Em meio às comemorações de 30 anos de carreira do Biquíni Cavadão, Bruno Gouveia diz: “Esse populismo atual é nojento. Precisamos de gente honesta”


Antes do grupo se apresentar no dia 5 de março, na Área de Eventos do Shopping Vila Velha, no Espírito Santo, Bruno analisou as mudanças da indústria fonográfica com o passar das décadas: “Acho que houve uma melhora para o artista na medida em que passa a ser mais dono de seu negócio, mas o lado ruim, é que isso envolve tanto trabalho que, se você não tomar cuidado, acaba se esquecendo de ser artista”

“Quem foi que disse que Deus é brasileiro? Que existe ordem e progresso, enquanto a zona corre solta no Congresso? Quem foi que disse que justiça tarda mas não falha?”. Esses versos, da música “Zé Ninguém”, eram entoados pelo Biquíni Cavadão no começo da década de 90 e refletiam o cenário político do país. Agora, quase duas décadas depois, eles continuam….valendo. “Sempre acreditamos que ‘Zé Ninguém’ fosse uma música de momento, que, no final, o seu contexto político se perderia com o passar dos anos. Infelizmente não foi o que aconteceu. Sentimos a cada show que as pessoas não cantam, e sim, desabafam esses versos”, conta Bruno Gouveia, vocalista do grupo. Para ele, “um ladrão que desvia verba do povo para seu próprio usufruto acaba por desamparar a polícia, desequipar os hospitais, e não permitir a manutenção de estradas”, sendo, portanto, “o responsável indireto por milhares de mortes nas rodovias, na saúde, na falta de segurança”. “É o pior de todos os ladrões. Somos um país rico e capaz de fazer muito. Mas precisamos de gente competente e honesta. Este populismo atual é nojento”, reclamou.

O Biquini Cavadão está comemorando três décadas de rock (Foto: Divulgação)

O Biquini Cavadão está comemorando três décadas de rock (Foto: Divulgação)

Parafraseando “seu querido Frejat“, Bruno recorre aos versos de “Declare guerra”, do extinto Barão Vermelho: “Chega de passar a mão na cabeça de quem te sacaneia”. Esse papo, exclusivo com HT, acontece em meio às comemorações  de 30 anos de história do Biquíni Cavadão – contados a partir do primeiro show em que eles foram remunerados -, quando o grupo está em périplo pelo país com um repertório compilado de hits, batizado de “Me leve sem destino”. Um dos próximos shows – ao lado do grupo Nenhum de Nós – será no dia 5 de março, na Área de Eventos do Shopping Vila Velha, no Espírito Santo. “Temos orgulho de estarmos juntos por tanto tempo, vivendo do presente, não tendo apenas uma carreira nostálgica, mas criando novas músicas que embalem novas gerações. Nosso melhor momento é sempre o agora, pois ele consagra todas as nossas conquistas do passado. Claro que nem tudo foi um mar de rosas e tivemos momentos difíceis, especialmente entre 96 e 97, quando achamos que a banda poderia acabar em meio ao sucesso que o axé e o pagode faziam, mas soubemos dar a volta por cima”, relembra Bruno.

A seguir, o nosso bate-papo:

Bruno Gouveia: "Não pensávamos em fazer uma banda, estourar na mídia" (Foto: Divulgação)

Bruno Gouveia: “Não pensávamos em fazer uma banda, estourar na mídia” (Foto: Divulgação)

HT: Qual a ideia por trás do batismo “Me leve sem destino”?

BG: Acho que resume nossa vida. Não pensávamos em fazer uma banda, estourar na mídia, viajar pelos quatro cantos do mundo. Os bons ventos nos levaram. Claro, fizemos a nossa parte. E continuamos sempre a pedir que eles soprem.

HT: Vocês começaram a carreira em uma época em que os discos tinham muita força e agora completam três décadas no momento em que o streaming musical – Spotify, Deezer e cia – ditam as regras. Como avaliam essa mudança de comportamento da indústria musical? O que melhorou e o que piorou?

BG: A indústria tenta desesperadamente ganhar dinheiro do mesmo modo que ganhava há 20 anos com a explosão do CD, mas seus argumentos para isso foram todos por terra. Antigamente, as gravadoras detinham o monopólio de produção e quem fosse agraciado por pertencer a uma delas tinha que levantar as mãos pros céus. Ganhávamos pouco sob a alegação de que muitos discos encalhavam, havia perdas de produção fabril e de que eles faziam o CD, o marketing e vendiam. Tudo isso mudou. Hoje, os artistas gravam seus discos até em casa, sabem usar ferramentas online para divulgar seu trabalho e muitos não compram, apenas assinam o streaming. Ainda assim, os valores praticados por gravadoras são os mesmos. Acho que houve uma melhora para o artista, na medida em que passa a ser mais dono de seu negócio, mas o lado ruim, é que isso envolve tanto trabalho que, se você não tomar cuidado, acaba se esquecendo de ser artista.

HT: As composições do Biquíni não caminham numa linha tênue, ou seja, não são monotemáticas. Portanto, como vocês definem o público, o som e os temas que entoam?

BG: Não sabemos definir. Temos três compositores ativos no Biquíni Cavadão e gostamos também de compor com outros parceiros. Isso nos renova sempre. Gostamos de boas letras e boas melodias. Parece incrível que hoje você alcance sucessos que não tenha esses dois ingredientes, mas é verdade. Assim sendo, apostamos neste diferencial e ganhamos o público numa batalha que se trava diariamente. É sempre legal quando descobrimos um fã novo e se interessando pela nossa história e trabalho.

HT: Quem do, digamos, novo rock brasileiro, vocês curtem escutar?

BG: Dudy Cardoso (SP), Mafalda Morfina (CE), Seu Zé (RN), Versalle (RO), Suricato (RJ) são alguns nomes legais, mas o que não falta é gente boa. Só que voltamos aos tempos do garimpo. As pedras preciosas precisam ser descobertas em meio à lama.

Serviço

Data: 5 de março, sábado
Show às 21h30 (abertura dos portões: 20h30)
Local: Área de Eventos Shopping Vila Velha
Classificação: 16 anos.
Venda de ingressos: Blueticket – http://goo.gl/LQPKAx
Telefone: (27) 4062-9010