Se tem algo que todo mundo já sentiu na pele (e no coração, claro) foi a famosa dor de cotovelo. No entanto, há os que escolhem apenas sofrer e, talvez lá na frente, dar a volta por cima e outros que fazem do limão uma bela limonada. Foi o caso da rainha da sofrência pop indie, Duda Beat, que, depois de anos entre amores não correspondidos, decidiu falar abertamente sobre o assunto, ou melhor, cantar. Uma das mais promissoras vozes femininas no cenário musical do Brasil, ela está com shows marcados no Rio, Ceará, São Paulo e Bahia agora, em janeiro. E, nesta quinta-feira, dia 17, vai apresentar no palco do Circo Voador as músicas do seu primeiro álbum e super sucesso “Sinto Muito” em uma noite incrível que vai contar também com Mahmundi lançando o disco “Pra dias ruins”. O site HT conversou com a linda Duda sobre os amores e as dores.
A regra é única: transformar a sofrência em amor próprio e com isso ajudar outras pessoas que passaram por situações parecidas. E assim nasceu o seu primeiro álbum: Sinto Muito. Duda saiu do Recife há 13 anos e se mudou para o Rio de Janeiro movida pela relação que já tinha com a cidade, os amigos cariocas e, especialmente, atrás de um sonho. Virar artista? Não, ela queria cursar medicina. Mas, como Duda mesmo disse, talvez esse não fosse um desejo tão profundo e, por isso, não chegou a ser realizado. “Eu sou muito mística. Acho que não estava escrito que eu teria que seguir uma carreira na medicina. Eu me lembro que cheguei a pensar em ser anestesista. O meu discurso? Desejava curar as pessoas. Fazer com que elas não sentissem dor. E sabe o que aconteceu? Eu acabei conseguindo um pouco disso com o meu disco. Se eu não entrei em medicina até hoje… não era para ser”, comentou.
Aos 30 anos, Duda Beat, nos apresenta o seu processo de cura com as músicas cantadas por ela no álbum produzido por Tomás Troia, seu amigo de infância e atual namorado. “Esse álbum é uma terapia pessoal. Ele me curou. E sei que curou outras pessoas, porque eu recebo mensagens de várias pessoas dizendo que eu as ajudei a sair de um relacionamento que não fazia bem”, contou Duda admitidamente romântica. E abriu mais ainda o coração ao falar sobre a identificação do público: “A modernidade trouxe mais sofrimento. Estamos em um momento em que “ficar” se banalizou. É moda. Todo mundo fica com todo mundo. Mas é muito raro alguém realmente encontrar um amor verdadeiro. Na época dos nossos pais era diferente. Hoje é uma constante experimentação. E isso para os românticos, como eu, acaba sendo desgastante, dolorido e solitário. Chega uma hora que cansa. Eu acho que as pessoas têm se identificado, porque no fundo elas estão querendo muito alguém para elas e na individualidade dos tempos modernos não cabe isso”. Duda ainda fez uma auto avaliação do seu êxito profissional: “O sucesso do meu trabalho se dá pela minha verdade. Temos que ser muito verdadeiros com o que mostramos ao universo. Eu percebo que as pessoas sentem quando somos sinceros e a empatia vem por consequência”.
Em Bédi Beat a força das composições já fica explícita logo na primeira frase: “Eu vivia à flor da pele, nem percebia que das vezes que eu ria era vontade de chorar…” Numa mistura entre raízes nordestinas e ritmos tecnológicos, em que indie, tecnobrega e pop se complementam harmonicamente, o novo álbum é a primeira aventura de Duda Beat como cantora. “Eu queria me sentir respeitada pelas pessoas que me apaixonei, além de desejar colocar para fora essa vontade que tinha de cantar há muito tempo e ajudar as pessoas de alguma forma. Eu sempre penso que a gente sofre por um propósito e o mais inteligente no sofrimento é transformar isso em algo que nos engrandeça. E foi o que aconteceu comigo com Sinto Muito”, afirmou Duda, que acrescentou: “Tem que ter calma, não pode ter pressa, porque colocar para fora sentimentos íntimos é muito difícil. Vivemos em um mundo no qual tudo é perfeito no Instagram. É um ato de coragem muito grande mostrar um lado fraco seu para as pessoas”.
E é essa superficialidade das redes sociais e dos tempos modernos o que mais incomoda a artista e a leva a compor. “Vou continuar falando nas letras sobre as modernas sofrências amorosas, porque é o que eu sei expressar. Sei opinar bem também sobre política, porque sou cientista política, mas eu acho que o tema de amor é importante e universal. Não que política não seja, mas todo mundo já se apaixonou um dia. Continuarei falando disso. Seja a Duda feliz no amor ou triste no amor”, enfatizou.
Duda, a nova promissora artista do cenário alternativo da música brasileira, chegou para transformar dor em empoderamento e parece ser essa a tendência de outros nomes da nova geração. “As minorias estão aí lutando por espaço, reconhecimento e precisavam de artistas que falassem por elas. Quando alguém dá uma certa voz que represente essas pessoas é fundamental. Muitas confidenciam: ‘Parece que você está contando a história da minha vida’. Envolve empatia e identificação. Então, nós caminhamos para que o artista possa cada vez mais cantar para essas pessoas e proporcionar a sensação do empoderamento”.
Apesar de Sinto Muito ser o primeiro disco, Duda é amiga dos cantores Letrux, Cícero, Mahmundi e Castello Branco. Parece que o destino queria mesmo que Duda nos presenteasse com a sua voz e desabafos. Ela nos contou sobre a incrível força do destino: “A vida é muito louca. Ela vai me mostrando aspectos que eu tenho ficado perplexa. Eu sempre me apaixonava por músicos e vai rolar um show meu daqui um tempo. E o músico que fui apaixonada por sete anos e ele nunca quis nada comigo vai abrir o show para mim. É uma volta que a vida deu. Quando você menos quiser vai aparecer o cara certo para a sua vida”.
A sequência de canções compostas pela cantora para o álbum tem um enredo com início, meio e fim. “Duas pessoas se apaixonam. Uma tanto esperou pela outra e esta segunda se envolve, mas nem se preocupa em decepcioná-la ou não. No final, em Bolo de Rolo, eu falo: ‘Não, eu não vou mais buscar a felicidade em alguém. A felicidade está dentro de mim’”, comentou. E segue abrindo o coração: “Então, o meu ‘sinto muito’ é porque senti muito amor. Mas é também um sinto muito, eu não te quero mais. Estou bem comigo mesma. Mas a historia não acabou, né? Sempre repetimos os mesmo erros e o próximo disco, provavelmente, será uma transição de uma pessoa que sofreu mas que não está sofrendo mais”.
A mistura musical de Duda vai receber mais um toque especial no show de quinta, no Circo Voador, como falamos acima. Ela vai cantar com a amiga Mahmundi. “Espero emoção pura no palco. O Circo é um lugar de desejo desde sempre. Vi meus amigos cantando lá canções deles e subi duas vezes ao palco: uma com Letrux e outra com o Francisco Hel Hombre. Tive essas duas experiências incríveis lá e imagino que, na quinta-feira, vai estar cheio de gente cantando as minhas músicas dessa vez. Ainda mais no mesmo palco que Mahmundi, que é minha amiga de anos e que sempre acreditou em mim. Estou feliz demais”, comemorou Duda Beat.
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