“Cultura é mais do que nunca lugar de alívio”, diz Eduardo Sena, do MangoLab e organizador do Quarentena Sessions


O artista vai aonde o público está, já diria o ditado. Em meio à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), na qual as aglomerações foram terminantemente bloqueadas por tempo indeterminado, a produtora MangoLab promove, através do poder de comunicação da internet, o Quarentena Sessions. A iniciativa prevê a transmissão de apresentações ao vivo na página do MangoLab no Instagram, @mangolaboficial, ao menos até o dia 29 de março. Para contar mais detalhes, conversamos com o diretor Eduardo Sena e a Banca 021, um dos grupos convidados. “Em um momento que não podemos estar juntos no físico, mostrar coletividade e empatia à distância é revolucionário!”

*Por Felipe Rebouças

Dentre todos os setores da economia, a cultura é o que mais prescinde de aglomerações, pela sua razão de ser e existir. No entanto, a pandemia de coronavírus tornou contraindicada a junção de pessoas no mesmo espaço, a fim de conter o avanço da doença que já se faz presente em mais de 166 países do mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Nesse contexto, prestes a completar dois anos no mercado de música e entretenimento, a produtora MangoLab decidiu se solidarizar com a população e os artistas confinados até segunda ordem e anunciou o ‘Quarentena Sessions’.

Arte de divulgação do Quarentena Sessions, publicado na página oficial do Mangolab no Instagram, onde ocorrerão as lives diárias (Reprodução/Instagram)

A iniciativa vai oferecer, ao menos até o próximo dia 29, opções de entretenimento remoto através de lives ao vivo no @mangolaboficial, no Instagram. “É uma forma de levar alento e diminuir a angústia das pessoas num momento tão difícil para todos nós, além de promover a divulgação do trabalho dos artistas, que estão com todos os projetos parados por conta da pandemia”, explica Eduardo Sena, cofundador e diretor de marketing artístico da MangoLab.

“Fiquei impressionado com a procura voluntária dos artistas quando pedimos ajuda para tocar o projeto. Foi realmente emocionante. E, por outro lado, é até bom para eles também. Porque nesse momento, ao invés de ficar em enfurnado em casa produzindo para si mesmo, ou para a própria banda, é o momento de trocar com o público, mesmo que à distância, para apaziguar os ânimos. Sem contar que é uma oportunidade de expor o trabalho. Não sabemos exatamente até quando ficaremos sem shows e eventos”, afirma.

A gaúcha Luciene Dom, atualmente moradora da Baixada Fluminense, se apresentará sexta-feira (21) no Quarentena Sessions (Foto: Wendy Andrade)

Ele pontua que desde a fundação, em 2018, a produtora se define como um laboratório e vitrine de música alternativa e independente que pretende “reconhecer novas semânticas artísticas, promover e evidenciar artes emergentes”. E que, dada a atual conjuntura, é preciso, mais do que nunca, buscar união, ainda que à distância – como recomendam as autoridades. “Esse é o momento da arte servir como um lugar de alívio, uma espécie de cura para a alma, um amuleto emocional”, diz. “Sabemos que não vai ser fácil passar pelas próximas semanas e meses, mas tenham certeza: a arte, no que depender de nós, estará ao nosso favor”, garante.

Eduardo sinaliza o que já tem se evidenciado nas redes: um aumento exponencial do consumo de conteúdos virtuais por conta de maior demanda dentro dos lares brasileiros. “É inevitável, as pessoas vão consumir mais conteúdo digital”, aponta. Mas o diretor pondera que não sabe até que ponto essa onde de entretenimento solidário vai durar, haja vista a redução drástica de patrocínios nessa época. “Estamos trabalhando com o que chamados de produto mínimo viável, não contamos com nenhum patrocinador, todas as empresas estão muito receosas, conservadoras nesse momento”, afirma.

