Em passagem pelo Rio, Lana Del Rey prova que, além de carismática, é fofa!


Show da cantora-gracinha que cativou os hipsters revela uma artista que sabe chegar perto do público, ao contrário de Justin Bieber

Após duas passagens pelo Brasil – a primeira em Belo Horizonte e, depois, em São Paulo, dentro do line up do Planeta Terra – a toda boa Lana Del Rey finalmente aterrissou no Rio na noite passada, para um showzinho udigrudi no Citibank Hall. E, embora ela seja do tipo calminho, que nunca saracoteia no palco, nem investe em performances nababescas ou coreografias rocambolescas repletas de trocas de figurino e bailarinos, é inegável o seu carisma. Quem foi pode conferir como a cantora é afável, oferecendo carinho aos fãs como quem distribui saquinhos de São Cosme & Damião repletos de doçuras. Sim, Lana é puro amor, e seu amor está em ponto de bala. Bala Toffee, aliás.

Com um público majoritariamente jovem – observamos uma grande quantidade de adolescentes, embora Lana tenha um público bem mais amplo –, a diva soft cantou para uma plateia fiel, assim como são os fãs do pululante Justin Bieber, apenas uma semana depois do show deste. A diferença, claro, está na forma de conduzir o espetáculo, tanto no estilo musical quanto na atitude. Enquanto o garotão canadense encontra-se em ponto de ebulição, com os hormônios à flor da pele, parecidos com o nível encontrado naqueles perus criados em cativeiro para abastecer as ceias de Natal, Lana, de 27 anos, já é mulher madura, apesar da carinha de anjo. E, óbvio, deve tirar de letra situações como garrafadas na cabeça – caso acontecessem em seus shows, como ocorreu no de Bieber em São Paulo – sem precisar parar, em seguida, no divã do psicanalista. Ao contrário da movimentação frenética de Bieber, Lana faz um show mais calmo, próprio para quem curte sua levada romântica e, por isso, ao contrário do astro juvenil que gasta testosterona em sacolejos, cumprimentos mecânicos e frases roteirizadas pelos seus empresários, ela é gracinha, podendo se dar ao luxo de descer do palco várias vezes para distribuir autógrafos, dar beijinhos e posar para fotos. É isso. Lana é intimista, mas tem domínio de plateia e pode se dar ao luxo da proximidade física com os fãs, já que dificilmente receberá uma garrafada de Sukita na cabeça.

Fotos: Vinícius Pereira

Nesta turnê ‘Paradise’, ela trouxe um repertório que mescla o EP de mesmo nome com o bem sucedido álbum ‘Born to die’. Antes dela, às 20h, o capixaba Silva esquentou o público com suas melodias que misturam o violino clássico com batidinhas eletrônicas, sublinhadas por letrinhas de amor. O público, majoritariamente composto por menininhas de classe média, trajadas no mesmo estilo boho-chic da artista nova-iorquina, já dava a entender que a noite seria paz e amor. Sim, nunca se deve esperar um sacode-furacão do público em uma apresentação de Lana, por isso até o show de abertura precisa ser cool. Portanto, o visual brecholento dos presentes, com direito às guirlandas de flores na cabeça, marca registrada da cantora, só colabora para essa atmosfera com jeitão de revival do flower power setentista. Mas, se ilude quem acha que a garotada presente é daquelas que necessariamente recicla os figurinos da tia-avó em brechós de nomes curiosos. É gente de bom poder aquisitivo, que se alimenta de modismos e, portanto, consome o estilo de vida bohemian bourgeois nos shoppings abastados da cidade. A prova disso é que as tais coroas florais para adornar as madeixas andaram marcando presença em casamentos de chiques como o da atriz Fiorella Mattheis com o ex-judoca Flávio Canto, em julho, e de outra brasileira, a it girl Tatiana Santo Domingo, com o príncipe Andrea Casiraghi, filho de Caroline de Monaco.

Assim como as bodas de Fiorella e de Tatiana Santo Domingo, a produção do show de Lana Del Rey é caprichadíssima, com cenário tropical, palmeiras decorativas e luz bem feita, mas, como a cantora, nenhum componente do palco é carnavalesco. Quem compra o ingresso para assistir o show, já deve imaginar que o estilo low profile da cantora está presente em cada detalhe, mesmo se tratando de uma produção esmerada. Às 2115h, ela subiu ao palco de bata branca e saia azul, completadas por flores vermelhas nos cabelos, e aparentou estar assustada com a multidão delirante. Logo engrenou seu sucesso ‘Cola’, seguida em coro pelo público. Aliás, houve um problema na acústica, com a cantoria da plateia atrapalhando a audição da voz da cantora por quem estivesse mais atrás. Mas tudo bem, o clima era de paz e até mesmo quando a performer avisou que precisava interromper a cantoria para ingerir algum líquido, não houve quem não compreendesse. Parece que ela andou tendo um problema de garganta no México, mas isso não deve ter sido suficiente para ela passar a se cuidar melhor, já que, no retorno da pausa, se desculpou e acabou entregando que havia se esquecido de fumar seu cigarrinho relaxante antes de entrar em cena. Problema de garganta e cigarro?!?

Por cerca de 1h30 de show, Lana enfileirou um sucesso atrás do outro como ‘Body eletric’, ‘Video game’, ‘Born to die’, ‘Blue jeans’ e ‘Summertime sadness’, mas impressionante mesmo foi o efeito melancólico que as músicas mais calminhas causavam no público hipster. Não faltou entrosamento entre ela e os presentes, e tudo indica que a sinergia que existe entre a artista e o público tenha surgido através do rápido sucesso que ela alcançou na internet, quando despontou para o estrelato pouco após gravar o clipe de ‘Video game’. Aproveitamos para perguntar aos fãs o que eles acharam do show, se acham que existe de fato essa interação toda e qual seria o motivo. Para Mariana Ribeiro, estudante de 17 anos, o talento da estrela é indiscutível; “Ela é incrível! As letras traduzem nossos sentimentos de uma forma bonita, sentimental. Não acredito que seja passageiro, ela é realmente muito boa e tem muitos fãs”, insistiu efusiva. Mariana é aquele tipo de fã apaixonado que bate o pé atestando o talento da cantora, mas é possível perceber que essa opinião não é unanimidade. Felippe Pimentel, estudante de Comunicação Social, por exemplo, discorda da primeira: “Acompanho a carreira dela desde 2011, e realmente acho que rola um carinho por gostar muito dela hoje em dia. Mas sabemos que ela incorpora um personagem montado, né? A Lana-lolita, menina rica e sexy”. E completa: “Me lembro daquela polêmica que surgiu quando ela fez o tal preenchimento labial e, apesar disso não mudar nada para quem admira o seu trabalho, óbvio que existe uma montação forte por trás de tudo”. Evidentemente, parece haver uma parcela de fãs que, a despeito de curtirem a cantora, reconhecessem a existência de um produto fabricado, assim como Justin Bieber. Mas, naturalmente, o fato de ela ser também mais outra aposta da indústria de entretenimento para amealhar tostões dos consumidores na venda de CDs, DVDs e ingressos, nada obscurece o talento da moça. Independente disso – à parte de todas as estratégias inventadas para inserir Lana Del Rey no contexto da sociedade do espetáculo – ela é uma fofa-fofolete, não é mesmo?