Depois da vaquinha online para o último álbum, Blubell volta à internet e faz clipe com fotos enviadas por fãs: “Eu vivo essa instantaneidade todos os dias”


A cantora lançou o vídeo da música “Cosmos”, do disco “Confissões de Camarim”, com 800 imagens que recebeu dos seguidores em cerca de seis meses de campanha. Com a edição artesanal, feita pela própria artista, Blubell apontou a possibilidade de fazer mais clipes por causa do custo zero de produção. “Hoje, a gente consegue fazer muito mais pagando menos”

Ora benéfica, ola maléfica, a internet tem sido uma importante – e muito usada – ferramenta no meio artístico contemporâneo. Seja para aproximar na relação com os fãs, para divulgar novos trabalhos ou até para viabilizar a produção deles, as redes sociais já viraram aliadas de muitos cantores e atores. Um desses exemplos é a cantora paulista Blubell. Para a produção de seu último clipe, “Cosmos”, ela criou uma campanha no Instagram para que seus seguidores mandassem fotos para compor o vídeo da música. Em entrevista ao HT, Blubell contou que a iniciativa foi consequência de outro projeto virtual da cantora. A música “Cosmos” faz parte do álbum “Confissões de Camarim”, que foi produzido a partir de um crowdfunding, a famosa vaquinha virtual. “O meu último disco só foi possível porque eu tive o apoio dos meus fãs que permitiram tudo isso. Durante o financiamento coletivo, eu fiz várias ações que me aproximaram deles e, para o clipe, eu quis continuar essa relação. Hoje, depois dessas experiências, sempre que eu posso eu chamo os meus fãs e as pessoas que admiram o meu trabalho para fazerem ele comigo e estarem mais próximos da minha carreira”, contou.

Na prática, Blubell recebeu cerca de 800 imagens durante os seis meses de campanha. Com a hashtag #andandocomblubell, a cantora colecionou registros de pés pelo mundo. Entre as fotos, tem pé de neném, de adulto, de bota e descalço, de homem e de mulher e até de gatos e cachorros. A variedade foi uma das conquistas interessantes de Blubell nesta campanha que a aproximou ainda mais da internet. Segundo a cantora, esta é uma relação que, assim como ela e seus fãs, é diária e constante. Para Blubell, as redes são uma extensão de seu cotidiano. “Eu vivo essa instantaneidade todos os dias na minha página virtual. Embora eu tenha uma equipe que me dê um suporte nas ações, eu mesma gosto de administrar meu perfil, por exemplo”, disse a cantora que acredita que esta relação mais intimista nas redes sociais dê sentido à carreira dela. “Esta é uma das formas que eu tenho de saber o que as pessoas estão achando do meu trabalho. Essa proximidade é maravilhosa e justifica tudo o que eu faço”, completou.

E essa proposta mais pessoal e intimista que circunda a carreira e a vida de Blubell se estendeu também para a finalização do clipe de “Cosmos”. Além de escolher cada registro que foi usado no vídeo, a cantora ainda emprestou o seu olhar cuidadoso à edição. “Eu confesso que apanhei bastante do programa para editar o clipe. Porém, achava que era importante eu dar o meu próprio olhar sobre as fotos que eu recebi. Foi trabalhoso, mas o resultado ficou lindo. Foi uma verdadeira cumplicidade entre mim e o meu público”, apontou.

Em “Cosmos”, Blubell também foi responsável por dirigir o clipe e dar o seu olhar pessoal sobre os registros recebidos (Foto: Reprodução)

Além dos elementos benéficos que já citamos, essa produção mais atenciosa do novo clipe de Blubell também teve uma importante questão: nada de custo. Como as imagens foram mandadas pelas redes sociais e a edição feita pela própria artista, a cantora nos contou que não houve qualquer gasto para essa produção. E esta não foi a primeira vez que Blubell apostou em um clipe mais artesanal. Em “Vida em Vermelho”, a cantora já havia feito o vídeo com imagens apenas de celular. Insider das tecnologias modernas, ela destacou a possibilidade de produzir novos materiais sem uma mega estrutura, como era antigamente. “Hoje, a gente consegue fazer muito mais pagando menos. No meu último álbum, eu só consegui fazer um clipe, que ficou lindo e maravilhoso. Mas foi apenas um. Com o avanço da tecnologia, eu estou com planos de fazer vídeos para todas as faixas de ‘Confissões de Camarim’”, contou a cantora que já tem projeto, embora misterioso, para as músicas “Liberdade e Segurança” e “Bolero”.

