Monique Kessous quer cantar apenas o amor. Há seis anos sem lançar um material de inéditas, a cantora carioca de 34 anos volta ao cenário musical com o álbum “Dentro de Mim Cabe o Mundo”, onde experimenta novas sonoridades e arrisca-se em letras carregadas de reflexões e autoconfiança. Tudo com um jeitinho bem brasileiro. Apesar de parecer uma mulher de voz suave, a artista só tem rosto de mocinha delicada. Quando solta o vozeirão, Kessous mostra um timbre cheio cores e uma identidade musical peculiar. Em entrevista exclusiva ao HT, a moça explicou o motivo que a deixou longe dos holofotes e comemorou seu retorno com a benção de ninguém menos que o cantor Ney Matogrosso.
“Eu acho que o meu novo CD tem esse viés existencialista mesmo. Teve esse mote da minha busca por mim mesmo e enquanto artista. Algumas músicas eu fiz pensando nas minhas descobertas, tentando me aprofundar, de alguma forma, em quem em talvez queira ser”, revelou. “O mais bacana foi me deparar com minha natureza insaciável de querer cantar músicas de compositores brasileiros e estrangeiros e me conectar com o mundo através do meu canto e minha arte. Tem um lado existencialista muito forte, mas, mais do que tudo, tem uma característica da liberdade e da gente querer ser aquilo o que é. O mundo precisa de uma dessegmentação. A minha mensagem é de liberdade”, avaliou a artista, que acaba de entrar na casa dos 30 anos.
“O tempo tem passado muito rápido para mim, é até meio assustador. Levei seis anos para lançar o meu novo álbum, mas eu não me dei conta de que se passou esse tempo todo. Na verdade, houve um processo natural de querer fazer um trabalho em que eu acreditasse de verdade, que fizesse sentido para mim. Porque não vou lançar nada por obrigação, sabe? Acredito que ele acabou saindo na hora certa. A participação do Ney, por exemplo, surgiu na reta final. A gente sempre tem que encontrar o lado positivo das situações”, ensinou ela, que garantiu não ser uma pessoa supersticiosa. “Pior que não. Eu tenho uma coisa muito forte com o universo. Cada um tem suas crenças, mas acredito na força do universo e da comunicação através da energia”, disse.
Para o terceiro disco de inéditas, Monique, que se apresenta dia 25 de junho no Teatro Tom Jobim, no Rio, repensou sua trajetória, num processo que gerou um álbum repleto de canções contemplativas e até mais sensuais, como “Aqui Tem”, “Pedaço de Ilusão”, “A Lei É Deixar Fluir” e polêmica “Meu Papo É Reto”, que tem participação de Ney Matogrosso. A relação de Monique com o disco é tamanha que a morena chegou a tatuar o título do novo trabalho no braço. “É minha única tatuagem, mas estou animada em fazer outras”, adiantou a cantora, que aparece nua, com o corpo coberto de tatuagens feitas por computação gráfica para o encarte do CD. “O disco é um divisor de águas na minha carreira. Eu tive a necessidade de me expressar desta maneira. Eu quis fazer fotos nuas. A ideia inicial não era essa, mas depois fluiu. O verdadeiro significando das fotos é a mensagem de que eu estou deixando o mundo entrar dentro de mim. Fiquei apegada a essa foto”, contou, aos risos.
Apesar das comparações com o timbre de Marisa Monte, Monique garante que a cantora sempre foi uma referência em sua formação musical, mas que também admira outras personalidades como Gal Costa, Elis Regina, Elza Soares, Baby do Brasil e das jazzistas Peggy Lee e Ella Fitzgerald. “Escuto muita música brasileira, não gosto de um canto americanizado. Sou apaixonada pelo canto do Caetano Veloso também. Gosto daquilo que me toca e, por isso, não sou muito adepta dos rótulos. O amor é o tema mais recorrente nas minhas canções, mas muito atual. É o que move o mundo apesar dos tempo de ódio” disse ela, comentando os recentes casos de intolerância pelo mundo. “Cada vez que ouço uma notícia surreal dessas eu fico chocada. Acho muito importante falar do amor. As pessoas estão se segmentando e matando as outras, porque tem uma fronteira que os separam, porque um é gay e o outro ou não. Somos todos iguais. Falar de amor nesse momento é muito importante”, destacou.
Seguindo esta linga, a participação de Ney no disco surge no mesmo contexto de “libertar, tirar as amarras” do álbum. “Meu Papo É Reto” fala sobre uma relação gay em uma boate. “Fiz essa música com o Chico Cesar e a deixei guardada por uns tempos. Numa época em que eu estava ouvindo muito o Ney, resolvi convidá-lo para participar. É uma letra que fala de duas pessoas, dois homens, que estão paquerando, falando de amor”, contou Monique, que sintetizou: “A música tem a ver com o conceito do disco, de ‘vou me entregar, nem que seja só um dia’”. O álbum “Dentro de Mim Cabe o Mundo” ainda conta com a participações de Paulinho Moska, Denny Kessous, João Cavalcanti e versões do cantor uruguaio Kevin Johansen e o português Pedro da Silva Martins.
Apesar de ser tratado de forma leve, exaltando o amor livre, a música “Meu Papo É Reto” acabou sofrendo boicote por parte de algumas rádios nacionais. “Eu lembro que quando falei com o Ney, sobre a história da música e que a usaria como single, ele me disse: ‘eu só acredito vendo. As pessoas são muito caretas’. Eu não achei que isso aconteceria em pleno século XXI, mas aconteceu. Uma triste realidade”, ponderou ela que ainda falou sobre as dificuldades de ser mulher em ramo dominado por homens. “Eu acho todas as lutas importante. Eu sinto o machismo não só no meio musical, mas em todos os lugares. A gente vive em uma sociededade machista. Os gêneros não deveriam ser determiantes para destacar uma falsa superioridade”, avaliou ela.
No show do dia 25, Monique chama para o palco as cantoras Lia Sabugosa, Silvia Machete e Ana Lomelino, que participaram do coral de “Acorde”, samba que compôs para o disco. “Já que as escolas de samba têm a Velha Guarda, decidi convidar a Nova Guarda”, brinca. “Estou animadíssima, ansiosa e feliz. Depois desse tempo me apresentar aqui no Rio. minha cidade, será lindo. Nesse show ainda vou falar um texto do Edu Krieger, sobre o preconceito e todas essas atrocidades que a gente tem visto por aí. Será uma celebração ao amor”, finalizou.
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