“Ah, minha filha, uma grande expectativa!” É assim que está a animação de Dona Onete para o show que fará nesta sexta-feira, 15, no Circo Voador. A paraense de 77 anos, que leva o seu carimbó chamegado para diversos estados do Brasil e para diferentes países do mundo, apresenta nesta semana o seu segundo disco para o público carioca, que já conhece a artista de outras datas. E como nos disse, “estou chegando, hein?”. “É um show de primeira. Eu vou cantar agora, pela primeira vez, todo o meu novo CD. Vai ter muito swing, carimbó chamegado e bolero. O pessoal do Rio já me conhece, já toquei outras quatro vezes aí. Eu já sou uma pessoa mais ou menos conhecida pelos cariocas, principalmente no Circo Voador, Sesc da Tijuca e Caixa Cultural”, disse.
E o público carioca pode se preparar, porque o show de lançamento do disco “Banzeiro” promete ser quente. Como nos explicou, enquanto o seu primeiro trabalho, lançado em 2012, teve um caráter mais “sofisticado para poder vender e mostrar fora do Brasil”, o segundo vem mais dançante. Ah, e a proposta do primeiro álbum deu bastante certo. Dona Onete, desde que começou a sua carreira na música aos 62 anos, já viajou três vezes para “o estrangeiro”, onde participou de festivais em países como Portugal, Inglaterra e França. E, em setembro, ela carimba o passaporte mais uma vez. Agora, para os Estados Unidos.
Segundo a paraense, em seus shows no exterior, o público costuma ser formado, principalmente, pelos gringos que moram por lá. E engana-se quem pensa que a artista é uma desconhecida fora do Brasil. “Eles já me conhecem, porque a minha música toca na BBC de Londres. Geralmente, tem muito gringo nas minhas apresentações lá fora. Brasileiro mesmo tem bem pouco. O ritmo já conquistou os europeus e já é recorrente. Mas, agora que eles estão absorvendo as letras. Eles dançam do jeito deles, porém, dançam muito”, contou. Que sucesso!
Rainha do palco, ela domina as plateias com força e originalidade. Em entrevista ao HT, a paraense confessou que não gosta de fazer parceria com outros artistas. “Eu não canto com participação porque eu tenho mais de 400 músicas. Então, não dá para fazer parceria, porque senão eu não mostro o meu trabalho da maneira que eu quero. A música do Pará é muito bonita e eu achei que tivesse que seguir esse caminho para apresentar um ritmo diferente natural do meu estado e levá-lo para fora das fronteiras paraenses. E já consegui. Eu acho que, se eu colocar outras pessoas, já não vai ter a cara de Dona Onete”, argumentou a cantora que é responsável pela “letra, melodia, cantoria e tudo mais” das suas músicas, como afirmou.
Bom, já percebemos que Dona Onete não entrou no mundo profissional da música a passeio, né? Ela que, no Pará, teve outra profissão até pouco tempo atrás, hoje se apresenta para grandes públicos no auge de seus 77 anos. “Eu era professora de história do 5° a 8° ano e não queria ser artista, mas aconteceu. Eu já fazia sucesso com grupos de dança folclórica, era secretária de cultura do meu município e cantava em Belém de vez em quando. Ou seja, eu já tinha uma história. Mas, depois que eu me aposentei, eu achei que não teria mais isso. Foi então que eu vim morar na Pedreira, bairro em que eu fui criada aqui no Pará. Um dia, eu fui cantar carimbó bem em frente à casa de uns meninos que tinham uma banda de rock. Eles ouviram minha voz e disseram que a queriam para cantar com eles. Só que acharam que fosse uma mulher nova, só que eu já tinha 63 anos”, relembrou Dona Onete que já havia gravado duas músicas para o Coletivo Rádio Cipó, grupo de produção de músicas do Pará, anteriormente.
Apesar de reconhecer seu talento e ter a vontade de engrenar na carreira musical, Dona Onete não se entregou tão facilmente. Segundo a paraense, no começo, ela recusou diversos convites dos “meninos que tocavam rock”. “Eu não queria cantar. Os garotos vinham me pedir, mas eu recusava. Eles eram muito mais novos e tocavam rock. Mas tinha um amigo, mais velho que eu, que também tocava no grupo deles. Aí meu marido me incentivou e disse que não tinha problema nenhum eu cantar com eles. Então, eu aceitei e me juntei ao grupo. Juntos, nós gravamos um DVD e um CD. Foi a partir daí que eu fui ficando conhecida e depois não deu mais para segurar”, disse ela que já cantava em serestas, Cordão do Boi e no carnaval paraense. Ah, e Dona Onete ainda recebeu o apoio de seus dois filhos, que deram força para a mãe se jogar na nova profissão. Ou melhor: “eles não se meteram nisso. Meu marido consentiu e eu fui fazer”.
Embora tenha energia e vontade de sobra, Dona Onete destacou uma dificuldade para manter a agenda de shows aos 77 anos. Como nos contou, a artista tem um problema no quadril que, por isso, precisa da ajuda para se locomover. “Eu ando com uma bengala para não fazer a cirurgia e ficar mais dependente das pessoas. Eu ando, levanto, nos shows eu danço um pouquinho, só para o pessoal poder me filmar em pé. Mas eu canto, constantemente, sentada. Para alguns lugares, eu vou com uma cadeira de rodas porque eu não dou conta de andar o aeroporto todo. Você sabe o tamanho desses lugares, né? Mas eu só uso nas necessidades”, explicou.
É, não tem dúvida que a energia de Dona Onete está sempre lá no alto. Com músicas animadas e looks coloridos, a artista, inclusive, já até se comparou à irreverência de Wando (1945 – 2012). Em uma entrevista, a paraense disse, brincando, que, depois da morte do cantor romântico e rei das calcinhas da mulherada, ela assumiria seu lugar. Curiosos, fomos atrás de entender essa declaração. “Eu fui fazer um show em Recife e depois me perguntaram por que eu canto músicas tão eróticas e gostosas. Eu era muito fã do Wando e, quando ele faleceu, não tinha nem um ano que eu estava como cantora profissional. Aí eu disse que ele cantava desse jeito e, após a morte dele, eu ficaria no lugar. Isso correu o mundo, mas foi besteira minha. Ele era um grande cantor”, detalhou aos risos.
Lembra que o objetivo inicial da cantora com a sua música era levar a cultura do Pará para além das fronteiras estaduais? Pois bem, quanto a isso já mostramos que Dona Onete conseguiu. E agora? “Os meus sonhos eu já fiz quase todos. Já viajei, dancei, mostrei a música do Pará em quase todos os estados do Brasil e em vários países. Depois do Rio de Janeiro, eu vou para o Rio Grande do Sul pela primeira vez. Por lá, já está todo mundo me aguardando enlouquecido. Eu acho que isso aí já valeu por eu ter mostrado essa música sem tirar nem por. Mas ainda tenho vontade de ir para algum lugar da África porque eles são muito meus fãs. Eles me mandam livros, panos para eu pôr na cabeça e usar como turbante e vários outros presentes. Eu tenho certeza que eu vou me dar muito bem com eles. Já tem gente querendo, mas ainda não sei como isso vai acontecer”, disse.
Depois de um humorado e motivante papo, Dona Onete ainda fez questão de lembrar um importante detalhe: “Ah, e eu tenho 77 anos”. Portanto, queridos leitores, levantem que a vida está aí!
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