“É surpreendente votar e ajudar a definir quem vai ganhar o Grammy. A ficha demorou a cair”, ressalta Pedro Calloni


Multi-instrumentista, produtor e engenheiro de som, o filho do ator Antonio Calloni integra agora a Recording Academy, organizadora do venerado prêmio musical americano. “Estou muito feliz com tudo que eu conquistei até hoje e animado para o futuro”, vibra

* Por Carlos Lima Costa

Mais um brasileiro começa a se destacar e a ganhar espaço fora do Brasil. Aos 26 anos, o multi-instrumentista, produtor e engenheiro de som Pedro Calloni se tornou membro da Recording Academy e, agora, com muita honra, integra seleto grupo com direito a indicar candidatos e a votar na eleição que define os vencedores do Grammy Awards. “Quando me envolvi com música, nunca tive uma ambição de chegar a este ou a outro ponto específico. Comecei, porque gostava de tocar e de música. Fui dando um passo de cada vez e jamais imaginei que fosse desenvolver uma carreira, em Los Angeles, e muito menos que estaria votando no Grammy. Isto é bem surpreendente, bem fora da realidade. Quando soube, falei ‘legal’. Demorou muito para cair a ficha”, reflete ele, direto da Califórnia, com exclusividade, sobre o convite para participar da comissão julgadora.

Radicado nos Estados Unidos há seis anos, o filho do ator Antonio Calloni e da jornalista Ilse Rodrigues Garro viverá agora sua primeira experiência concreta na nova função. Todas as etapas de votação para definir os vencedores da 63ª edição da cerimônia anual, prevista para acontecer dia 31 de janeiro de 2021, serão realizadas entre os dias 30 deste mês e 7 de dezembro. “Estou muito feliz de estar aqui com tudo que eu conquistei até hoje e animado para o futuro”, assegura.

Concentração no trabalho, no The Village Studios, em Los Angeles (Foto: Divulgação)

Concentração no trabalho, no The Village Studios, em Los Angeles (Foto: Divulgação)

A novidade é motivo de muita satisfação para os pais. “Sinto um orgulho e um amor imenso pelo Pedro. Orgulho de como ele conduz a vida. É impressionante sua maturidade e alegria de viver. Ele é responsável e ao mesmo tempo curte muito a vida, tudo que ele tem com muita generosidade. Meu filho já está batendo as asas sozinho faz tempo, porque é superdedicado, superresponsável. Ele só me dá alegria. Pedro é realmente um orgulho para mim”, relata Antonio Calloni, emocionado.

Para ocupar a nova função, Pedro precisava primeiro ser indicado por dois membros. Este papel coube a Jeff Greenberg, proprietário e CEO do The Village Studios, e a gerente do local, a guitarrista, engenheira de som e produtora Tina Morris. Pedro bateu ponto neste estúdio durante três anos e, ainda hoje, executa alguns trabalhos lá. Por fim, precisava provar sua atuação na área. O que não foi nada difícil. Ele, por exemplo, mixou o disco The Lost Boy, do rapper YBN Cordae, indicado ao Grammy como melhor disco de rap, em 2019. Pedro já trabalhou em mais de 40 álbuns de artistas como John Alagia e Nas.

Pedro é multi-instrumentista (Foto: Divulgação)

Pedro é multi-instrumentista (Foto: Divulgação)

Envolvido sempre com trabalhos diversos e também por conta da pandemia do Covid-19, Pedro não vem ao Brasil desde outubro do ano passado. “Sinto saudades de estar com meus pais, com meus amigos, e do Rio de Janeiro, cidade que não tem igual no mundo. Felizmente, hoje em dia é fácil ligar para alguém com chamada de vídeo, o que ameniza as coisas. Quando estiver bastante seguro, der para viajar, eu irei lá”, explica o músico carioca, que não vive sozinho em Los Angeles.

Pedro mora com a namorada, a sul-africana Kelly Sayer. O músico e a jovem que tem a mesma idade dele, funcionária da gravadora Atlantic Records, se conheceram na faculdade Berklee College of Music, em Boston, onde ele cursou Music & Production & Engineering. Enquanto no profissional, ele vem ganhando espaço cedo, no lado pessoal não tem pressa. Vai demorar um pouco para Antonio e Ilse serem avós. “Moro com minha namorada, mas não sou casado e realmente não sou uma pessoa apressada em relação a nada.  Não fui nem com a carreira. Acho importantíssimo, porque tudo acontece naturalmente. Isso vale especialmente para criança, não tenho a menor pressa”, diverte-se.

Pedro não se considera um workaholic, mas não para. “Trabalho pelo menos 7, 8 horas por dia, final de semana também bastante, exatamente para conquistar meu espaço. É uma indústria competitiva. Uma grande vantagem que eu tenho também é de estar sempre disponível para os clientes. Então, termino algo e já tenho outra coisa nova, estou sempre com vários projetos ao mesmo tempo. Mas eu adoro, não há problema. Música também é diversão”, comenta. E que ninguém espere para vê-lo cantar. “Deixo esta parte para quem sabe”, assegura ele que foi morar em Los Angeles, depois de três anos e meio estudando em Boston. Hoje, tem seu próprio estúdio, em sua casa, mas também executa mixagens em outros locais como o Village e o EastWest Studios. “Neste último, o Frank Sinatra gravou, por exemplo, New York, New York”, ressalta.

