Depois de cirurgia no coração, Rubel volta aos palcos: “A música me ajuda a entender o que é ser brasileiro”


O cantor, que em 2023 passou por uma cirurgia de emergência no coração para reparar o prolapso da válvula mitral, teve que adiar o início da turnê do disco ‘As Palavras’ por quatro meses. Agora, ele está envolvido com a apresentação no Festival Queremos!, no Rio. Com três discos lançados, ‘Pearl’ (2013), ‘Casas’ (2018) e ‘As Palavras, Vol.1 & 2’ (2023), cada um com sua identidade sonora, afirmando e traduzindo sempre os desejos de manter o frescor no seu trabalho, Rubel comenta: “Eu me canso rápido das coisas. Então para que eu siga tendo tesão e vontade de fazer música, eu preciso realmente me desafiar e me colocar em situações que me tiram de uma zona de conforto. Às vezes é enlouquecedor, porque é muito mais difícil trabalhar dessa forma, sempre no limite, sempre arriscando a fazer algo que não se sabe direito. Mas, é isso que dá o barato da coisa”

Rubel se apresenta no Queremos

*Por Rafah Moura

“Eu gosto muito de viver. Amo música e literatura. Acho que é daí que vem as minhas inspirações, que quase sempre surgem de situações que eu vivi, de emoções que eu senti, ou de outras obras que me arrebatam em algum lugar e abrem uma janela nova para a criação de alguma ideia ou melodia que não necessariamente partiram da minha vivência”, explica Rubel logo no início da entrevista exclusiva para o site. O cantor, que em 2023 passou por uma cirurgia de emergência no coração para reparar o prolapso da válvula mitral, teve que adiar o início da turnê do disco ‘As Palavras‘ por quatro meses.

Rubel volta aos palcos

Depois de uma cirurgia no coração e adiar o início de sua turnê, Rubel integra o line-up do Queremos 2024

Um fato descoberto por acaso, pois procurou a emergência de um hospital com quadro de disenteria. Hoje, a marca no peito é sinônimo da sorte de estar vivo e que teve muito carinho dos fãs. “Meus fãs sempre são muito respeitosos. Eles quase sempre têm um imenso receio de incomodarem. É um tratamento bastante cuidadoso. Não sei se eu passo uma imagem fechada e distanciada que gera essa barreira, ou é só o fato de serem pessoas cuidadosas e legais mesmo. Recebi muitas mensagens carinhosas durante esse período e vivo uma vida absolutamente normal, vou a qualquer lugar. Às vezes, alguém me para, pede uma foto, conta uma história e fico genuinamente feliz quando isso acontece”, comenta.

A pessoa fica feliz de ver que também me proporcionou esta felicidade. Eu chamaria isso de uma relação de camaradagem e de respeito — Rubel

Rubel, que este ano completa 11 de carreira, é uma das atrações da quinta edição do Festival Queremos, dia 13 de abril, na Marina da Glória. O cantor e compositor de Volta Redonda, Estado do Rio de Janeiro, divide o line-up com Ana Frango Elétrico, Djavan, Djonga, KENYA20Hz, Lenine & Marcos Suzano e os gringos Adi Oasis, Alfa Mist e Devendra Banhart. “Toda essa turnê foi pensada já considerando o público de festivais. Então, eu e o diretor musical, Fejuca, que também trabalha com a Liniker e o Emicida, montamos um show que funcionasse tanto em uma casa de show quanto no palco de um festival. Eu acredito que o fato do próprio disco ser tão plural também ajuda a fazer um show que funcione bem em festivais. Tem muitos momentos dentro de um único show. Tem o momento samba/pagode, o momento funk, o intimista voz e violão. É um show bem único nesse sentido, e com uma banda enorme no palco, com 13 pessoas, o que também tem um impacto forte”, revela.

