Quando era criança lá em Belém do Pará, Fafá de Belém idealizava o que seria a cidade do Rio de Janeiro a partir das pessoas que chegavam na cidade tocando no violão aqueles hits das areias cariocas. Nos anos 1970, com treze anos, ela veio morar na cidade e finalmente pode ver de perto toda a sua bossa. Se encantava com Chico Buarque, Vinícius de Morares, Tom Jobim, Waldick Soriano, Francis Hime e Dolores Duran olhando a cidade pela janela, até que cresceu um pouco e começou frequentar o Chico’s Bar e, sem nem pensar em ser cantora, mas gostando de cantar, interpretava as canções que Luís Lessa tocava no violão para ela. Anos se passaram e ela se tornou um dos nomes mais respeitados da música brasileira, a musa das “Diretas Já!”, uma lenda viva, um mito. Até que, só agora, ela resolve, após uma pausa dos palcos, apresentar um espetáculo inteiramente dedicado a essa atmosfera que ela conheceu tão bem. Simples e grandioso assim. Nesta noite de sábado emocionou a plateia do Theatro Net Rio, antigo e memorável “Therezão” com o repertório do espetáculo “Meu Rio de muitos janeiros”, e, mais ainda, com sua irreverência e talento inigualável de uma artista que é patrimônio imaterial da brasilidade.
As noites cariocas que reuniam em algumas famosas casas noturnas, gerações de cantores, compositores, atores; enfim, astros da cena cultural dos anos 1970 e 1980 podem ser sentidas tanto na voz e interpretação, quanto nas gargalhadas e deliciosos bate-papos que a cantora proporciona no palco. Assim como a velha Paris, o Rio era uma festa e, culturalmente, parecia ter um manancial inesgotável de talentos. Foi nessa época que Fafá, ainda muito jovem e recém-chegada por essas bandas, conquistou o país com sua voz, carisma, sensualidade. Fafá morou no Rio durante anos e viveu seus primeiros grandes momentos, como cantora, na Cidade ainda Maravilhosa. Por isso, esse carinho especial pela capital fluminense e a decisão de homenageá-la num espetáculo que relembra uma época boêmia e que evidenciava a vocação carioca de vitrine cultural do país.
“É um repertório de infância e juventude, de dentro de casa, e que raramente chega aos palcos. Em fase ainda embrionária no final do ano passado foi apresentado em uma outra casa noturna e, além de belas críticas da mídia, provocou fortes emoções na plateia, com casa sempre lotada”, conta.
Acompanhada por um trio de músicos do primeiro time da MPB (Cristovão Bastos, Renato Loyola, Ricardo Costa), a cantora ainda nos dá o desfrute de relembrar sucessos como “Coração do Agreste” e “Foi Assim”; além de um breve passeio pela obra de Chico Buarque – a quem dedicou um álbum inteirinho: o “Tanto Mar”, gravado em 2006. “Sedução”, “Olha Maria”, “Minha História” e “Gota D`Água”, alguns clássicos do repertório de Chico, irão se juntar a outros standards da música brasileira, como “Preconceito”, “Ninguém me ama” e “Valsa de uma cidade”, de Antonio Maria e Fernando Lobo. Com um repertório ainda mais lapidado e a inclusão de canções emblemáticas que ajudaram a embalar as noites boêmias do Rio, os cariocas terão motivo de sobra para se orgulhar dessa musa de sempre, intensa e voluptuosa, de uma animação contagiante e que ainda está um mulherão-arrasa-quarteirão!
Veja aqui, a alegria e talento da artista muito bem estampada na galeria de fotos de Vinícius Pereira!
Artigos relacionados