Em clima de comemoração e reconhecimento pontuado por discursos políticos e homenagens às vitimas do avião que transportava a equipe da Chapecoense na madrugada de terça-feira, a revista “GQ” premiou o homem do ano em 15 categorias. No “Men Of The Year 2016”, que rolou ontem no Copacabana Palace, a publicação reconheceu e enalteceu o trabalho de ícones nas áreas Moda Nacional, Moda Internacional, Estilo, Personalidade, Cinema, Televisão, Gastronomia, Esporte, Música, Artes, Empreendedorismo, Responsabilidade Social, Revelação, Liderança e Mulher. Na apresentação, os mestres de cerimônia Marcos Veras e Marcelo Serrado repetiram a cena protagonizada por Bruno Gagliasso e João Vicente de Castro na edição passada. Em protesto à homofobia, os atores deram um selinho no palco. Como Marcos Veras disse no palco, o ato foi uma tentativa de diminuir o preconceito aos homossexuais. “O Bruno e o João fizeram uma ação muito bonita no ano passado e deram um beijo amoroso, porque são amigos. Porém, de lá para cá, o preconceito só aumentou, principalmente nas redes sociais. Mas hoje, eu acho que merecemos copiar essa ação deles. Vai que a situação melhora”, idealizou Veras.
Com a proposta de ser uma publicação destinada ao público masculino, a revista GQ aborda moda, gastronomia, arte, opinião e bom humor. Nas palavras do diretor geral da Editora Globo e do Infoglobo, Frederic Kachar, a cerimônia de premiação do “Men Of The Year 2016” era um reflexo desses conceitos da revista. No entanto, devido aos últimos acontecimentos, a noite de ontem representou uma quebra de protocolo. Nos discursos, as homenagens e reivindicações foram presentes. “Essa semana tem sido bem difícil manter aceso o espírito do bom humor. A tragédia na madrugada de terça-feira (acidente da Chapecoense) foi, sem dúvidas, a mais dura de digerir e vai levar muito tempo para a gente aceitar. Mas também, em Brasília, na madrugada seguinte, houve aquela triste votação (pacote anticorrupção). A impressão que eu tenho é que nós vivemos tempos em que a nossa resiliência e os nossos limites vêm sido testados como nunca. Exatamente por isso, esta é a edição mais especial de todas. Nós estamos vivendo uma época de muita carência, insegurança, falta de liderança, tristeza profunda e horizontes incertos”, argumentou.
Para isso, a revista GQ reverencia os feitos de 15 homens ícones do último ano. Na verdade, 14. A outra categoria tem a função de eleger uma mulher que tenha sido símbolo dos últimos meses. Por merecimento, esse título foi dado à Taís Araújo. Engajada em questões sociais e culturais, a atriz recebeu o prêmio de Mulher do Ano pela revista masculina por defender os direitos dos grupos tachados como minorias. Antes da cerimônia na noite de ontem, Taís se definiu como “mais discurso do que bunda”. E, de fato, a atriz tem muito conteúdo a ser louvável. Depois de receber o troféu e dedicar a honraria a todas as mulheres negras de sua família que lutaram pelos direitos antes dela, a atriz conversou com exclusividade com o HT. “Eu abdiquei muito da minha vida pessoal pelo meu trabalho e pelo que eu acredito. Na verdade, tudo o que eu faço é pelos os meus filhos. Por isso que é tão gostoso chegar ao final de um ano difícil e ter o seu empenho reconhecido. É para eles esse meu prêmio”, disse a atriz emocionada.