No sábado, é a vez de Júlio Secchin (Foto: Moises Leal)

A Banca 021, um dos convidados do Quarentena Sessions, há sete anos na estrada, reitera o momento crítico atual, mas indica valores como empatia, solidariedade e afeto para superar as dificuldades. “Em um momento que não podemos estar juntos no físico, mostrar coletividade e empatia à distância é revolucionário!”, exclamam os integrantes do grupo. “É muito louco o que estamos vivendo, mas de certa forma vai fazer o mundo vibrar em outra sintonia como consequência, quando tudo se estabilizar. Tempos difíceis, mas de muito aprendizado”, finalizam.

“É muito louco o que estamos vivendo, mas de certa forma vai fazer o mundo vibrar em outra sintonia como consequência, quando tudo se estabilizar”, afirmam os integrantes do grupo de rap Banca 021, que se apresenta no domingo (Foto: Hugo Barbieri)

Segue abaixo a programação que está sendo exibida desde terça-feira (18) em @mangolaboficial, no Instagram:

– 20/03: Coletivo Pirajá (21h)

– 21/03: Luciane Dom (15h)

– 21/03: Leo Justi (21h)

– 22/03: Julio Secchin (17h)

– 23/03: A Banca 021 (19h)

– 24/03: Valuá (19h)

– 25/03: Camões (19h)

– 26/03: Rafa Pinta & Thom Verardi (15h)

– 27/03: Larinhx (21h)

– 28/03: JOCA (15h)

– 28/03: Carlos do Complexo (21h)

– 29/03: Lila (16h)

Além da importância artística de iniciativas como o Quarentena Session e outros semelhantes, tais campanhas dialogam com os funcionários do mundo dos eventos, que fazem parte de enorme parcela dos milhões de trabalhadores informais hoje no Brasil. Produtores, fotógrafos, cinegrafistas, DJ’s, dançarinos, coreógrafos, cerimonialistas, bartenders, decoradores fazem parte do “pessoal valente”, expressão usada pelo ministro Paulo Guedes para se referir aos autônomos que estão sendo gravemente atingidos durante esta crise, por conta da redução abrupta da demanda durante o período de quarentena. Para amenizar a condição de vulnerabilidade, o governo federal anunciou anteontem a disponibilização de duas cestas básicas mensais – equivalente a R$ 200 – àqueles que comprovarem a condição de autônomos com renda entre R$ 770 a R$ 1.450.

Ainda assim, a perspectiva é que a pauperização do cotidiano aumente à medida que as semanas passem. Para tanto, manter-se em casa, racionalizar o consumo de alimentos e água, manter a higiene das mãos e dos materiais tocáveis e informar-se e entreter-se o possível diariamente seguem sendo as recomendações, até segunda ordem.

‘Funk do Corona’ faz alerta nas periferias 

O MC Tchelinho, do Heavybaile, grupo de maior evidência na atualidade agenciado pelo MangoLab, escreveu a letra do ‘Funk do Corona’ para alertas a população sobre as recomendações básicas no combate ao contágio do vírus. “Corona tá na pista/ E eu vou ficar em casa” é a introdução da música, que ainda contém passagens como “Devemos lavar a mão/ Álcool em gel é a parada/ Se espirrar tampa com o braço/ E não ponha a mão na cara”. A solicitação de produção partiu do Projeto Sejamos Base.

É um projeto de apoio e suporte comunitário que promove atividades socioculturais voltadas principalmente na região de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, e funciona através de um sistema de apadrinhamento junto ao MangoLab. Começou em Santa Cruz e hoje está ativamente se movimentando para auxiliar na contingência da pandemia nas comunidades e favelas

“Nem todo mundo tem GloboNews em casa para adquirir informações vitais. Quando o Sejamos Base sugeriu essa ideia apoiamos na hora pois pensamos em algo para ser tocado nas favelas, no asfalto, em qualquer lugar a uma caixinha de som ou auto-falante do celular de distância”, afirma Eduardo Sena.