Ana Carolina, um banquinho, um violão, um teatro na Barra… Tudo, aparentemente, muito calmo, certo? Erradíssimo. A cantora mineira que começou sua carreira com esse formato e arrebatou o Brasil com seus versos de amor, voz rasgada e postura de predadora romântica e virou gigante, resolveu voltar aos primórdios para essa turnê batizada “Solo” e incendiou a casa de espetáculos do frio, quase gélido, VillageMall.
Aliás, em entrevista exclusiva ao site HT, a cantora falou sobre essa volta ao passado: “Ao longo desses 16 anos de carreira, experimentei diversas formas de shows, parceiras, formatos de banda. Fiz uma viagem no tempo em que era apenas eu e meu violão, quando o descobri, quando me descobri artista e fui à luta em busca do sonho de fazer da música meu ofício”.
Com uma plateia de fãs enlouquecidos, que gritavam sem parar adjetivos impublicáveis para a cantora discreta com um look preto sob um blazer azul e óculos de grau, Ana investiu na intimidade de estar sozinho no palco para contar casos, fazer piadas e até dar suas cutucadas políticas. “Acho que o problema de Eduardo Cunha e Dilma é amor. Eles são apaixonados um pelo outro”, brincou Ana, em um dos muitos momentos em que abordou o tema política em seu show.
Ora mais explícito, quando recriou o hino nacional inserindo as mazelas do Brasil contemporâneo transformando o ufanismo em versos mais cínicos, ora pela tangente, quando soltou o vozeirão para cantar a inédita “Qual É?” que trata de homofobia e perseguição às minorias. Sem falar na versão de Ana para “Nomes de Favela”, de Paulo César Pinheiro, e “Xeque-Mate”, de Edu Kriger, que tem em seus versos uma contundente defesa do direito das mulheres ao aborto e à legalização dos entorpecentes.
Mas nem só de palavras de ordem vive o novo show de Ana Carolina, que, é preciso dizer, tem um desenho de luz tão lindo que deixa a gente quase hipnotizado e que faz um competente pano de fundo para a cantora. Ana, além de cantar alguns de seus hits com “Garganta”, “É Isso Aí”, “Nua”, “Pra Rua Me Levar” e “Rosas” ainda recria canções clássicas de outros artistas, como “O Que É Que Há”, um clássico de Fábio Junior, “Coração Selvagem”, de Belchior, “Linha de Passe”, de João Bosco, “Erva Venenosa”, de Rita Lee e até uma versão de “Hoje”, hit defendido por Ludmilla, definido por Ana como “uma música bem fofinha”.
Tudo junto e misturado, o único senão talvez seja a falta de uma linha condutora do repertório que atira para todos os lados com rupturas bruscas de ritmo e temática transformando o setlist em uma colcha de retalhos. Nada que impeça Ana de chegar ao coração da plateia, é claro, nem passar o seu recado, mas uma reestruturação do roteiro se não cairia bem, ao menos, contaria a história de uma forma mais suave. Mas, talvez, suavidade não combine tanto assim com uma das cantoras mais poderosas – em todos os sentidos – do Brasil.
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