Leia também: Taís Araújo é eleita mulher do ano por revista e dispara: “Sou mais discurso do que bunda”
Responsável por entregar o troféu para Taís Araújo, Lázaro Ramos, marido e pai dos dois filhos da atriz, chegou de surpresa à cerimônia. Em um discurso emocionante que contou com mensagens surpresas de João Vicente, de cinco anos, e Maria Antônia, de dois anos, filhos do casal, o ator fez questão de destacar a importância do reconhecimento à dedicação de sua mulher. Ao HT, Lázaro disse que Taís Araújo é a definição de uma palavra constantemente falada recentemente. “Tem um termo que vem sendo dito nos últimos tempos que é empoderamento. Essa é a Taís. Ela é uma mulher que está sempre se transformando, melhorando, capacitando e encontrando cada vez mais a sua voz. E esse ano é ainda mais especial porque ela está com muita autoria, coragem e empoderamento nas causas que acredita”, argumentou.
Quando o assunto foi o universo fashion, nomes brasileiros e estrangeiros foram lembrados pela premiação. Na categoria Moda Nacional, Rony Meisler recebeu o título pelo trabalho a frente do grupo Reserva. Em Estilo, Daniela Falcão, diretora de redação da Vogue e editorial da EGCN, entregou o título a Cacá de Souza, que assume o posto de embaixador global da grife Valentino e tem um dos perfis mais ativos do Instagram no cenário da moda. Em Moda Internacional, a publicação premiou Domenico Dolce e Stefano Gabbana pelo trabalho na grife italiana. No entanto, a dupla não pôde comparecer ao Copacabana Palace na noite anterior e enviou um representante e amigo: Bruno Gagliasso. Honrado, o ator disse que acredita nos mesmos pilares da marca. “Para eles, moda é sonho e arte. E, para mim, representar esses conceitos aqui no Brasil é o que eu faço. Por isso, eu sou um grande amigo da marca, do Stefano e do Domenico”, afirmou.
Seguindo na premiação, o “Men Of The Year 2016” também reconheceu o trabalho de homens em diferentes áreas neste ano olímpico. Embalados pela energia dos Jogos do Rio e pela transmissão do Grupo Globo, que foi, inclusive, reconhecida pelo jornal The New York Time, nomes importantes foram destacados na noite de quinta-feira. Em Televisão, Carlos Henrique Schroder, diretor da Globo, e Alberto Pecegueiro, diretor da Globosat, receberam o título pelo trabalho na transmissão dos Jogos. Na categoria Revelação, o recordista em número de medalhas olímpicas em uma mesma edição Isaquias Queiroz recebeu o título de Homem do Ano. Já em Responsabilidade Social, Flávio Canto teve seu empenho a frente do Instituto Reação reconhecido. Na ONG que visa dar oportunidade a jovens de comunidades pobres através do judô, o ex-atleta e atual apresentador da Globo revelou Rafaela Silva que, neste ano, conquistou a medalha de ouro no Rio.
Em vídeo, Flávio Canto contou que não pode comparecer à premiação por estar no Hawaí gravando o Campeonato Mundial de Surfe. Agradecido, o premiado explicou a ideia por trás do Instituto Reação. “Nós estamos há 16 anos tentando transformar o cenário desigual da cidade do Rio de Janeiro pelo esporte e a ideia é atingir cada vez mais números. A nossa fórmula do sucesso é muito simples: refletir sobre a quantidade de vidas que a gente transforma e avaliar se elas estão próximas do número de pessoas em potencial transformáveis. Eu acho que quanto mais perto desses índices tivermos, mais sucesso o nosso trabalho terá”, afirmou.
Como representante, o técnico de judô e parceiro de Flávio Canto Geraldo Bernardes recebeu o prêmio ao lado da campeã Rafaela Silva e foi além: “O nosso produto do bem está na transformação da Rafaela que veio de uma comunidade carente e, através de um projeto social, teve oportunidades e um direcionamento. Hoje, ela é uma mulher super poderosa e uma atleta com vários títulos mundiais e um olímpico. Isso que é importante para a gente”, apontou Geraldo que teve o discurso de agradecimento completado pela medalhista. “Eu não tinha nem um sonho e nem um objetivo. Com oito anos, eu conheci o projeto na comunidade da Cidade de Deus e fui acolhida pelo Flávio e pelo Geraldo. A minha vontade era só ser alguém na vida e conseguir ajudar a minha família. Hoje, com 24 anos, estudo Educação Física, sou Terceiro Sargento da Marinha e única brasileira da história campeã mundial e olímpica”, contou Rafaela Silva que arrancou fortes aplausos e lágrimas emocionadas por parte do público presente no Copacabana Palace.
