De McCray a Rick Estrin: na Rio das Ostras contagiada pelo Blues, a maratona da boa música incendeia a cidade do Jazz


Em evento onde os Nightcats agitam a cena e Raul Midón arrebata o público, o artista de Arkansas impressiona tanto no show quanto no bate-papo com HT

* Por Bruno Muratori

O segundo e terceiro dias do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival foram mesmo uma maratona. Além da qualidade do line up apresentado, a opção por alguns shows que bisavam no domingo as atrações vistas no sábado à noite se mostrou certeira, permitindo a mobilidade do público da Cidade do Jazz, no Costazul, para os outros palcos montados na Praça São Pedro e na Lagoa do Iriry, de acordo com a conveniência. Cerca de 40 mil pessoas circularam pelo evento neste primeiro final de semana, aquecendo a região. E a plateia, bastante animada, até reclamava de um detalhe aqui e ali, apesar da ótima infra-estrutura oferecida. O único ponto de insatisfação foi a questão dos longos hiatos entre um show e outro, para afinação de instrumentos e afins, o que aumentava em muito a jornada nas noites adentro de sexta e sábado. Mas, fora isso, esta 12ª edição do festival é um sucesso, fato que deve se repetir no próximo final de semana, que conta com a participação de expoentes do jazz, como Marcos Suzano, Al Jarreau e Toninho Horta.

Neste sábado, a maratona de apresentações começou logo no inicio da tarde com Duca Belintani na praça São Pedro, animando o público mesmo com a chuva que insistia em não dar trégua, além de nova e contagiante performance do guitarrista Pepeu Gomes na Lagoa de Iriry, fazendo todos frevarem. Aliás, o palco nesse lugar promove em muito a proximidade com o artista, por se tratar de uma concha acústica muito perto da galera. Um acerto. E quem teve medo da chuva nesse dia e não acabou não comparecendo se deu mal! Porque, além de plateia lotada e afinada naquela energia, nem se notou a chuva. Aliás, nem se viu é guarda chuva parado, um bom sinal para aquilo que ainda estava por vir à noite.

Os cariocas do Afro Jazz iniciam os trabalhos, abrindo o palco principal e deixando tudo muito bem pontuado, into the groove, no maior suingue e simpatia. Não, não se trata de bloco de carnaval, mas o show deu mesmo um bom samba! A rapaziada, que busca a ancestralidade musical e cultural do continente africano, manda ver e o povo se sacode sem parar. Para quem sobe no palco pela primeira vez no festival, este é um debutar de responsa, com o pé direito e em grande estilo. O público delira, pede bis, eles voltam, que moral!

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Já no horário nobre do festival, nesta noite dedicada ao blues, surge em cena o som do americano de Arkansas Larry McCray, artista é considerado uma das referências da nova geração americana. Só para se ter ideia, ele desbancou o papa Eric Clapton durante um evento em 2000, segura que ele é o cara! Ele vem com o seu blues rock de primeira e agrada em cheio. Som forte e uma voz que rouba a cena, de arrepiar! E tasca, em um momento especial da apresentação, um solo de guitarra que levanta a Cidade do Jazz. O cara é mesmo um fenômeno! HT não pode deixar de falar com o cara e corre para o backstage. O músico, com toda simpatia que lhe cabe, faz questão de saber o nome de cada um, se dirigindo a cada um, repórter e fotógrafo, pessoalmente. Pequeno gesto que mostra a essência do artista. “Festival incrível esse! É muito gratificante sentir que inspiro as pessoas, e olha que particularmente nessa noite nem curti tanto assim o meu show porque o som da minha guitarra não estava me satisfazendo” Surpresa geral. “What?!? Como asim? Não gostou? Imagine só quando a guitarra o satisfizer”, retruca o jornalista. “Em noites assim eu fico triste por não conseguir atingir aquele patamar que eu gostaria, mas, se as pessoas gostaram, eu tomo isso como um grande elogio e me logo sinto realizado”, completa McCray, revelando um misto de autoexigência e simplicidade nata.

E, quando questionado sobre suas impressões acerca do festival, manda na lata: “Como um todo? “Eu adorei, amei tudo, man! Se dependesse de mim, moraria no Brasil e voltava pra casa só para dar um oi à família”, ele brinca.  Hum, não tem como não convidar o cara para tomar um chope, ele é boa gente até dizer chega!

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Em seguida, é a vez do mexicano Raul Midón, que mostra que a deficiência visual, usada com forma de superação, pode ser canalizada através da boa música. Em sua apresentação solo, acompanhado apenas de violão e percussão, o artista utiliza os instrumentos de forma inusitada. Acaricia as cordas do violão ou simplesmente  ‘bate’ nelas, revelando que latino vai da carícia à violência num piscar de olhos. Ele se diverte com o repertório e recebe reconhecimento imediato do público em um show, digamos,  mais intimista.

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No fim da noite, é hora da banda Rick Estrin & the Nightcats, com o veteraníssimo Rick que dá nome ao grupo incendiando o palco com sua gaita incrível. Além desse talento, um  vocalista emotivo e compositor brilhante! Entra no palco na beca, com um figurino lindo, bem fifties e já chega logo trazendo o melhor do fast blues. Durante o festival, aliás, o homem é uma figura à parte, sendo possível esbarrar em sua figura andando tranquilamente entre a garotada de chinelos, de boa. Muito louco ver como o artista se transforma no palco, com um magnetismo único que leva a eufóricos pedidos no fim do show para retornar. Obviamente, ele atende às solicitações e fecha a noite de sábado em grande estilo, com todos, dos pós-graduados no assunto aos curiosos, completamente arrebatados por seu blues e por tudo aquilo que o festival faz a favor da música de qualidade. Cool! Estrin ainda encontra tempo para agradecer a organização do festival naquele típico momento-rasgação e mais: mima sua banda “Vocês são muitos importantes para mim…” Own, que fofo.

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O melhor de tudo é que, no dia seguinte, tanto os Nightcats quanto Raul Midón voltam ao palco, os primeiros em Iriry e o segundo na Praia da Tartaruga. Uma beleza conferir suas performances agora à luz do dia, em outra atmosfera igualmente envolvente. Mas não é só isso. Com o domingo encerrando a primeira semana do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival 2014, Angelo Nani ainda anima a Praça São Pedro, seguindo o fluxo de Erin Estrin e sua moçada. Tudo, claro, amplificado pela fabulosa super lua cheia que ilumina o mar nesse por do sol sublinhado pela presença de Midón. Uma dádiva. Próximo final de semana tem mais.

E fica ligado na programação basta acessar o site do festival: http://www.riodasostrasjazzeblues.com/ Nos vemos na pista!

*Carioca da gema e produtor de eventos, Bruno Muratori é uma espécie de fênix pronta a se reinventar dia após dia. No meio da década passada, cansou da vida de ator e migrou para a Europa, onde foi estudar jornalismo. Tendo a França como ponto de partida, acabou parando na terra do fado, onde se deslumbrou com a incrível luz de Lisboa e com o paladar dos famosos pasteis de Belém, um vício. Agora, de volta ao Rio, faz a exata ponte entre o pastel de Belém e a manjubinha