*Por Brunna Condini
Prestes a completar 20 anos de carreira, Danni Carlos celebra em grande estilo, fazendo pela primeira vez um show inteiramente em português. “Eu devia ter feito isso antes, mas as circunstâncias não deixaram acontecer. Porque quando eu gravei o meu primeiro disco (‘Rock ‘N Road‘) era na época que as versões em inglês estavam em alta no mercado. Eu mandei para a gravadora BMG músicas em português e em inglês, mas me convidaram para cantar em inglês. Então, já comecei a carreira desse jeito. Não era o que eu queria, mas não podia perder a oportunidade e fui na onda”, desabafa.
“Foi dando certo e aí os meus primeiros álbuns foram todos em inglês (os dois primeiros ganharam disco de ouro). Mas me eduquei musicalmente em português, com Rita Lee, Raul Seixas, Bossa Nova. Só depois eu gravei dois álbuns (‘Música Nova‘ e ‘Livre’) em português, com composições minhas. E você sabe que cantar em português é muito mais difícil? Porque tem uma melodia mais bela e rebuscada, a poesia, é outra coisa. Por incrível que pareça, é a minha língua, e eu acho mais difícil”, observa Danni. O show é dedicado à nossa língua, “com canções e compositores que moldaram meu gosto musical e foram trilha sonora da minha vida”, conta a cantora, que no título, ‘Muito romântica’, já começa parafraseando o último verso da canção ‘Muito Romântico‘, de Caetano Veloso. – (…) “Noutras palavras sou muito romântico (…). Ela leva ao palco canções do cantor e compositor baiano, além de músicas de outros nomes da MPB, como Chico Buarque, Rita Lee e Marina Lima.
Acho que é porque sou muito romântica que eu casei cinco vezes. Acredito que o amor vai sempre melhorando – Danni Carlos
A cantora carioca faz um balanço dessas quase duas décadas fazendo da música o seu norte e ganha pão, e divide aqui, nesta entrevista exclusiva, os arrependimentos e gols da trajetória artística. “Me arrependo daqueles erros que você comete quando é muito jovem. A vida não tem ensaio, é show. Escolhas e decisões relacionadas ao mercado fonográfico. Coisas que eu fui birrenta e não deveria ter sido. Burrices que a gente mesmo faz. Mas tenho orgulho de mim mesma. De nunca ter mentido para o meu público. Eu transbordo o que eu sou. Não faço estilo e não faço fita. Sou o que eu estou naquela fase verdadeira, que está sempre trabalhada na análise. Eu não consigo mentir. Nunca menti”, avalia.
Se eu pudesse iria todo ano para um reality. Porque quando você está lá, não precisa ir ao banco, supermercado, pensar em conta, ficar lá existindo, ganhando dinheiro, seria maravilhoso – Danni Carlos
Após cinco casamentos, ainda muito romântica
“A canção que mais me emociona no repertório é mesmo ‘Muito Romântico’, do Caetano, que o Guilherme (Scarpa, que faz a concepção e direção da apresentação) me trouxe de surpresa, e eu chorei no dia que ele me mostrou. Isso foi real. Me bateu na alma, foi muito forte para mim. Acabou dando nome ao show, eu só mudei o gênero dela, ficou ‘Muito Romântica”. É a primeira música do setlist, é a que me aterra para fazer o show todo”, revela Danni.
E comenta sobre a parceria com o diretor e a concepção do show, nesta quarta-feira (26), no Teatro Prudential, no Rio, e que tem planejamento para rodar o país: “Scarpa é o cara que está me ajudando nisso, a gente construiu um roteiro. Ele sempre fez isso, na verdade. Só que agora assumimos essa nossa relação. Romance a gente tem para dar e vender. Daqui a pouco vem ‘Muito Romântica‘ 2, o 3, em inglês… e por aí vai. Adoro falar de amor, viver o amor. Vamos rodar muito. Tem esse aspecto teatral, com roteiro, uma história a ser contada no palco, uma mulher que atravessa diversas fases do amor, e nem todas são fofinhas. Não é romantiquinha, que gracinha”.
A gente caiu em um lugar muito canibal de pessoas, de almas, com a coisa da fama a qualquer custo. Faltou uma certa naturalidade. Mas continuo adorando o ser humano. E sou voyeur – Danni Carlos
Como se manter muito romântica após cinco casamentos? “(risos) Acho que é porque sou muito romântica que eu casei muitas vezes. Acredito que o amor vai sempre melhorando. Eu sou fiel ao amor. Onde ele estiver, vou estar. E onde ele não estiver, vou embora. Não é que eu quis casar cinco vezes, simplesmente segui o fluxo da vida, que, às vezes, é tão rápida, tão intensa. Se precisar casar a sexta, a sétima, a oitava… (risos)… Se tiver que bater o recorde da Gretchen e da ElizabethTaylor (1932-2011), eu vou bater. Sou uma romântica canceriana e vai ser assim”. E fala do seu status amoroso no momento: “Continuo casada com o quinto marido, há seis anos (Daniel Estevan, mixologista). Amor para mim é um estado de espírito que te tira do chão, da violência da própria existência, do absurdo que é viver. Não conseguiria viver nesse mundo de injustiça, de desigualdade, se não tivesse o amor para aplacar isso tudo, para me levar para o meu mundinho, meu e de alguém. O amor te tira do ordinário, te leva para um lugar meio absurdo que mexe com os nossos hormônios”.
“Me arrependo daqueles erros que você comete quando é muito jovem. A vida não tem ensaio, é show. Escolhas e decisões relacionadas ao mercado fonográfico – Danni Carlos
Louca por realities
Aos 48 anos, a cantora e atriz, que participou da primeira edição de “A Fazenda”, sendo vice-campeã do reality, fala da sua relação com o gênero. “Fui seduzida a entrar em um reality porque eu era viciada em realities (risos). Então amava e consumia. Sou apaixonada por gente, pelo comportamento humano, e realmente fiquei encantada. Prestei vestibular para psicologia, cheguei a cursar, eu sou um pote de humanas. Se eu pudesse iria todo ano para um reality. Porque quando você está lá, não precisa ir ao banco, supermercado, pensar em conta, ficar lá existindo, ganhando dinheiro, seria maravilhoso. Eu gosto. Mas com o rumo que a internet tomou hoje em dia, nem pensar. Na minha época, não tinha esse julgamento público que é muito complicado. Não teria essa coragem. Fui por curiosidade e a Internet, as redes sociais não eram o que são hoje. A pessoa que topa hoje em dia precisa ter uma coragem imensa. Prefiro a paz do meu palco. Montar uma banda e ensaiar já é um reality show”, pondera.
E filosofa: “Já vi reality show de tudo que você possa imaginar. De gente que coleciona botão. Sobre emagrecer ou engordar, de sogras, já vi e adoro. O que acho ruim é a pessoa fazer algo gratuito para ficar famoso, para tretar ou ganhar like. A gente caiu em um lugar muito canibal de pessoas, de almas, com a coisa da fama a qualquer custo. Faltou uma certa naturalidade. Mas continuo adorando o ser humano. E sou voyeur. Mas se você parar para pensar, o Instagram de algumas pessoas já é um reality show. Nem precisa juntar gente e botar dentro de uma casa”.
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