Depois de fazer Cazuza durante dois anos nos palcos, Emilio Dantas irá experimentar encarnar mais uma vez o famoso cantor e compositor nos palcos da Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, com o espetáculo ‘Cazuza pro dia nascer feliz‘. Dessa vez, a apresentação será gratuita e não tem um cunho mais biográfico como a peça original, já que a ideia foi transformar o espetáculo em show. Este tipo de formato já foi vivenciado pelo ator em Curitiba e São Paulo onde, neste último, o evento recebeu cerca de 40 mil pessoas. “Essa apresentação não pode ser classificada como peça ou show. É, basicamente, uma manifestação artística que não tem nome. Parte do público não consegue ver o espetáculo por estar muito longe do palco. Ao mesmo tempo, o som tem uma potência de concerto mesmo. É uma experiência e um público muito louco. Queremos explodir a Fundição Progresso, vai ficar pequeno”, comemora o ator que agradece pela oportunidade de fazer um concerto tão revolucionário.
Emilio interpreta um dos maiores nomes da música popular brasileira que faleceu em 1990. Apesar de não ser muito espiritualizado, o ator conta que já vivnciou atitudes estranhas enquanto dava vida ao cantor. “Sempre conversei muito com o Cazuza durante as apresentações. Tive um episódio, nestes dois anos de peça, no qual tive uns apagões durante o primeiro ato. Quando percebi, já estava na cena 17, depois me vi na 20. Isto foi muito esquisito. Foi a única vez que não me senti presente na peça. Fora isso, recebi uma carta psicografada em Santos, mas a mãe do Cazuza me alertou que isto sempre acontece e era besteira”, conta o artista. Apesar de não considerar estes acontecimentos algo sobrenatural, o ator afirma que foi uma das coisas mais malucas que já aconteceu.
Mesmo depois da morte do cantor, a mãe Lucinha sempre fez questão de apoiar trabalhos que repercutissem as músicas do filho. Nesta peça não foi diferente. A ajuda foi tanta que ela e o ator criaram um carinho muito especial um pelo outro. “A Lucinha abraçou todo o elenco, estava em todas as apresentações ou ia, pelo menos, uma vez por semana. Sempre trouxe muito material para mim e, inclusive, queremos nos encontrar ainda esta semana para matar a saudade. É uma mãe maravilhosa, não apenas do Cazuza como de todos que convivem com o HIV”, explica, fazendo referência às crianças atendidas na Sociedade Viva Cazuza.
Na busca de ajudar crianças que são soropositivo, Lucinha criou a Sociedade Viva Cazuza que acolhe e dá assistência a estas pessoas. “O trabalho dela é muito bonito. A Lucinha carrega aquelas pessoas no peito. No espetáculo, sempre priorizamos falar da Sociedade Viva Cazuza ao final de cada espetáculo. Tivemos uma ação onde levamos as crianças da sociedade para o teatro para assistir à peça”, relembra o ator.
Apesar do cantor ser muito julgado pelo envolvimento com drogas e pela doença que o levou a morte, a genialidade de Cazuza é unânime. Depois de interpretar o mesmo por tanto tempo, o ator passou a entender como pessoas tão inteligentes pensam. “Aprendi a lidar com pessoas geniais e virtuosas como ele, passei a entender o coração dessa galera. Ao mesmo tempo que são inteligentes, cada um tem suas questões pessoais. Todos estão, no fundo, gritando por amor e carinho”, afirma Emilio despois destes dois anos de peça.
Interpretar Cazuza não significa que Emilio sempre foi um grande fã do cantor. O mesmo só começou a apreciar suas composições depois de mais velho. “Eu era muito burro para entender as coisas simples que ele aborda, achava que eram várias palavras soltas. Depois percebi que estava traduzindo e levantando bandeiras importantes. A partir de então, sou apaixonado pela música dele”, confessa.
Fora Cazuza, Emilio está interpretando Rubinho na novela ‘A força do Querer’. Na trama, o rapaz vive um estudante de química que deixou a faculdade para se tornar garçom e, depois de se ver desempregado, entrou para o tráfico. “A maior dificuldade do meu papel é mostrar as nuances e dubiedades dele, ao mesmo tempo que o público tem que ver a mentira, os outros personagens não podem saber. Tem que ser interessante para os dois lados. Simultaneamente, isto é o que mais me diverte nele. Pesquisei muito como um criminoso se porta frente a um delegado e busquei viajar dentro desse viés”, conta. No início da novela, muitas pessoas classificaram o personagem como um rapaz manipulador. Uma opinião que o rapaz discorda. “Não acho que podemos classificá-lo assim, agora. Além disso, não sei se consigo rotulá-lo como uma pessoa boa ou ruim, todo mundo tem um pouco dos dois. As pessoas querem ver as camadas do personagem, porque somos assim na vida real”, complementa sobre seu personagem na novela das 8.
As escolhas de Rubinho estão muito presentes na sociedade brasileira atual devido à crise. Por causa do desemprego e da crise moral, política e social do país, as condições para a ilegalidade se fazem presente. Emilio, como todos nós, torce muito para que esse cenário mude rapidamente. “Estou me esforçando muito para ser otimista sobre o cenário brasileiro. Tenho um sentimento de vergonha muito grande. Não sei como o nosso país, com essa grandeza territorial, conseguiu chegar aonde estamos. Espero que as coisas melhores, porque se isto não acontecer não sei onde vamos parar. A vida real se tornou uma grande novela”, lamenta.
Mesmo com os dois grandes projetos, a lista de afazeres para este ano continua. O ator participa de dois filmes que serão lançados ainda este ano. “O ‘Motorrad’, do Vicente Amorim, mistura o suspense com o terror. Fora este, tem o ‘Berenice Procura’ que carrega um elenco muito bacana como a Claudia Abreu”, finaliza.
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