Duda Beat lança ‘Meu Pisêro’: ‘Acolhi as angústias desse momento, mas arte salva e nos transforma’


A cantora lançou clipe que dá start ao novo álbum alinhavado durante a pandemia. E falou sobre o empoderamento em sinergia com o de tantas mulheres: “Não tenho vergonha de dizer que já sofri por amor, assim como não tenho vergonha de hoje dizer que sou muito feliz, amando e sendo amada. Tive liberdade de falar sobre as minhas vivências e sou dona da minha história. É uma conquista tal qual de muitas mulheres. E ainda temos muito a avançar”

Duda Beat em foto assinada por Caíque Silva

Duda Beat em foto assinada por Caíque Silva

Duda Beat acertou mais uma vez ao lançar agorinha “Meu Pisêro”, a primeira faixa do novo álbum que ganhou também um clipe incrível. Envolto em uma estética cinematográficas do terror e do suspense, a cantora conta a história de uma mulher atormentada pelos fantasmas de um amor. “O que assombra, que te acorda de noite, que te assusta e faz tremer”, pontua. Mas tanto a letra como o vídeo sugerem uma abordagem de um novo horizonte, o da superação. “Depois de tantos questionamentos, você entende que tudo bem também, ninguém é obrigado a te amar, muito menos a te amar como você deseja”, explica Duda, refletindo sobre uma mulher menos vítima das relações e mais dona de si.

"Ter a liberdade de falar sobre as minhas vivências é uma conquista, assim como ser a dona da minha história é uma conquista de todas as mulheres”. (Foto: Fernando Tomaz)

“Ter a liberdade de falar sobre as minhas vivências é uma conquista, assim como ser a dona da minha história é uma conquista de todas as mulheres”. (Foto: Fernando Tomaz)

Ela nos contou que tem vivenciado momentos difíceis como muitos brasileiros e o mundo neste um ano de pandemia do Covid-19. “Não tem sido fácil. São muitos altos e baixos. E a pandemia permeou o trabalho do álbum novo. Não falo sobre a pandemia nas letras, mas o meu trabalho foi diretamente impactado por tudo que está acontecendo. Precisei de mais tempo para finalizar o disco, para acolher as angústias desse momento, o não saber quando isso vai acabar ou não ver uma perspectiva muito animadora, já que não temos um planejamento de enfrentamento ao coronavírus. São tempos duros. Mas eu acredito que a arte salva, que ela nos ajuda e nos transforma. Pensei muito nisso enquanto estava trabalhando tanto em “Meu Pisêro” quanto no álbum de uma maneira geral”.

"Eu acredito que a arte salva, que ela nos ajuda e nos transforma". (Foto: Fernando Tomaz)

“Eu acredito que a arte salva, que ela nos ajuda e nos transforma”. (Foto: Fernando Tomaz)

O single é mais um ponto para a conta da artista que sempre abriu o coração em suas entrevistas afirmando: “Nunca tive vergonha de dizer que já sofri por amor, nem de dizer que sou muito feliz hoje, amando e sendo amada. Ter a liberdade de falar sobre as minhas vivências é uma conquista, assim como ser a dona da minha história é uma conquista de todas as mulheres”.

E como Duda vê a representatividade da mulher na sociedade brasileira hoje? “Acho que estamos avançando nesse quesito. Outro dia me perguntaram sobre o que é para mim ser mulher no século XXI. Minha resposta foi: ser questionadora. Só assim questionando o que está posto e naturalizado é que podemos subverter isso e avançar, e mudar. Para mim, a música é esse espaço. Eu peguei as histórias que aconteciam comigo, que me machucavam, e as transformei em algo diferente”.
"Questionando o que está posto e naturalizado é que podemos subverter e avançar, e mudar. Para mim, a música é esse espaço" (Foto: Fernando Tomaz)

“Questionando o que está posto e naturalizado é que podemos subverter e avançar, e mudar. Para mim, a música é esse espaço” (Foto: Fernando Tomaz)

A cantora destaca que ainda são muitas as sequelas da falta de visibilidade das causas e direitos das mulheres e diz, com razão, que “ainda temos muito a avançar”, acrescentando que “os números de feminicídio ainda são altos. Não temos muitas mulheres ocupando cargos públicos ou na direção de empresas. Para mudar a sociedade e a maneira como ela é estruturada, nós, mulheres, temos que ocupar todos os espaços. Quanto mais diversidade de pensamento, mais chance de mudar e continuar evoluindo”.

