“É um reflexo de todas as fases da minha vida”, conta Rodrigo Vellozo, que lança álbum com muito blues e exaltação da liberdade


Filho de Benito di Paula, Rodrigo Vellozo, lança dia 2 de novembro, “Cada Lugar na Sua Coisa“, álbum com composições autorais e de seus ídolos musicais

As artes se complementam“, diz o intérprete, compositor, pianista e ator, Rodrigo Vellozo. Ele vai lançar o  álbum, “Cada Lugar na Sua Coisa“, dia 2 de novembro, mas sente como se tivesse encontrado sua natureza musical só agora. Filho de Benito di Paula, o artista bebeu dessa fonte desde cedo, e o considera sua maior inspiração. Quando criança, aos 4 anos, já gravava uma música da Campanha de Fraternidade com seu pai, começava a tocar piano e ouvia de tudo.

O artista tem dois discos no currículo, o “Samba de Câmara” (2009), uma mistura de samba com música erudita, e “Como é Bonito, Benito” (2013), uma homenagem aos 40 anos de carreira do pai. Em “Cada Lugar na Sua Coisa”, ele acredita que o contato com os palcos teatrais o fez seguir um novo rumo: “Entrei na carreira da música sendo filho do Benito, tendo essa grande referência, então já foi de uma maneira muito profissional. O teatro me fez ter contato com minha essência, do que eu sou como artista. Lá a gente se desconstrói e se reconstrói a cada trabalho, e isso faz com que eu conheça meu próprio ser. Eu comecei a querer buscar isso na música, onde será que isto está vibrando nesse campo. É como se fosse meu primeiro disco, nunca gravei algo de uma maneira tão inteira”, reflete o artista.

“Cada Lugar na Sua Coisa” é o terceiro álbum do cantor (Foto: Daryan Dornelles/Divulgação)

A música de Vellozo mescla sua voz aguda e doce, com o blues, mpb e pop. Como primeiro single, ele escolheu “Tão Fácil“, regravação do primeiro álbum de Marina Lima. Apesar de ser uma canção do final dos anos 1970, ela tem uma pegada super moderna, característica da cantora. “Marina faz parte do inconsciente coletivo do país inteiro. Eu me lembro ser moleque, minha mãe ouvindo rádio e a gente na piscina com a música dela. Ela é muito carioca, cosmopolita…’Tão Fácil’ tem um pé no blues, e o toque de liberdade no texto do Antônio Cícero, e da própria musicalidade da Marina, na maneira como ela canta, essa libertação. Hoje em dia, eu acho muito importante a gente reafirmar isso o tempo todo”, conta o artista.  

O carioca de 36 anos também conseguiu o parceiro dos sonhos na direção artística do álbum: Marcus Preto“Eu conheci o Marcus, porque ele era jornalista e eu sempre lia o que ele escrevia, mas a gente não se conhecia muito bem. Um dia falando com meu terapeuta, ele perguntou ‘Quem produziria seu disco?’ Na hora eu falei que seria o Marcus Preto. Ele tinha acabado de fazer o disco da Gal Costa, o “Estratosférica“. Sou super fã dela, e o Preto fez uma coisa mais pop, jovem, e muito artística. Eu mandei uma mensagem para ele pelo facebook e nos conhecemos. Começamos a se falar com muita calma dois anos atrás, não tinha uma pressão de fazer um disco, não existia isso. Era uma troca entre dois artistas. Fomos fazendo o repertório, realizei alguns shows de piano e voz, fui vendo o que funcionava, compondo e quando vi: eu tinha o repertório do álbum”, revela. 

O novo álbum tem composições autorais e interpretações de canções dos seus ídolos, um resultado da troca criativa entre ele, Marcus e Alexandre Fontanetti, que está na direção musical. Para ter esse trabalho de qualidade e que sempre desejou, Vellozo explorou sua veia artística ao máximo. “É uma mistura de vários compositores. Tem uma música do meu tio, o Jota Veloso, chamada “Arrego“, que foi gravada pela Elizeth Cardoso, lado B total. Tem a primeira música que compus, a única parceria que fiz escrita com meu pai, em inglês, uma baladona meio blues. Tem uma composição do Luiz Melodia, um cantor que ouvi na minha infância toda,  ainda o Sérgio Sampaio, que faz parte da minha formação musical. É muito pessoal, um reflexo de todas as fases da minha vida”, frisa.

Sobre ser o filho do cantor popular Benito di Paula, Vellozo não tem neuras e nem sente pressões por isso. A relação dos dois é a melhor possível, com muito carinho e admiração. Nesse disco, ele fala que o músico está presente de alguma forma, mas de uma maneira diferente. O distanciamento musical foi necessário para se redescobrir. “Eu precisava fazer um pouco longe do meu pai, embora a gente seja muito próximo. Eu faço shows com ele, acabamos de fazer uma turnê de piano e voz, só nós dois e foi incrível. Meu pai é meu melhor amigo, somos muito juntos na vida e na música. Só que eu precisava encontrar minha própria expressão. Na arte, renegamos algo e ao mesmo tempo, abraçamos”, explica. Alguns fãs de Benito também acompanham a carreira de Vellozo. “Uma parte deles gosta do meu trabalho, mas tem outra que não. Eu também entendo, meu timbre de voz é agudo, diferente, não sou exatamente um cantor tradicional, como ele é. Meu pai tem a voz grave, sempre admirei por isso, eu queria ter nascido com essa voz”, brinca. 

Apesar de viver intensamente o universo musical, Vellozo ainda tem um grupo com os amigos chamado “Companhia Teatro da Ilusão” em São Paulo,  e se dedica à carreira de ator. Ele já fez peças como “Fricção“, “Henrique V“, “Senhor das Moscas” e o show solo “Trágico“, que misturava teatro e música. “A gente que é artista nunca diz ‘não’ para nenhum trabalho”, diz, aos risos. “Eu estou ensaiando duas peças, acompanhando um processo de outra e ainda faço shows”, completa. 

Capa do single “Tão Fácil”, disponível em todas as plataformas digitais (Foto: Divulgação)

No seu novo disco, “Cada Lugar na Sua Coisa”, Vellozo não deixa de abordar provocações, ressaltando a necessidade de ser quem nós somos, sem medo, no cenário atual do país. “A gente vive um momento onde nossa liberdade está restrita. Essa semana eu tive amigos que foram agredidos por questões políticas. Meu disco se posiciona totalmente a favor da liberdade, de ser quem você é, de amar todo mundo, todas essas questões estão ali. Dá até um pouco de medo de tocar nisso, mas ao mesmo tempo é importante entrar em contato com o que a gente é enquanto sociedade. Na música “Trágico”, eu falo de uma maneira subjetiva, sobre o arquétipo, sobre nos inserirmos naquilo que é primitivo na gente, para percebermos que o outro que achamos que é tão diferente, na verdade é mais igual do que parece”, defende.

O single Tão Fácil está disponível no Spotify, Deezer, Tidal, e Apple Music