Dia do Beijo: Pedro Luís faz ode ao amor e evoca o desejo em ‘A Maçã e A Boca’, composta em tripla colaboração


Com a pandemia, o beijo, objeto tema da música, é algo raro por necessidade. Como é falar de afeto, empatia e amor em tempos de isolamento? “É missão e necessidade. É preciso acender na memória a lembrança do beijo, quer seja com outros ou com todo o corpo. É o ato de pôr luz no fim desse imenso túnel que estamos atravessando”, pontua Pedro Luís.

*Com Bell Magalhães

“Deixe que arranhe / Deixe que te assanhe / Beije amassando a roupa”. Assim começa o single ‘A Maçã e a Boca’, disponibilizado por Pedro Luís em parceria com Camila Costa e Neila Kadhí. A escolha da data não foi à toa. O lançamento foi pensado para hoje, o ‘Dia do Beijo’, e não poderia ser mais adequado dado o tema da música — o desejo. A música foi composta em sintonia tripla, ainda que separados pelas paredes das próprias casas. 

No 'Dia do Beijo', Pedro Luís lança 'A Maçã e A Boca' ao lado de Camila Costa e Neila Kadhí (Foto: Jorge Bispo)

No ‘Dia do Beijo’, Pedro Luís lança ‘A Maçã e A Boca’ ao lado de Camila Costa e Neila Kadhí (Foto: Jorge Bispo)

Neila é produtora musical, multi-instrumentista e conheceu Pedro nos bastidores do espetáculo ‘Elza’, no qual o compositor foi diretor musical. Já Camila é violonista e compositora, integrou o grupo Sururu na Roda e gravou com nomes como Chico Buarque e Zeca Pagodinho, e gravou ‘ILA’ com Neila – foi dessa teia de amizades que surgiu o projeto.  Sobre os obstáculos da criação virtual em tempos de isolamento, Pedro diz que foi ‘um bom desafio’: “Compor pela primeira vez com duas mulheres tão afetuosas e que tanto admiro facilitou muito o que poderia ser um problema: a distância responsável obrigatória”, nos conta.

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‘Distanciamento’ é um tema que, de uma forma ou de outra, permeia e conversa com a música. Nos dias de hoje, o beijo, objeto tema da música, é algo raro por necessidade. Como é falar de afeto, empatia e amor em tempos de isolamento? “É missão e necessidade. É preciso acender na memória a lembrança do beijo — essa aglomeração de lábios, quer seja com outros ou com todo o corpo.  É o ato de pôr luz no fim desse imenso túnel que estamos atravessando”, pontua Pedro Luís.

"É preciso acender na memória a lembrança do beijo — essa aglomeração de lábios, quer seja com outros ou com todo o corpo" (Reprodução Instagram)

“É preciso acender na memória a lembrança do beijo — essa aglomeração de lábios, quer seja com outros ou com todo o corpo” (Reprodução Instagram)

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) é conhecido pela frasevivemos tempos líquidos. Nada foi feito para durar”, quando discorre sobre a fragilidade das relações afetivas entre pessoas. Apesar da sentença de Bauman, dos aplicativos de relacionamentos e a rapidez com que as relações fluem na pós-modernidade, Pedro enfatiza que o amor é soberano: “Ele é uma entidade superior, seja em fluidez ou solidez. É maior que todos nós e, quando chega, se impõe, no melhor dos sentidos. Mesmo quando é efêmero é gigante. Se for amor deixará sempre algo definitivo”, afirma.

“Deixe que te toque/

Deixe que provoque/ 

Língua passeando solta/

Deixe que te roce/

Deixe que te adoce/

E deite/

Alcançando a onda/

Branda, linda, longa/

Jamais desistir”  (Trecho de ‘A Maçã e A Boca’)

"O amor é uma entidade superior, seja em fluidez ou solidez. É maior que todos nós e se impõe, no melhor dos sentidos" (Reprodução Instagram)

“O amor é uma entidade superior, seja em fluidez ou solidez. É maior que todos nós e se impõe, no melhor dos sentidos” (Reprodução Instagram)

De Carlos Drummond de Andrade a Chico Buarque, poetas, músicos e demais artistas, ao longo de anos produzindo arte e cultura, beberam da fonte desse sentimento conhecido e reconhecido por todos nós. Talvez, amor seja de fato o único sentimento inesgotável. E Pedro assegura: “Enquanto houver amor e lua, só como dois exemplos, haverá sempre matéria abastecedora para estância da poesia”.