Em momento confiante da carreira, Thiaguinho fala de racismo e de mercado: “Nossa profissão é vista de uma maneira não tão respeitosa”


O cantor conversou com HT antes de estrear nova turnê no dia 29 de agosto no Citibank Hall, no Rio de Janeiro. Na entrevista, ele disse que “todo negro no Brasil já sofreu preconceito e ainda continua sofrendo” e que procura ser “uma eterna mudança”

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Dentre várias, duas problemáticas rondam a cena musical brasileira: o repasse justo pelos direitos autorais a compositores e a remuneração aos artistas por reproduções de suas canções pelos serviços de streaming musical (Spotify, Deezer, Rdio, Tidal, Itunes, etc) e pelo Youtube (lê-se a mantenedora Google). Nessa linha, um número apurado pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) e compartilhado por Jorge Vercillo com HT alarma a situação: cerca de 40% das grandes rádios brasileiras estão inadimplentes no que se diz respeito ao pagamento de direitos de execução. Diante esse cenário, batemos um papo com Thiaguinho, um dos maiores nomes do samba e do pagode brasileiro, que toca em dez a cada dez grandes estações, tem álbuns disponibilizados na íntegra em quase todas as plataformas e clipes que acumulam milhares de acessos no Youtube.

O paulista de 32 anos é pé no chão e não faz vista grossa à realidade por qual seu meio vive. Ele se sente honrado por fazer parte da vida de tantos brasileiros por causa de sua música, mas reconhece que nem tudo são flores. Aliás, haja espinhos. “Acho que a nossa profissão, em todos os sentidos, é vista muitas vezes de uma maneira não tão respeitosa. O compositor, por exemplo, não pode exercer somente essa profissão. Dificilmente um profissional com esse perfil consegue viver só de composição, pois ele não recebe o dinheiro que seria necessário ou justo”, reconheceu. Admitindo que as coisas precisam melhorar, Thiaguinho encara a tal internet como uma faca de dois gumes.

“Tem o lado da ilegalidade, que antigamente não se pagavam os direitos de uma música e isso acabava prejudicando os compositores. Mas acho que, hoje em dia, a questão da legalização das músicas na internet avançou muito e nós, profissionais, já estamos recebendo por isso”, ponderou. O outro lado que Thiaguinho se refere é o da internet enquanto ferramenta para o bem. “Ajuda bastante a divulgar a música de um determinado artista, mostrar seu trabalho, principalmente aquele que não tem dinheiro para gravar e entrar nesse mercado tão competitivo financeiramente, que é o da música”.

O caso dele, logicamente, é esse segundo, já que o cabtor usou da internet para se catapultar e ainda consegue, por meio dela, se dissipar cada dia mais. Prova disso é que a carreira solo, iniciada em 2012 após deixar o grupo Exaltasamba, vai ganhar uma nova turnê no dia 29 de agosto no Citibank Hall, no Rio de Janeiro. No repertório, canções que marcam a nova fase da carreira como “Hey, Mundo!” e “Pra que viver neste mundo”, além de outros hits bem conhecidos pelos fãs. Aliás, em “Hey, Mundo!”, título de seu mais recente CD, ele canta: “Finalmente encontrei a paz e a felicidade mora aqui”. Se Thiaguinho fala dele mesmo?

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“Estou muito realizado e feliz com tudo que estou vivendo. Deus é muito generoso comigo. A evolução é constante e não podemos parar. Me sinto honrado e feliz em ter minha música bem aceita pelo povo brasileiro. É assim que me sinto atualmente”, compartilhou. O momento é propício para novas aventuras musicais. “Procuro ser uma eterna mudança. Principalmente para quem acompanha o meu trabalho, acho importante ter esse diferencial a cada disco que passa. Eu considero esse álbum como o mais maduro da minha carreira. Tem o pagode ‘pra frente’, as lindas músicas românticas, a mistura do samba com o R&B, com o rap… Estou bem confiante que esse disco seja um dos grandes sucessos da minha carreira”, se auto avaliou.

Ouvindo o disco, HT percebeu que “Pra Que Viver Nesse Mundo”, por exemplo, tem um arranjo diferenciado, um rap e uma melodia muito pop. “Seria um Thiaguinho não mais puramente pagodeiro?”, lançamos. “É uma sonoridade que me agrada bastante e que pretendo usar por muito tempo ainda. Hoje em dia, já tem uma galera que identifica esse elemento junto com o meu pagode”, amenizou. Questionado se o mercado é quem pede essa junção de pegadas, o marido de Fernanda Souza mudou o foco. “Não gosto de definições porque limita. E música não tem limites! Consegui encontrar uma maneira legal e particular de fazer minha música e a galera se identificou com o som”.

Fazendo surpresa se vem um novo clipe por aí ou não, o pagodeiro está em seu melhor momento. Se assusta com fãs que tatuam seu rosto ou seu nome e evita fazer comparações de sua fase solo com a do Exaltasamba, mesmo quando instigado. “Não faço nenhuma distinção da carreira solo com a de grupo porque sempre fiz tudo com muito amor, empenho e alegria. Continuo sendo a mesma pessoa e a luta é a mesma. A gente sabe que na música tem festa, mas se não levar a sério, não rola”. Jurado da última edição do “SuperStar”, consagrando-se técnico vencedor com a dupla baiana Lucas e Orelha, ele desconversa se continuaria no cargo caso convidado, mas é grato pela oportunidade.

Gratidão essa que é dobrada. Explicamos: Thiaguinho participou do reality musical “Fama”, apresentado por Angélica, e não foi campeão. Agora, ele faz parte da equipe de um formato parecido, mas como técnico. É aquela história: a vida é uma caixinha de surpresas. “Sou fruto de um reality show e se eu não tivesse tido essa oportunidade, acho que não seria o que sou hoje. Isso serviu como exemplo para os candidatos, para eles saberem que é possível participar de um programa desses, não vencer e conseguir um espaço na música”, disse.

E já que Thiaguinho tocou no assunto oportunidade, questionamos se o fato de ele ser negro já o privou de alguma oportunidade ou até mesmo se ainda sente o racismo – infelizmente tão latente na nossa sociedade. “Todo negro no Brasil já sofreu preconceito e ainda continua sofrendo. Mas nunca fui impedido de realizar algo por isso. O preconceito hoje é muito menor, mas infelizmente, ainda rola. Isso só se muda com postura e conduta limpa”, finalizou cheio da razão.

Serviço:

Thiaguinho com “Hey, Mundo”

Data: Sábado, dia 29 de agosto de 2015.
Horário: 22h30.
Local: Citibank Hall – Av. Ayrton Senna, 3000 – Shopping Via Parque – Barra da Tijuca.
Capacidade: 3.120 lugares.
Duração: Aproximadamente 1h40.
Classificação etária: 14 e 15 anos: permitida a entrada acompanhados dos pais ou responsável legal. 16 anos em diante: permitida a entrada desacompanhados.
Vendas: No Citibank Hall, diariamente, das 12h às 20h.