*Com Bell Magalhães
O cantor e compositor gaúcho Cris Romagna lançou recentemente “Deságua”, o segundo single do EP Cadê Você. Curiosamente, todas as estreias até agora foram divulgadas em dias de Lua Cheia. O esoterismo faz parte da inspiração, bem como os elementos da natureza – Terra, Água, Fogo, Ar e Metal – que são a base do novo álbum: “Ele tem a estética e cores inspiradas nesses conceitos que vêm da medicina chinesa, que eu tenho ligação. O trabalho cria uma narrativa da minha trajetória e por trajetórias que eu passei durante a minha vida, e conta essa história por meio dos elementos. É um álbum que eu tive a certeza de estar fazendo o meu melhor. O público encontrará um Cris feliz, maduro e sem nenhum arrependimento”, afirma.
O artista compõe desde os 18 anos, mas considera que o início da trajetória profissional foi três anos antes, quando ganhou o primeiro cachê: “Toquei em bailes, festas comuns do interior, em bandas dos mais variados estilos. Todas essas experiências foram muito positivas na questão técnica e em poder me aperfeiçoar na música”, revela. Aos 21 anos, ele criou uma escola de música em Garibaldi (RS), que teve uma adesão excelente. “Ela cresceu muito. Vinham pessoas de outras cidades para participar das aulas. Eu lecionava e administrava a escola”, relembra. O tempo passou e a verve compositor ainda falava bem forte. Cris foi para Porto Alegre para se dedicar full time a este prazer de vida.
Tal qual um alquimista querendo sempre novos experimentos, Cris deixou a capital gaúcha e se mudou para São Paulo e conheceu o produtor Dudinha (Eduardo Lima), que o motivou muito sobre o universo da música: “Depois dessa experiência, eu percebi o mercado de outra forma. Com uma visão profissional e mais abrangente. E, em 2014, gravei meu primeiro CD Solo, ISO”. No ano seguinte, por intermédio de uma amiga, começou a tocar na abertura do CreativeMornings São Paulo, um encontro semanal com café da manhã seguido de uma palestra curta sobre temas variados, tudo de forma gratuita.
E o cantor acrescenta: “A proposta seria uma música sobre o tema da palestra em questão. Pensei ‘não quero ficar só animando as pessoas no café’, então tive a ideia de compor uma música para cada palestra”, no que conclui: “No começo deste ano foi a minha única pausa. Minha agenda foi ficando cada vez mais apertada. Desse projeto saíram 48 canções”. E algumas delas estarão presentes no próximo álbum.
Sobre a indústria fonográfica, o compositor diz que ela foi desafiadora: “O mercado se cristalizou de uma forma que tornou difícil a vida de muitos músicos independentes. Você tem que ser perseverante”. Com a pandemia do novo coronavírus, o cancelamento de shows e festivais, Cris acredita que a arte alimenta a alma, mas “nesse momento, vemos vários setores que estão sofrendo muito, como a gastronomia, turismo, e a música. Vai demorar um tempo para estabilizar até voltar com os shows, que são o nosso maior sustento”. Mas, ele continua na estrada virtual com força e garra.
E durante esse tempo tão difícil, vemos muitos artistas recorrendo a lives e clipes semanais como uma forma de continuar na ativa e manter a base de fãs interessada. Cris surfou nessa onda deslanchando o projeto “Em Casa”, que contava com músicas e lives semanais no SoundCloud e no Instagram, respectivamente. “É quase uma estratégia de guerra para sobreviver. ‘Em Casa’ demandou um esforço muito grande. Enquanto artista, eu acho uma produção necessária, mas devemos pensar em várias estratégias boas para o próprio trabalhos para não virar métrica de vaidade”, pontua.
Fora as redes sociais, os streamings de música ganharam força nos últimos anos. Cris, que viveu a época da transição do CD para os arquivos mp3, diz que as plataformas digitais vieram para mudar a percepção do artista sobre o próprio trabalho. “Os arquivos de música eram enviados a produtores e gravadoras pelos próprios músicos, o que era um péssimo negócio. Gastava-se dinheiro com a produção e não tinha garantia nenhuma de retorno”. Uma das críticas aos streamings é o valor pago aos musicistas, mas o compositor explica que existe uma projeção extremamente importante hoje: “As novas gerações já cresceram no mundo digital. O alcance com as plataformas de streaming é universal e sem fronteiras”, pontua.
Com tantas questões, como tentar um lugar ao sol no mundo da música? “Quando você realiza algo que proporciona segurança e felicidade, isso chega ao público de qualquer forma. Vejo que a maior recompensa ocorre quando se está contente com aquilo que se está fazendo. Eu sei que é romântico, mas prefiro pensar assim do que acreditar que tudo depende de uma estratégia, de uma influência externa muito grande. Temos que colocar o nosso coração no trabalho”, conclui.
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