O amor sempre esteve nos arranjos da bossa nova ou mesmo no samba que embalaram gerações no Rio de Janeiro. E continuam a embalar. E a recifense Duda Beat levou o amor em forma de sofrência pop indie para o Circo Voador, nesta quinta-feira, em uma noite histórica para a sua carreira. “Caraca, está lotado!” foi o que ela conseguiu dizer assim que começaram os primeiros arranjos do seu particular tecnobrega romântico. O Circo Voador é terreno sagrado. Passaram por ali o inesquecível Renato Russo, o violão leve e sempre contestador de Caetano Veloso, a “malandragem” de Cássia Eller e o “caso sério” de Rita Lee. Duda Beat, agora, pediu licença para entrar com o seu álbum Sinto Muito. Ela sentiu muito! Mas o público sentiu junto! Por entre as pochetes e as roupas coloridas da juventude carioca tiveram aplausos, coro e muita sofrência na boca do povo.
Os cabelos platinados e o figurino lavanda e brilhante. Essa também era a cor que pintava as roupas dos outros seis integrantes da banda. Não era avermelhada para relembrar as paixões, mas não faltaram corações no telão durante a primeira música Bédi Beat. O Circo Voador fez bonito como de praxe e cantou junto o primeiro refrão: “E eu vivia à flor da pele nem percebia que das vezes que eu ria era vontade de chorar”. Paradoxal, quando na verdade o único choro que cabia ali era de felicidade e ele não demorou muito para ser visto no rosto da cantora.
Na sequência, ainda em tom de desabafo, mas agora com uma frase de ordem: “Eu não vou buscar a felicidade em mais ninguém”. Bolo de Rolo é cantado e dançado por Duda Beat. Atrás do rebolado, ora imagens psicodélicas ora vídeos com a cantora em um cavalo branco se intercalavam. “Que foda, Rio de Janeiro”, disse antes de começar o terceiro número da noite. Em Bixinho, o clima fica mais leve com a letra dedicada a Tomas Tróia, guitarrista da banda e namorado de Duda. Depois de tantos amores não correspondidos e dores de sobra, finalmente, um amor tranquilo e desapegado.
Nesse momento da apresentação, as pessoas assistiam atrás das telas dos celulares. E eram muitas. O processo de cura de Duda Beat mereceu ser registrado. E era nítida a sintonia entre ela e seu “bixinho”. “E aí, vocês estão se divertindo? Eu estou muito feliz de estar cantando aqui hoje. É muito especial. Eu sempre vim aqui ver meus amigos cantarem nesse palco e essa noite estou cantando as minhas músicas. Obrigada a cada um de vocês que veio me ver”, disse e terminou com um: “Ninguém dança?” para começar a cantar Derretendo. A imagem de um coração humano em 3D rodava no telão.
Confira a galeria de fotos do backstage:
Duda Beat quis mostrar sua voz para todo mundo e mostrou. Sob uma imensidão de palmas ritmadas no Circo Voador, ela cantou Pro Mundo Ouvir. E por ele ter escutado, Duda, chorando, disse: “Que lindo todo mundo cantando junto. Eu não esperava menos do Circo. Ave Maria, eu estou muito emocionada”. E para o próximo número Duda adiantou: “Quem aqui está com raiva do crush, que não quer nada com você? Sei bem como é isso”. E começa o som de Egoísta. A letra diz muito sobre o que fez Duda chegar até onde chegou. O egoísmo que lhe foi oferecido, a fez amadurecer. “Tudo bem, porque eu cresci com isso e é só por isso que eu estou aqui”, dizia a canção. No final, a guitarra junto ao rebolado beateano tomam o primeiro plano.
Deu para sentir na plateia o sentimento de gratidão de Duda Beat ao apresentar cada um dos integrantes da banda. A maioria participou da composição de todo o disco Sinto Muito. Por último deixou Tomas Tróia. “E por fim o que vou falar de você? Produtor do meu disco e amor da minha vida”, comentou ela, que continuou agradecendo a todos que estavam permitindo que aquela noite acontecesse, inclusive o “menino das projeções”.
Há tanto a agradecer. “Obrigada, Circo, por me permitir estar nesse palco tão sagrado”, concluiu aos primeiros acordes de Todo Carinho. A garota que saiu de Recife há 13 anos para tentar um curso de medicina no Rio soube que estava enganada quanto ao destino. Duda Beat veio a esse mundo para cantar, para falar sobre seus amores e nossas dores. E isso ela mostrou ontem que faz e faz bem. “Vocês já perceberam que eu gosto quando cantam comigo”, disse, enquanto explicava a letra de Chapadinha na Praia, música ainda não divulgada nas plataformas digitais. Outra que ainda não saiu e estará disponível a partir do dia 15 de fevereiro é a versão inédita de Seu Pensamento, eternizada na voz de Adriana Calcanhotto e, agora, com um toque nordestino de Duda.
Mais reboladas e mais jogadas de cabelos louros. “Vocês acham que eu não estou olhando, mas eu estou vendo o rosto de cada um. Eu amo vocês, porque fazem o meu trabalho valer a pena. Agora vamos fechar com chave de ouro?”, propôs a artista para cantarem todos juntos uma nova roupagem de Bixinho. Com o Circo Voador na mão, Duda Beat mostrou que conquistar o público carioca foi fácil, a partir daqui o Brasil já está ganho.
O site HT bateu um papo com Duda sobre os caminhos percorridos até chegar ao palco do Circo. Leia: Duda Beat, a rainha da sofrência pop indie, dispara: “A modernidade trouxe mais sofrimento. Estamos em um momento em que ‘ficar’ se banalizou”
Depois da apresentação para lá de romântica da pernambucana foi a vez da sensação do pop carioca Mahmundi subir ao palco do Circo Voador. A cantora, compositora e multi-instrumentista cantou as músicas de seu disco “Pra dias ruins”.
Duas das mais promissoras vozes femininas pela primeira vez no Circo é uma noite para se lembrar!
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