Com três discos lançados, ‘Pearl‘ (2013), ‘Casas‘ (2018) e ‘As Palavras, Vol.1 & 2‘ (2023), cada um com sua identidade sonora, afirmando e traduzindo sempre os desejos de manter o frescor no seu trabalho, Rubel comenta: “Eu me canso rápido das coisas. Então para que eu siga tendo tesão e vontade de fazer música, eu preciso realmente me desafiar e me colocar em situações que me tiram de uma zona de conforto. Às vezes é enlouquecedor, porque é muito mais difícil trabalhar dessa forma, sempre no limite, sempre arriscando a fazer algo que não se sabe direito. Mas, é isso que dá o barato da coisa. A graça. E eu sinto que meu público reage bem a essas mudanças. Quando lancei o segundo disco foi uma ruptura em relação ao primeiro, com a incorporação dos beats, da influência de hip hop. O terceiro foi uma ruptura em relação ao segundo, com a guinada para ritmos mais populares, como o pagode e o funk. O próximo também deve ser uma ruptura com “As Palavras”. Aí que tá o barato, para mim. E acho que para quem escuta também”.

Disco As Palavras Rubel

O último disco de Rubel, ‘As Palavras’, lançado em 2023 misturas diversos ritmos brasileiros

Seu mais recente disco, ‘As Palavras‘ (Coala Records, 2023) é dividido em dois volumes e traz um intenso trabalho de sonoridades em que se misturam vários gêneros musicais brasileiros, a começar pelo forró, depois o pagode, o funk, a MPB e o samba tradicional. “Primeiro veio a vontade de fazer um disco que olhasse para o contexto do Brasil em que eu estava vivendo, e que pudesse falar de outros temas para além das minhas experiências. A partir daí, eu comecei uma pesquisa longa na Literatura brasileira, desde os clássicos da sociologia fundadores de uma possível ideia do Brasil até os mais recentes, como Itamar Vieira e o Jeferson Tenório; além de uma pesquisa sobre a evolução da música brasileira até os ritmos que existem agora. E meio que acidentalmente o disco foi tomando essa forma. Surgiu um pagode, um funk, um forró e, quando eu me dei conta, era essa a identidade que o próprio disco impunha: uma coisa meio fragmentada, um mosaico afetivo de ritmos que apontam para um mesmo lugar”, explica.

O cantor e compositor Rubel

Em ‘As Palavras’, Rubel mostra uma pluralidade de gêneros musicais

Um disco que mostra uma alquimia musical com participações de Milton Nascimento, BK, Tim Bernardes, Bala Desejo, Xande de Pilares, DJ Gabriel do Borel, Deekapz. E conta também com Liniker, Luedji Luna, Mc Carol e Dora Morelenbaum. Em conversa com Vanessa da Mata, Negra Li e Céu, ficamos estarrecidos em saber que o mercado fonográfico brasileiro tem apenas 5% de mulheres compositoras. “Não sabia desse dado. É assustador. É triste. Mas acredito que esse número tem tudo para aumentar nos próximos anos. Ainda é um mercado muito fechado e muito machista, não só em relação a compositoras, mas o número de produtoras musicais, técnicas de som, instrumentistas. Acho que existe a herança de décadas em que as mulheres poderiam ser apenas cantoras – e olhe lá, muitas nem isso. É um processo até esse cenário ser revertido, mas está em curso”, analisa.

A música é o maior patrimônio da nossa cultura. O brasileiro ouve muita música! Quase 80% das pessoas escutam música todos os dias, fazendo dessa arte uma expressão visceral, que nos faz rir, chorar, etc. “Eu costumo falar isso no fim dos shows até”, corrobora Rubel.

Eu acredito que a nossa ideia do que é ser brasileiro vem a partir da música brasileira. Os ritmos, as palavras, as canções que a gente escuta desde pequeno são um pilar muito forte da nossa cultura, e, mais do que isso, da nossa identidade coletiva, como povo, como país. A música brasileira me ajuda a entender o que é ser brasileiro – Rubel

Para encerrar esse papo cheio de aprendizados e reflexões, pedimos a Pedro Seiler, um dos idealizadores do festival, para contar como é a mágica de montar o line-up do Queremos, que é como uma playlist. “Começa mais solar e vai ficando mais animado, mais dançante, até a noite. Vamos definindo nossas atrações nessa ordem para acabar com uma festança na madrugada”, conta, destacando, ainda, que tem em mente o impacto ambiental gerados pelos grandes festivais e que, por isso, o Queremos! atua com a meta fundamental de realizar importantes ações de sustentabilidade.

SERVIÇO

QUEREMOS! Festival 2024

Data: 13 de abril de 2024 (sábado)

Local: Marina da Glória (Rio de Janeiro)

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