Outro ícone que nos orgulhou durante as Olimpíadas do Rio também foi premiado nesta 6ª edição do “Men Of The Year 2016”. Na categoria Esporte, o título foi dado ao nadador paralímpico Daniel Dias. Anunciado por Cauã Reymond que revelou que se emociona com qualquer história de superação, o atleta é o maior medalhista olímpico do Brasil. Em seu discurso, Daniel fez questão de aproveitar o momento e passar uma importante mensagem a todos: “Quando eu comecei a nadar, o grande desafio era fazer as pessoas entenderem que somos todos iguais e diferentes ao mesmo tempo. Mas, acima de tudo, não ter os braços e nem as pernas não define quem eu sou. O que me define é o que está dentro de mim. Eu desejo que hoje a gente saia daqui de forma diferente e fazendo a diferença. Precisamos respeitar mais o próximo, entender tudo isso que eu falei e ser esperança de um mundo melhor em um país que está muito desacreditado”.
No cenário artístico, a revista GQ ainda premiou o Homem do Ano nas categorias Artes, Música e Cinema. Nas telonas, a honraria foi dada a José Loreto pelo trabalho no longa “Mais Forte Que O Mundo”. Para interpretar a vida do lutador José Aldo, o ator contou que se dedicou e passou por uma intensa preparação. E mais: neste trabalho, Loreto ficou mais próximo de uma realidade que tinha quando criança. “Eu tive a sorte da minha família me apoiar no esporte. Desde os cinco anos, eu faço judô e sou faixa preta no esporte. Eu já tive o sonho de ser um atleta olímpico, mas a arte me chamou antes. Então, para fazer esse filme eu precisei me dedicar de corpo e alma. Para o longa, eu fiquei um ano sem comer qualquer tipo de carboidrato e com uma TPM insuportável. Mas precisava ser assim. Eu vi de perto o quanto esses caras sofrem e a grandeza da dedicação deles”, reconheceu o ator que recebeu o prêmio das mãos do próprio José Aldo.
Na Música, Diogo Nogueira, Monarco e Martinho da Vila ganharam o prêmio em comemoração aos 100 anos do primeiro registro de um samba. Em Artes, Vik Muniz repetiu a dose e mais uma vez teve seu trabalho reconhecido pela publicação brasileira. Com trabalhos espalhados pelo Brasil e pelo mundo, Vik reconheceu e destacou a importância de sua dedicação para a cultura. “Fazer arte é lapidar a relação entre a mente e a realidade. E isso não acontece só no estúdio. É no momento que a gente vai para a rua e para o mundo que encontramos elementos que vão transformar e que são transformadores para as pessoas. A arte tem essa capacidade de humanizar e de levar as pessoas a conhecerem o que está além dos sentidos imediatos”, analisou.
Por fim, o “Men Of The Year” premiou Marcos Leta na categoria Empreendedorismo pela ideia e trabalho no comando dos sucos doBem. Em Liderança, Rodrigo Galindo ganhou o troféu por sua dedicação e exemplo de empenho a frente do grupo Kroton, responsável por inúmeros centros educacionais pelo Brasil. Já em Personalidade, o título foi dado a ACM Neto, prefeito de Salvador, pela mudança transformadora feita na capital soteropolitana. Por último, em Gastronomia, Daniel Hertz venceu a categoria pela dedicação na Gastromotiva, projeto sem fins lucrativos que promove transformações sociais através do alimento. “Esse sonho não é meu. Eu estou fazendo isso por centenas e milhares de pessoas no mundo. É um projeto coletivo que, só me permite estar aqui, porque a gente dá as mãos como uma família. A vontade de alimentar os outros e transformar as vidas é muito mais forte do que qualquer dificuldade”, completou.
Artigos relacionados