Por Pedro Willmersdorf
Nada mais brasileiro do que a arte da mistura, da mescla, da miscigenação. Quando o assunto é música, então, as receitas se tornam ainda mais criativas e ousadas. Que tal, por exemplo, incluir na mesma ciranda influências da Tropicália com ritmos havaianos, sonoridades africanas, reggae, Beatles e João Gilberto? Um resultado indecifrável surgiu na sua mente? Talvez ao ouvir um pouco da voz de Kika você consiga elucidar um pouco melhor seu pensamento.
Destaque na cena paulistana em 2012, sendo seu show um dos melhores do ano na Mostra Prata da Casa, do Sesc, a cantora sobe, pela primeira vez, em um palco carioca, com shows hoje (23) e amanhã no Oi Futuro de Ipanema, dentro do projeto Levada Oi Futuro. Nas performances, ela exibirá o repertório de ‘Pra viagem’, seu álbum de estreia, cujo nome resume bem a jornada sonora que ela cria no curtinho disco de apenas 26 minutos.
Aliás, ‘Pra viagem’ nasceu de forma inusitada: em formato de LP prensado de 10 polegadas. Retrô demais para sua realidade no iTunes, não é mesmo? Decidimos, então, conversar melhor com Kika sobre esta decisão ‘vintage’ em torno da produção de seu álbum. E, claro, saber um pouco mais sobre o que o público carioca pode esperar em sua estreia por aqui.
– Dentre suas influências ‘oficiais’, são citados os Beatles, a nossa Tropicália e sonoridades jamaicanas. É basicamente isso ou há algo além?
Kika: Sim, eu escuto diversas referências, música africana, havaiana, samba canção, João Gilberto… Eu sempre ouvi coisas bem diferentes e procurei fazer um encontro dessas sonoridades. O objetivo desta miscelânea é exatamente abraçar as diversidades para produzir a novidade, a minha novidade.
– Por falar em influência, normalmente olhamos muito para o passado ao refletir sobre quem nos influencia. Quais nomes da cena atual (e fervilhante) da música brasileira te influenciam?
Kika: Eu escuto e sou fã de muitos músicos atuais, gosto de todos e posso citar vários, como a Anelis Assumpção, o Lucas Santana, o Otto, Curumim, Céu, Karina Buhr, Tulipa… além de meus companheiros de trabalho, como o Décio7, o Victor Rice, o Gui Held, que eu considero os grandes talentos dessa geração.
– Alguma motivação técnica para seu álbum ‘Pra Viagem’ ter sido prensado em LP’s transparentes de 10 polegadas?
Kika: Sim, a escolha do formato veio a partir da duração do disco, que tem 26 minutos. O 10 polegadas tem espaço justamente para 13 minutos, foi uma bela coincidência! Como acredito na importância no vinil hoje, essa me pareceu definitivamente uma decisão muito acertada. Daí o transparente foi uma escolha estética inspirada na pureza e na inocência que sinto que atravessam as faixas do disco.
– De certa forma esta decisão não vai de encontro à tendência cada vez mais virtual de lançamento dos novos projetos de novos artistas?
Kika: Eu acho que o vinil é uma opção de compra para pessoas que realmente curtem ouvir música em casa, que prestam atenção nas frequências e tal, ou seja, um público especializado. E por outro lado, o download livre possibilidade a difusão da música para todos e uma expansão do nosso trabalho no mundo. Eu acredito nisso e invisto nos dois. Acho que pra fazer música hoje é preciso abraçar a diversidade das sonoridades inclusive pensando no formato, na divulgação e na execução. E esses ai são os lugares que quero estar.
– Na descrição oficial de seu álbum ‘Pra Viagem’ é dito que você ‘reinterpreta a paisagem paulistana com um filtro praieiro e colorido, de lembranças e novidades’. Aproveitando sua estreia em solo carioca: há muito do Rio na música da Kika?
Kika: Há o Rio de Janeiro em mim, que sou realmente apaixonada pela cidade. E é de tudo o que existe em mim e nos músicos que trabalham comigo que faço o meu som. Estou muito feliz com essa receptividade dos cariocas com minha música, me sinto em casa e criando uma casa nova pra viagem.
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