*Por Rafah Moura
No iorubá, ‘Agô’ é um pedido de licença para movimentos de entrada, saída e passagem. Por isso, Majur sempre abre suas apresentações com a canção-saudação, de mesmo nome que faz parte do disco ‘Ojunifé’, de 2021. Transformando o Palco Corcovado, do Universo Spanta, em um ‘Clima’ gostosinho, feat com Xamã, logo uma das primeira músicas do show e para a euforia do público, o rapper subiu ao palco com a cantora mostrando a força de um encontro potente, trazendo a energia e o calor da Bahia para o Rio de Janeiro. A faixa faz parte do novo disco da artista que será lançado ainda neste semestre e que junto com ‘Mapa de Estrelas’, ajudam a baiana a escrever um novo futuro no cenário brasileiro com seu afroswing. “Eu fico muito grata pelo novo futuro que estou escrevendo e vou mergulhar e cantar o pop, que é o que eu quero”, frisa a artista.
O show seguiu com as faixas ‘Ogunté’, ‘20ver’, ‘Flua’, ‘I feel good’, ‘Crazy In Love’, ‘Faraó’, ‘Trigesa’, ‘Detalhe’, ‘Andarilho’, ‘Náufrago’, ‘AmarElo’ com a plateia mandando no gogó, ‘Africaniei’, ‘Mapa de Estrelas’, em que fala ‘Oceano de emoções, riquezas sem milhões/ A pena ao pulso de quem pode descrever/ Sua missão, deixo a sorte ir’. Palmas para o balé da cantora, com direito a piruetas, giros, cabeladas, rebolado. Ah, Majur dança o show todo, e ainda consegue, brilhantemente, controlar sua respiração trazendo vibratos e agudos que deixam a todos arrepiados. Ovacionada pelo público. Majur tem uma luz e uma aura que vai emanando. “Deixa eu levar vocês pra casa”, brinca a cantora.
Entre risadas e gracejos, Majur revela que tem uma grande disciplina no seu processo de composição. “Eu sempre me coloco a minha vida como se fosse uma terceira pessoa. Como uma observadora. Então eu começo a falar de mim, em outro lugar e eu acabo passando pelas críticas, elogios… E essa matemática funciona muito no meu processo de criação, porque quando você pensa uma imagem, você consegue falar com ela muito melhor”.
Para alcançar a sonoridade e a imagem desejada para sua carreira, que vem sempre carregada de referências e mensagens, a baiana revela que é sempre uma tentativa de percepção de sua própria vida que considera altamente complexa. “E poder explicar a minha vida, também é muito complexo, tanto no meu momento de composição, porque eu poderia ter milhões de olhares até os pequenos detalhes que eu vou observando”. E completa: “Eu tenho uma grande dificuldade de dar nomes às minhas criações. O final é uma grande merda. Eu troco de nomes três vezes, tentando encontrar esse caminho. Eu dou os nomes e depois fico repetindo e falando com todo mundo, ‘o que você acha desse nome?’ Por exemplo, a primeira música desse novo álbum, ‘Mapa de Estrelas’, antes se chamava ‘Coragem’, mas também já foi ‘Âncora’. Até o último segundo eu fico tentando de fato alcançar o que eu realmente gostaria de falar. Eu estudei design, então sou viciada em trazer os detalhes e a exatidão dos objetivos para que o público entenda exatamente as mensagens que eu quero transmitir. O disco vem aí, neste primeiro semestre. ‘O melhor, é o melhor que você tem/ Se sinta vivo'”.
A cantora e compositora Majur celebra o seu rosto estampado em um dos telões da Times Square, em Nova York, nos Estados Unidos. A artista baiana é a embaixadora Spotify EQUAL de janeiro, representando o Brasil no mês da visibilidade trans. O programa tem o objetivo de promover e amplificar carreiras de mulheres em todo o mundo. “Eu continuo em uma grande descoberta e essa mudança contínua, que linka muito com o meu signo, porque eu sou libriana, e isso até se mostra pelo fato de eu poder e querer ficar mudando muitas vezes. Eu diariamente passo por um processo de aprendizado, crescimento, autoconhecimento, até porque tem pouco tempo que eu fiz a transição. Eu estou vivendo isso e acabo estampando todas essas vivências no meu trabalho. É como se algo novo fosse surgindo dentro de mim, nas minhas canções, emoções, imagem”, celebra.
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