Por falar nas faixas de seu quinto álbum, “Confissões de Camarim”, neste último lançamento, Blubell propôs uma continuação do conceito criativo do penúltimo, “Diva é a Mãe”. Ainda mais pessoal, o novo disco é uma tradução literal do nome do álbum. Segundo a cantora, a proposta é que as músicas sejam exposições de sua intimidade, como se estivessem invadindo seu camarim. “A ideia é que seja eu mesma abrindo as portas da minha vida para que as pessoas conheçam os bastidores. Eu sou muito assim, aberta e livre. Por isso, eu quis transmitir isso no meu novo álbum que mostra bem as minhas experiências pessoais”, explicou a cantora que, hoje, acredita que a Blubell e a Isabel, seu nome de batismo, sejam quase uma mesma pessoa. “No começo da minha carreira, eu sentia que essas ‘duas pessoas’ eram muito separadas. Mas com o tempo, eu estou percebendo que a figura da artista está se aproximando cada vez mais da Blubell mulher”, analisou a cantora que explicou que o nome artístico é o seu apelido da juventude, que foi dado por um amigo em referência à flor Blubell.

Segundo a cantora, Blubell é o seu apelido da juventude dado por um amigo em referência a uma flor (Foto: Reprodução)

Para expor toda essa individualidade e pessoalidade de Blubell no novo álbum, a cantora reforçou sua veia compositora. No disco, que tem onze faixas, nove são autorais e contam sensações e opiniões da artista de forma musicada. De acordo com Blubell, qualquer dificuldade ou estranheza que ela tenha vivido são temas fortes para suas canções. Embora possa apimentar algumas letras, todos os assuntos foram experimentados por ela e despertaram na compositora uma vontade de gritar para o mundo sobre aquilo. Inclusive, em tempos de empoderamento, os novos movimentos também estão intrínseco nas inspirações. “Assuntos como feminismo, negro e gay estão muito latentes em nossa sociedade e estão nos fazendo refletir bastante. E, como são temas que despertam minha atenção, é claro que acabam aparecendo nas minhas composições. Cada vez mais, nós estamos pensando e encontrando falhas e buracos em questões que eram aceitas há anos”, disse.

Depois da letra, Blubell também apostou em novas sonoridades. Ela, que tem uma identidade musical bem singular, contou que “veste suas músicas” de forma variada e intuitiva. “Meu estilo é fazer canções. Depois, eu vejo como vou vesti-las. E isso varia muito com a fase e o momento de vida que eu estou. Nos meus dois últimos discos, eu repeti uma fórmula que ficou muito boa, que foi em um formato mais acústico. Mas, para o último lançamento, eu quis me reinventar e sair da minha zona de conforto. Assim, eu achei um jeito mais contemporâneo para vestir as canções e tive o resultado do disco como desfecho”, contou Blubell que acredita que, embora tente modernizar, a alma de suas canções ainda é bem antiga. “Não tem jeito, a melodia e harmonia não são de hoje”, comentou.

Blubell foi a primeira artista brasileira solo a se apresentar no Lollapalooza (Foto: Reprodução)

Por fim, às vésperas de mais uma edição do Lollapalooza, lembramos da apresentação da cantora em 2012. No ano em que o festival chegou por aqui, Blubell foi a primeira cantora solo brasileira a fazer parte do line up do festival. Sobre a experiência, que agradou e foi sucesso anos atrás, ela definiu como “incrível”. Já em relação aos festivais que agitam o cenário cultural brasileiro, a cantora destacou a importância e apontou a necessidade de mais oportunidades. “Temos que ter eventos como esses cada vez mais em nosso calendário. Em um festival como o Lollapalooza, a gente tem uma excelente oportunidade de bandas grandes emprestarem seu público para artistas menores e permitir uma troca super interessante. Quanto mais eventos grandiosos, melhor para todos”, disse Blubell que, assim como a mistura de artistas super famosos com iniciantes, também acredita no poder da combinação de vários ritmos. “Eu acho que a ideia de que só pode um gênero sobe à cabeça das pessoas. Não precisa ser assim. Eu gosto de todos os sons e acho que cada tipo de música tem um destaque e um nome que é melhor que o outro. Então, quanto mais a gente abre nossos horizontes para a variedade, melhor. Assim, vamos ajudando a eliminar o preconceito do mundo”, apontou.