Já ouviu aquela história de que o funk desceu o morro e chegou ao asfalto? Pois é a mais pura verdade. O batidão carioca, proveniente das comunidades, ganhou a Zona Sul e Oeste do Rio de Janeiro. E não só: seja lá onde for nesse Brasil de nosso Deus, lá está ele, nos melhores clubes e boates. Um bom exemplo são os bailes organizados por Dennis DJ – já conhecido por aí como o David Guetta do funk -, que tem ingressos custando, na média, R$ 200 por noite. Saem de cena as letras sobre drogas, potrancas, metralhadoras e a vida sofrida, e surgem até parcerias com Lucas Lucco, Wesley Safadão e João Lucas & Marcelo. Já tem quem diga por aí que o “Baile do Dennis” é coisa de “playboy e patricinha”. Ele se defende: “Quem vai, vê que não é isso. Eu não divido o público por A ou B. A questão é que a sonoridade não estava chegando ao ouvido das outras classes. Faço shows para 10 mil pessoas. Acha mesmo que as 10 mil são de elite? Ganhei respeito produzindo bons espetáculos”.
Para o produtor, compositor e DJ, o (até então) genuíno pancadão carioca perdeu um pouco de sua essência. “Com a instalação de muitas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio, proibiram muito os tradicionais bailes funk de favela. E nesses bailes acabam tocando muita pu!@#taria, muito palavrão. Aí que está a diferença. Eu gosto de fazer o funk popular, mas esse mais pesado eu não faço”, faz questão de dizer. As mudanças do showbiz do funk, segundo Dennis, vão além. “Mudamos cenário através dos shows diferenciados, do espetáculo, da parte musical, de trazer músicas mais vibrantes. É uma mistura. O funk passou por uma metamorfose muito grande: teve o mais melody – do Claudinho e Buchecha -, teve o Bonde do Tigrão – que é mais da dançado -, e o meu, que mistura com a musica eletrônica”, explica.
Dennis nos conta a ideia é “ter a vibração do rock, da eletrônica, do pular na balada, misturando com a sensualidade que é a dança e um pouco da época antiga, o melody”. Daí surgiram hits como “Quando o DJ mandar”, “Chefe é chefe né pai”, “Vamos beber”, “Soltinha”, “Lindona” e por aí vai. Nos versos? “Se concentra na batida e o resto tu esquece”, “Escolhe essa champanhe que elas ficam loucas”, “Quando ela dança, ela me encanta”. Notou que a diferença, então, vai bem além do metro quadrado e do preço? Mas engana-se quem pensa que Dennis é crítico da corrente contrária. “Imagina: o cara nasceu na favela, mora dentro dela e vive lá 24 horas por dia. Ele sabe que tem gente fumando, cheirando e acaba achando normal. E você vai escrever o que você está vendo. Eu, por exemplo escrevo sobre a balada, que é onde eu trabalho”, justifica.
O que o DJ-estrela quer passar até que é simples: “Ainda há espaço para todos”. “Os outros tocam e cantam o que vivem. Eu não tenho preconceito nenhum. A questão é que eu respeito muito meu público infantil – que é grande. O problema, aliás, não é do funk. É da nossa política, do nosso sistema. Se dessem mais cultura, mais respeito, tudo estaria diferente”, opina Dennis. A moral da história? “A sonoridade do funk mudou. Tem muita gente que ainda fala mal do funk, mas acaba indo e queima a língua. O teclado que David Guetta usa nas músicas dele é o mesmo que está no meu estúdio. De dois anos para cá, a mistura falou mais alto. E não adianta: o público que curte as músicas com palavrões também vai nos novos bailes porque, no quesito pulsação, é a mesma coisa”. Sacou?
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