaindo-se até em relação ao som da casa. Seguiu-se uma homenagem a Luiz Gonzaga, comSúplica cearense”, e o grande hit “Lado B Lado A”, do álbum homônimo. Em outro momento interessante, a plateia recebeu balões vermelhos cheios de confete, que foram estourados durante a música “7 Vezes”, compondo o espetáculo de luzes da casa. Com o show já caminhando para o fim, DJ Negralha assumiu um dos microfones e mostrou ser um bom freestyler, improvisando com Falcão em “Meu santo tá cansado”. Após a apresentação de rap, é hora de uma homenagem ao mestre da black music brasileira. Cantando “Você”, O Rappa lembrou de um dos personagens mais revereciados nos palcos em 2014: Tim Maia. O eterno ídolo da MPB vem recebendo tributos constantes nos shows de artistas brasileiros desde o lançamento do filme biográfico que leva seu nome e tem direção de Mauro Lima. Seguindo nos hits, a banda voltou às suas músicas com “Pescador de Ilusões”, “My Brother” e “Linha Vermelha”, esbanjando todo o seu virtuosismo nessa nova fase mais experimental.

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Conhecidos pelas críticas, os músicos d’O Rappa também desenvolvem o crescimento cultural de seus fãs. O ator Guina Coelho, que já participou de Malhação e está garantido no longa “Brincando com a Vida”, de Cauê Bonifácio, ressaltou a importância da banda da qual é fã para o Brasil em geral. “O Rappa já tem uma estrada e trabalha a cultura de forma surreal; no vídeo de ‘Auto-Reverse”, a participação do Michel (do Passinho) é importantíssima. São artistas completos que fazem um retrato da sociedade. Eles não deixam o brasileiro perder seus valores culturais”, disse ao HT. Com o social em primeiro plano, a música molda a mensagem para algo que seja mais leve e que possa ser digerido por qualquer um que a ouvir. Citando o sucessoMinha Alma (a Paz que eu não quero)”, Falcão e seus parceiros têm certeza de uma coisa: “paz sem voz não é paz, é medo”. E essa voz, O Rappa sabe propagar muito bem.