Um dia após a morte do pai de Cazuza, Maria Gadú faz show no Rio como tributo ao cantor


João Araújo, além de pai de uma das maiores figuras da MPB, foi um dos executivos mais importantes da indústria fonográfica

A emoção tomou conta do Vivo Rio, no último domingo (1). Coincidentemente, Maria Gadú subiu ao palco para apresentar o show no qual homenageia Cazuza, um dia após a morte de João Araújo, pai do cantor. O espetáculo, que já havia passado por outras cidades, faz parte do projeto Banco do Brasil Covers.

João Araújo, além de pai de uma das maiores figuras da MPB, foi um dos executivos mais importantes da indústria fonográfica brasileira. Durante 40 anos, esteve à frente da gravadora Som Livre, das Organizações Globo. Com passagem por diversas empresas do ramo, como Copacabana Discos, Odeon (EMI) e Philips (Universal), era conhecido como um grande descobridor de talentos, já que, ao longo da carreira, foi o responsável por lançar artistas como Caetano Veloso, Djavan, Gilberto Gil, Novos Baianos, Lulu Santos, Nara Leão e seu filho, Cazuza. Em 2007, o produtor foi o primeiro brasileiro a receber o prêmio Grammy Latino, concedido a pessoas com importantes contribuições em gravação e promoção musical. No mesmo ano, João foi eleito presidente de honra da Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD). 

Se em dias comuns as composições de Cazuza já despertam emoção e sentimentos nostálgicos, imagina em uma data delicada como esta? Com versões devidamente adaptadas, Maria Gadú entrou em cena pontualmente às 20h e, por conta de uma perna engessada, precisou comandar o show inteiro sentada em um banquinho -, o que não impediu que a plateia fosse contagiada pela emoção de quem tem o músico como uma das maiores referências em seu trabalho. Maria, que também faz parte do time de artistas da Som Livre, não conteve as lágrimas ao lembrar da importância de João em sua carreira: “Quero dedicar esse show ao João. Faço parte da gravadora há cinco anos.  Se ele não tivesse entrado em minha vida, tudo seria diferente”, disse.

A intensidade que pautou Cazuza parece guiar também os caminhos de Maria Gadú. Entre um gole de uísque e outro para acalmar, a cantora relembrou sucessos da década de 1980, eternizados na música popular e na memória de cada brasileiro. Em oito intensos anos de carreira, Cazuza deixou nada menos do que 234 músicas, sendo que uma parte ainda permanece inédita. Na seleção do show, apareceram os hits inadiáveis como, ‘Codinome beija-flor’, ‘Todo amor que houver nessa vida’, ‘Ideologia’ , ‘Exagerado’ e, claro, o standard ‘Faz parte do meu show’, acompanhados em uníssono pelo público que se alternava em gritinhos de elogios à cantora e repetições das letras.

Outra coincidência (ou não) do destino, ocorrida no último final de semana, foi o show holográfico que faria Cazuza parecer vivo novamente, através de um holograma, ter sido realizado justamente no dia da morte de seu pai. Se “ressuscitar” Cazuza depois 23 anos após sua morte já seria o suficiente para comover uma multidão de 30 mil pessoas, levar a imagem ao palco no dia da morte de seu pai só intensificou a emoção dos envolvidos no tributo e do público presente no Parque da Juventude, na Zona Norte de São Paulo, no último sábado (30).

O produtor carioca, que não gostava de assistir homenagens feitas ao filho, foi homenageado com um pequeno discurso de Nilo Romero, amigo de Cazuza e diretor musical do show, no qual lembrou trechos da letra da canção ‘Ritual‘, caindo como uma luva naquele momento (“Pra que chorar / A vida é bela e cruel, despida / Tão desprevenida e exata / Que um dia acaba”). A mãe de Cazuza, Lucinha Araújo, compareceria ao evento, mas precisou cancelar sua participação. Entretanto, uma mensagem dela, gravada anteriormente, foi exibida no telão, lembrando que no domingo (ontem) seria celebrado o Dia Mundial de Luta contra a Aids. O tributo contou com a participação de Gal Costa e os músicos, George Israel, Arnaldo Brandão, Leoni, Guto Goffi e Rogério Meanda.

Fotos: Vinícius Pereira