* Por Junior de Paula
Katy Perry me faz lembrar certos artistas brasileiros – ótimas personalidades, divertidos, bons de palco, de business, mas, na hora de mostrar qualidade musical, e aqui não estamos falando de afinação ou fôlego, deixam a desejar. É certo que poucas artistas dessa geração foram capazes de criar tantos hits em tão pouco tempo como Katy, e isso, claro, é preciso ser louvado em um mercado cada vez mais competitivo.
Mas será que ela fará música que vai ser cantada – ou dançada – daqui a 30, 40 anos? Só o tempo dirá. O que importa neste momento é que ela segue no topo e, por isso, fomos conferir a turnê “Prismatic Tour” em Miami, na American Airlines Arena, nessa quinta-feira.
Marcado para 19h, às 18h a turma já fazia fila sob o sol de Miami que anda inclemente neste verão. O mais divertido é ver que seu público leva a sério a questão de show à parte. Muitas, mas muitas crianças por lá acompanhados dos pais, o que fazia nos lembrar shows da Xuxa ou da Galinha Pintadinha, para quem quer uma referência mais atual. Todas fantasiadas, com perucas azuis e rostos pintados na maior animação.
Já instalados, era hora de esperar, esperar e esperar, já que Katy só subiu ao palco – literalmente já que ela veio de uma plataforma que subia e descia – às 21h24. Antes disso, é bom dizer, rolou um show de abertura com os hispters Capital Cities, do mega hit “Safe and Sound”, que suaram para fazer algum sentido ali. Era como oferecer mushroom em aniversário de criança. Mas como ninguém consegue resistir a uma boa levada, no meio da apresentação estavam todos cantando os versos da banda com a maior animação.
Bom, mas voltando ao que interessa: Katy Perry. Dividido em cinco atos, o show é bem lúdico, cheio de elementos que se movimentam, que passeiam pelo estádio, muitos dançarinos, malabaristas, voos, fogos, cores, luzes e até 3D. Todo mundo na entrada ganha óculos especiais para assistir ao show, mas ninguém sabia muito bem em que hora usar, portanto o que era para ser um toque especial acaba por não fazer sentido.
A primeira parte, batizada “Prismatic”, é, como o nome diz, dedicado às cores, neon e luzes. Katy percorre o palco inteiro – imenso! – com direito a esteiras rolantes na lateral, onde ela ensaia uma corrida, acende sua roupa e canta alguns de seus sucessos, como “Roar”, a primeira música do show, “Part of Me“, “Wide Awake” e um medley de “This Moment“ e “Love Me“.
Depois, ela some e volta montada em um cavalo para a parte egípcia da apresentação para entoar os versos de “Dark Horse”, “E.T.”, “Legendary Lovers” e “I Kissed a Girl”. Mais uma sumidinha, e a estrela reaparece agora vestida de gato e os primeiros versos de “Hot n Cold”. Aí, em seguida, entra “Vogue”, de Madonna, e a gataria do palco começa a imitar os movimentos do icônico clipe da rainha do pop para emendar com “International Smile”.
Tudo muito bom, tudo muito divertido, referências sendo misturadas e muito bem executadas, mesmo sem fazer sentido nenhum, até que chega a hora da parte acústica do show. “Agora chegou a hora em que eu posso fazer o que quiser”, brinca Katy. Vestida de margarida (!!!), com um jardim de backing vocals vestidas de margaridas atrás dela, um mega guarda-chuva estampado com as tais flores pendurado no teto.
Aí ela fala, fala, fala, chama uma menina da plateia e dá uma pizza de pepperoni para ela, e fala, fala, fala, e canta nos intervalos do falatório “By The Grace of God”, “The One That Got Away” – quando ela pede para platéia de crianças prometer que nunca vai terminar o namoro com ninguém – “Thinking of You” e “Unconditionally”. Nem os fãs se empolgaram muito com os 20 minutos acústicos que de tão sem sentido pareceram duas horas.
Outra saída de palco e o jogo começa a virar de novo. Rende ótimos momentos uma dance cam no telão do centro do palco que focaliza a turma na plateia dançando que, ao se ver, começa a dançar ainda mais. Tudo um esquenta para a parte mais animada do espetáculo, com Katy vestida de emoticon cantando as superdançantes “Walking on Air”, com ela suspensa por cabos no meio da plateia, “It Takes Two”,“This is How We Do” e “Last Friday Night”.
O pique continua no alto com a parte final do show, que começa com “Teenage Dream”, passa por “California Dreams” e termina com “Birthday Girl”, com mais um voo de Katy com direito a muitos balões caindo do teto. Duas horas depois e ela ainda tem fôlego para voltar para o bis e quase incendiar a arena com “Firewoks”. Entretenimento feito por gente grande para uma turma que ainda está começando a descobrir a vida.
Fotos: Divulgação
* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura
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