A trajetória relâmpago

Duda Beat, que já foi chamada de ‘a rainha da sofrência’, conseguiu imprimir sua chancela na música brasileira ao misturar brega, forró, maracatu, manguebeat e outras influências musicais nordestinas. Tal como uma alquimista criou um caldeirão de influências com cara de pop indie, mas que se mostrou ser maior do que qualquer rótulo. E também conseguiu transformar a sofrência em amor próprio e com isso ajudar outras pessoas que passaram por situações parecidas. Quando lançou “Eu sinto muito“, a artista frisava que sente muito amor. Mas é também um ‘sinto muito, eu não te quero mais’. E já dava os sinais nas músicas da transição de uma pessoa que sofreu muito por amor, mas que sacodiu a poeira e seguiu em frente.

Tal como uma alquimista, Duda Beat criou um caldeirão de influências com cara de pop indie (Foto: Caíque Silva)

“Encarei meus demônios, minhas várias maneiras de ser eu. Esse primeiro momento tem um clima mais sombrio mesmo” (Foto: Caíque Silva)

Lá em 2019 ela refletia: “A modernidade trouxe mais sofrimento. Estamos em um momento em que “ficar” se banalizou. É moda. Todo mundo fica com todo mundo. Mas é muito raro alguém realmente encontrar um amor verdadeiro. Na época dos nossos pais era diferente. Hoje é uma constante experimentação. E isso para os românticos, como eu, acaba sendo desgastante, dolorido e solitário. Chega uma hora que cansa. Eu acho que as pessoas têm se identificado, porque no fundo elas estão querendo muito alguém para elas e na individualidade dos tempos modernos não cabe isso”. Duda ainda fez uma auto avaliação do seu êxito profissional: “O sucesso do meu trabalho se dá pela minha verdade. Temos que ser muito verdadeiros com o que mostramos ao universo. Eu percebo que as pessoas sentem quando somos sinceros e a empatia vem por consequência”.

A estética de “Meu Pisêro

Com o lançamento, a compositora fez uma homenagem ao piseiro, uma vertente do forró que une a voz com a eletrônica, que vem ganhando espaço. E reconhece: “Temos um país muito rico sonoramente. É uma felicidade para mim trazer tantas referências. Sou uma pessoa eclética, não tenho nenhuma restrição. Estou sempre aberta a ouvir novas experiências. E tudo influencia meu trabalho, claro. Meu processo de criação sempre passa por mim, pelas minhas vivências. Não vou buscar inspiração lá longe, busco e acho aqui dentro, nesse emaranhado que eu sou”.

Esteticamente o clipe tem referências a títulos célebres do terror e suspense (Foto: Caíque Silva)

Esteticamente o clipe tem referências a títulos célebres do terror e suspense (Foto: Caíque Silva)

Dirigido por Cris Streciwick e com direção criativa de Marcelo Jarosz, o clipe é um prato cheio para os cinéfilos. Recheado de referências a títulos célebres do terror e suspense, podemos perceber sinergias que vão de O Bebê de Rosemary” (1968), “Suspiria” (1977) , “Poltergeist” (1982) e também com elementos presentes na obra de Brian de Palma para o gênero. A ideia foi trazer aquela heroína de filme que é assombrada por algo, mas como eu gosto de brincar, misturar tudo. Tem também um certo humor nas cenas”, comenta a artista.

Tal como uma alquimista, Duda Beat criou um caldeirão de influências com cara de pop indie (Foto: Caíque Silva)

Tal como uma alquimista, Duda Beat criou um caldeirão de influências com cara de pop indie (Foto: Caíque Silva)

Para compor a estética e o aspecto visual, a filmagem se deu em locais com um ar retrô, dignas de um filme de Stanley Kubrick. A apresentação do clipe, da direção de arte aos dos elementos em cena seduz e muito. Entramos em um processo de catarse junto com a artista e nos deixa com água na boca esperando por mais. 

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O single é o start para o novo álbum da pernambucana, que veio criança para o Rio de Janeiro em busca de sonhos mil. O clipe traz uma Duda com uma paleta de cores mais sóbrias nos looks e uma pegada dos 50’s. O styling ficou a cargo de Leandro Porto. “Me sinto mais dona da situação, e menos vítima das minhas relações. Eu amo moda e acredito que a gente comunica muito por meio dela. Natural, então, que minhas roupas contassem também essa história da minha mudança, do meu amadurecimento. Nesse clipe, é como se eu estivesse sendo assombrada por mim mesma. Encarei meus demônios, minhas várias maneiras de ser eu. Esse primeiro momento tem um clima mais sombrio mesmo. Usamos muitas lingeries, camisolas e roupas de ficar em casa. Tem um clima vintage, porque isso sempre vai atravessar meu trabalho. E sempre vai ter babado (risos). Essa sou eu!”. Certeza, Duda!