A maior parte do trabalho de Pedro é relacionada a mixagem “Vim para cá estudar bateria inicialmente e tive meu foco em produção e engenharia de áudio. Toco bateria e arranho piano, guitarra, baixo, enfim, esse background de ser instrumentista, de tocar, acaba sendo valioso aqui. Já toquei em gravações de artistas como Jason Mraz e atualmente venho me apresentando com Sasha Sloan”, relata. Pedro é o engenheiro de mixagem de Only Child, primeiro álbum dela, que será lançado em 16 de outubro, cujo single Lie, alcançou a marca de dois milhões de streams em apenas uma semana. E tem acompanhado a cantora e compositora  americana em sua turnê tocando bateria. “Gosto de não perder esse lado de músico. Isso ajuda a tomar decisões em termos de mixagem, produção. Foi bem legal, viajar bastante, conhecer um monte de cidade e tocar ao vivo”, aponta. Ao lado dela, participou de gravação do programa The Tonight Show, apresentado por Jimmy Fallon. “Tinha uma tenda só para fazer teste do Covid fora do estúdio, tirar temperatura. Então, foi seguro na medida do possível”, conta e ressalta que a pandemia pouco afetou seu trabalho.

“Está bem complicado. No geral, pra todo mundo que mora aqui está uma coisa louca. Como deve estar no Brasil. Pra mim, pessoalmente afeta um pouco menos, porque tenho o meu próprio estúdio e tem muita coisa que eu posso fazer sozinho ou por videoconferência. E quando preciso fazer algo presencial, dá para limitar a um pequeno grupo e com protocolos bem rigorosos”, frisa ele.

Pedro com os pais, Antonio e Ilse (Foto: Arquivo Pessoal)

Pedro com os pais, Antonio e Ilse (Foto: Arquivo Pessoal)

Nos Estados Unidos, Pedro também tocou com Anitta algumas vezes. “Ela é a artista brasileira que tem chegado com mais facilidade para o grande público americano”, constata ele. Pedro, aliás, está sempre conferindo as novidades da canção brasileira no serviço de música digital Spotify. “Não quero perder o contato, tem sempre coisa boa acontecendo”, aponta.

O envolvimento de Pedro com a música começou sem a menor pretensão. Aos três anos, os pais o colocaram para fazer um curso de iniciação no Centro Musical Antonio Adolfo. “Era para eu me familiarizar com música, mas estudar, estudar mesmo, assim foi aos sete anos, quando comecei a fazer aula de piano. Depois veio a bateria, que eu comecei a levar mais a sério”, comenta. E acrescenta: “Acho que mais ou menos eu sempre soube o que desejava fazer”, diz. Quando se formou no colégio, fez um ano e meio de Direito na PUC. Mas já pensava em estudar na Berklee. “Em uma audição, no Rio, ganhei bolsa de estudo e fui. Já estava bem sólida a ideia de que eu ia trabalhar com música. Agora, sinceramente, gostava bastante de fazer Direito. Se tivesse continuado, acho que eu seria feliz também”, acredita.

Pedro em seus primeiros anos como baterista (Foto: Arquivo Pessoal)

Pedro em seus primeiros anos como baterista (Foto: Arquivo Pessoal)

Seguir os passos dos pais, ser ator ou jornalista, nunca foi uma cogitação. “Os admiro muito pelo que fazem, pela forma como conseguiram chegar em um lugar legal. Certamente me influenciaram de seguir uma carreira mais artística”, diz Pedro, que em parceria com os pais lançou o livro João Maior Do Que Um Cavalo e Maria Menor Do Que Um Burro, em 2011.  “Meus pais me ensinaram a entender a natureza de trabalhar com arte, que não é só festa, não é só sentar numa cadeira e esperar a inspiração bater. É realmente trabalhar como em qualquer outra profissão. O mercado da música em Los Angeles é bastante competitivo e saturado. Existem milhões de engenheiros de mixagem, de bateristas. Então, o trato pessoal é importantíssimo em termos de ser comunicativo, de se importar com o cliente”, analisa.

Ter preferência por tocar bateria significa ter um espírito mais roqueiro? “Tive muitas fases, cresci ouvindo música brasileira, lógico, muita Bossa Nova, Tropicália e tive fase de rock também, ouvia Led Zeppelin direto, escutei muito jazz na Berklee. Mas hoje em dia, até porque tantos gêneros se misturam, tento ouvir um pouco de tudo e estou sempre procurando achar o novo”, explica Pedro, que trabalha também para impulsionar jovens artistas como a portuguesa Maro e o alemão Max Embers.

Desde criança, Pedro tem a música como uma paixão (Foto: Arquivo Pessoal)

Desde criança, Pedro tem a música como uma paixão (Foto: Arquivo Pessoal)

Apesar dos seis anos morando nos Estados Unidos, garante que não adquiriu hábitos americanos. “Meus dias são de muito trabalho, de vez em quando jogo tênis aqui, mas não comecei a ver futebol americano, nem a jogar basquete, nem sei como baseball funciona. E não tenho a menor intenção de entender, então, naturalmente não estou tão americanizado assim não”, afirma, rindo.

Mas lá, com certeza, realizou o sonho de trabalhar com ídolos como Steve Jordan.  “Sempre foi meu ídolo em termos de bateria e produtor. Trabalhei com ele no Village. Foi realmente uma das melhores sessões. E ele gravando praticamente com a banda que gravou Thriller, do Michael Jackson”, vibra com a lembrança.