Daniel Groove fala sobre seu novo álbum, prêmios, parcerias, indústria fonográfica e a nova forma de fazer música no Brasil


O cantor lançou, recentemente, seu segundo álbum “Romance para depois”, que traz letras mais profundas do que o anterior e contou que escreve suas canções sozinho

Daniel Groove vem se firmando como um dos grandes nomes da música brasileira. Depois do sucesso de “Giramundo”, em 2013, lançou recentemente seu segundo álbum, “Romance para depois” composto de letras inspiradas escritas por ele. Com direção artística de Saulo Duarte, o álbum tem canções profundas como “Jardim Suspenso”, que conta a história do reencontro entre duas pessoas que se amam e viveram as alegrias e tristezas da paixão. O nome artístico “Groove”, ele carrega dos tempos da banda que teve. Hoje, em carreira solo, ele declara que não tem preferência entre soltar a voz sozinho ou em grupo: “Gosto de cantar”, declarou o vencedor do Prêmio Dynamite 2014. Confira abaixo a entrevista.

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A capa de “Romance para depois” de Daniel Groove (Foto: Divulgação)

HT – A banda Groove acabou mas você deixou a palavra no seu nome. Por que?
Daniel Groove – Na verdade não deixei, deixaram por mim. Quando comecei meu projeto seguinte após o término da banda, se eu ligasse num jornal e dissesse que era o Daniel falando sempre perguntavam: “Que Daniel? Do Groove?”. E assim foi ficando. Me incomodava no começo, mas acabei me acostumando.

HT – Como foi partir para a carreira solo? Teve medo?
DG – Tinha acabado de perder uma parceiro de trabalho, grande músico, Rodrigo Gondim, que faleceu de um jeito inesperado. Estava sem norte, mas tinha uma porção de músicas na gaveta. Nessa época Saulo Duarte começou a trabalhar comigo como meu guitarrista e era grande entusiasta dessas canções, também estávamos começando a compor juntos e foi ele que me deu corda pra assumir essa carreira solo. “Giramundo”, nosso primeiro disco foi muito festejado constando em diversas listas de melhores do ano e ganhando o Prêmio Dynamite de melhor álbum de música brasileira em 2014.
Ficando a sensação que começamos com o pé direito.

HT – Como é, para você, viver de arte no Brasil hoje em dia?
DG – Costumo dizer que não vivo da minha música, vivo para ela. Mas é tudo muito difícil, um sacerdócio mesmo. Passaria um dia inteiro aqui enumerando o que está errado, mas não gosto de fazer parte do coro dos descontentes, sou mais da ação. Temos uma geração muito forte acontecendo agora em São Paulo, em Fortaleza, no Brasil, e nossa luta está só começando. Tenho tido a chance de viajar muito com meu trabalho e pude conversar com muitos artistas e os problemas e as histórias meio que se repetem. Seria legal um estado com mais vontade política pra potencializar a cultura do nosso país que vive um momento muito criativo na música, no cinema, no teatro.

HT – Por que “Romance para depois”? Como escolheu esse nome?
DG – O disco fala de perda e recomeço, morte e renascimento e por isso aponta para o futuro.
Giramundo era um disco mais solar, que falava de um viajante que girava o mundo cantando as aventuras do amor. Nesse disco agora nosso personagem perdeu seu grande amor, mas não vai desistir nem se entregar, desta feita ele olha para o amanhã, para o que vem.

HT – Qual sua opinião sobre lançar um disco atualmente, com toda a indústria fonográfica mudada e as novas forma de ouvir música pela internet?
DG – Na verdade minha geração vem no crepúsculo de um mercado que agoniza e de um outro em construção. Estamos entendo tudo que envolve nosso trabalho enquanto o vivenciamos. Nesse disco novo, por exemplo, resolvemos primeiro lançar ele digital e só depois físico. É uma nova experiência, como tudo que estamos fazendo ao longo desses anos. O que foi padronizado no nosso trabalho veio de tentativa e erro.

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Mesmo cantando mpb, Daniel revelou que não se prende a ritmos e deixa que a música escolha seu tom (Foto: Divulgação)

HT – Você quem compõe todas as suas músicas? De onde tira inspiração?
DG – Assino todas as canções do meu disco e tenho muita satisfação de ter grandes parceiros de composição. Nesse disco o capixaba Juliano Gauche fez duas canções comigo e Vitor Colares, meu conterrâneo mais duas. No Giramundo tenho parcerias com o Saulo e com Diogo Soares.
Quanto a inspiração, sou um compositor do cotidiano, gosto de falar sobre aquelas pequenas coisas que só ver quem se interessa. Quando alguém me rotula como um compositor romântico, costumo responder que estou, mais do que sou. Amanhã podem aparecer outros caminhos, outras paisagens, outros interesses e me sinto livre pra trilhar tudo o que estar por vir.

HT – Como é o processo de composição? Tem uma hora específica?
DG – Não tem muita regra, não. Às vezes vem feito mágica, as vezes vem na transpiração. Produzir é meu grande barato. Estou sempre com o violão na mão esperando ser achado por uma canção. Elas tem aparecido.

HT – Você transita entre vários ritmos da música brasileira. Qual seu preferido?
DG – Não penso na música dividindo ela em estilos. Gosto de música boa. A canção é que me diz que cara ela vai ter, com que roupa vamos vestí-la.

HT – Seu álbum foi eleito o melhor de MPB no Prêmio Dynamite 2014. Como você se sente? É uma responsabilidade maior?
DG – O prêmio foi uma alegria. Estávamos concorrendo com gente que eu amo como Tom Zé, Wando, Castelo Branco, gente que respeito muito e foi uma grande surpresa ganhar, principalmente por que a última etapa é uma votação aberta. Mas passou, vamos para os próximos desafios. Minha busca definitivamente não é por prêmios, é pelos discos, pelos shows e principalmente por conseguir me comunicar cada vez mais com o nosso público. Prêmio, elogio e essas coisas veem se o trabalho for feito com seriedade e compromisso.

HT – Como você convida pessoas pra participarem dos seus álbuns e parcerias? Qual o critério?
DG – O critério é a admiração mútua, a amizade, tem que ser de verdade, sabe? Não escolho pelo nome, chamo pelo meu interesse na obra da pessoa e sempre respeitando a ordem natural dos encontros.

HT – Como é sua rotina? O que você gosta de fazer nas horas vagas?
DG – Meu dia é muito corrido. Além do meu trabalho faço trilhas pra teatro e cinema, estou agora produzindo o disco de uma cantora super talentosa de Aracajú, Héloa. Estou sempre correndo, mas de vez em quando acho um tempo pra parar e olhar pro céu, ler um livro ver um filme de preferência bem acompanhado. (risos)

HT – Quem são seus maiores ídolos?
DG – Caetano Veloso é uma grande referência pra mim, mas por ser um cara inquieto e que arrisca e experimenta muito. Curto muito Roberto e Erasmo dos anos 70, de Ramones a Hyldon. Ouço muita coisa passaria um mês aqui listando.

HT – Como você vê a música mundial no futuro? E a brasileira?
DG – Nunca parei para pensar, mas espero que ela continue se reinventando como de costume e surpreendendo a todos nós.