Como o nome já diz, o álbum Serpente, de Aline Calixto, quer provocar e trazer reflexões sobre os sentimentos e o amor


A cantora expõe, em seu quatro disco, diversas relações que teve com diferentes pessoas para mostrar a realidade amorosa

Se você já namorou Aline Calixto, pode ser que tenha sido a inspiração para alguma das faixas que compõem o quarto disco de sua carreira, ‘Serpente’. Com direção musical de Domenico Lancelotti, a produção poderá ser conferida no dia 18 de agosto e promete dar o que falar. Autoral e autobiográfico, o CD traz os sentimentos e reflexões da cantora sobre várias relações amorosas que teve nos últimos anos, desde 2004. As letras proporcionarão uma viagem por dentro do coração de Aline que expõe intimidades na busca de ajudar a entender o momento pelo qual está passando. Seu samba, dessa vez, traz uma mistura inusitada com arranjos com harpa, guitarra e bateria eletrônica feitos por Cristina Braga, Pedro Sá e Domenico, respectivamente. “Acredito que é preciso compartilhar o que estamos sentindo, até porque ajudamos os outros a compreender o que estão passando pelas experiencias alheias. Algumas faixas desencadeiam um processo de busca e autoconhecimento, porque a relação com o mundo não é simples. É necessário entender as suas expectativas e o que se espera do outro para não apostar todas as fichas nele. A partir do momento que se compreende que somos o verdadeiro protagonista da nossa vida e não colocamos este papel na mão de outra pessoa, dessa forma é possível lidar com os términos de maneira mais fácil”, informa a cantora que mora entre o Brasil e a França e é respeitada no Brasil e no mundo.

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HT: O disco inteiro foi feito dentro de uma semana. Quais ferramentas tornaram esta gravação tão rápido possível?

AC: Houve uma pré-produção muito grande o que possibilitou a fluidez na hora de gravar. O disco é totalmente autoral e possui algumas músicas que foram feitas, em 2004. Logo, tive muito tempo para maturar o que queria e chegou a hora de saborear os meus desencantos amorosos. Fizemos os arranjos na mesma hora e não foi difícil por saber exatamente o que queria. Como os assuntos que trato são muito pesados, planejei uma sonoridade um pouco mais leve sem deixar transparecer a tensão.

HT: Uma das coisas que você mais deixa claro sobre este disco é o fato dele ser descaradamente feito para algumas pessoas e, por isso, muitas carapuças irão servir. Já recebeu alguma mensagem de um ex-namorado preocupado com o lançamento?

AC: Recebi de um ex que estava preocupado se haveria alguma coisa sobre ele no meu disco, depois do lançamento da faixa O Tiro. Alegou que eu iria expor seu nome e falar sobre ele sexualmente. Ele estava querendo impedir, dentro do processo artístico, de falar sobre algo que é meu, no caso, meu passado e sentimentos. Isso só provou para mim que a pessoa era insegura e machista. Fico até mesmo um pouco preocupada porque se isto partiu de uma pessoa, sendo que ainda nem tinha começado a trabalhar o disco, não sei como será daqui para frente, porque em algumas músicas é descarado de quem estou falando. (Veja no final desta matéria a publicação que a artista fez no Facebook sobre este caso)

Esta é a foto da capa do disco Serpente (foto: Divulgação)

HT: ‘Serpente’ é um CD muito pessoal, sendo autoral e autobiográfico com canções feitas desde 2004. Nele, você expõe decepções, desilusões, relações abusivas e entre outras situações que sofreu no campo de relacionamentos amorosos. Existe alguma faixa muito delicada para você escrever?

AC: Há uma música que fala sobre três antigos namorados que eram contra a minha independência, não entendiam minha rotina como artista, a forma de me portar nos palcos e os pós-shows. Quando se é cantora, existem certas coisas que precisamos lidar e os parceiros tem que apenas aceitar a escolha da parceira.

HT:  O disco inteiro possui apenas uma música em língua estrangeira, a C’est avec vous. Qual o motivo te levou a escrevê-la em francês? Tem alguma relação com o seu marido, o ator francês Benjamin Lelaidier?

AC: A faixa fala sobre o amor que estou vivendo agora com o meu marido. Por isso é, inclusive, uma parceria minha com ele, razão que a fez ser em francês. Independente de distâncias e formas de pensamento, é possível chegar em um consenso. Um relacionamento é o ato de caminhar juntos. A música, então, traz uma cronologia e uma reflexão sobre o que queremos da vida.

Aline Calixto lança seu álbum no dia 18 deste mês (foto: Divulgação)

HT:  Você já falou abertamente sobre ser feminista. Existe alguma música que trata de exibir a sua visão sobre a realidade das mulheres?

AC: Uma das faixas é explicitamente feminista porque fala do direito das mulheres de viver em pé de igualdade na sociedade. Não quero ser julgada por como vim ao mundo, eu deveria estar no mesmo patamar do sexo oposto. Trouxe, inclusive, a história de Adão e Eva porque no antigo testamento está escrito que só saímos do paraíso porque ela deu a maçã ao homem, sendo que a escolha foi dele de aceitar. Quantas mulheres já morreram por causa disso. Trouxe esta analogia para mostrar que somos responsáveis pelo o que fazemos. Os rapazes não podem jogar suas incapacidades e falhas nas mulheres.

HT:  Uma das suas exigências na hora de fazer este CD foi a equiparidade de gêneros, sendo assim, metade da equipe é composta por mulheres e a outra, por homens. Qual motivo te levou a tomar esta decisão?

AC: Como defensora das pautas feministas, acredito que não adianta nada levantar uma bandeira se eu não a concretizo no meu dia-a-dia. Por isso resolvi dar emprego e exigir mais mulheres ao meu lado. Porque no mundo do samba, grande parte das funções são executadas por homens. Ambos os sexos eram igualmente competentes, mas as oportunidades nunca chegam da mesma forma e com o mesmo valor monetário ofertado. Foi perfeitamente possível encontrar mulheres capacitadas em todos os ramos que precisamos como figurino, músicos, maquiagem, assessoria de imprensa e assistente de produção. Dessa forma, acredito que o feminismo não é mulher estar acima dos homens, é estar ao lado.

Aline Calixto exigiu que sua equipe tivesse metade homem e a outra metade de mulher (foto: Divulgação)

HT:  Depois de todas as desilusões amorosas que você já teve e as reflexões que você fez sobre relacionamento para fazer este CD, acredita que ainda vale a pena apostar neste sentimento? Amar é algo positivo?

AC: O ato de amar é um pensamento positivo, desde que a pessoa se ame primeiro. Para amar um outro alguém é necessário gostar de si mesmo antes. Se houver alguma incompatibilidade ou dúvida, será mais fácil lidar com o que está acontecendo.

HT:  Com tantos anos de carreira, você já levou para casa diversos títulos como ao de ‘melhor disco do ano’ pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) e concorreu à ‘melhor cantora de samba’, em dois anos, e ‘melhor cantora voto popular’ pelo Prêmio da Música Brasileira (PMB). Além disso, uma de suas músicas já abriu a novela Fina Estampa, da Rede Globo. O que significa tais reconhecimentos para você?

AC: Não fiz este disco para ganhar alguma coisa, quero apenas dividir a minha história com as outras pessoas. Porque o que aconteceu comigo é muito próximo da realidade de muita gente. O prêmio é muito subjetivo porque é preciso passar por uma análise e algumas pessoas podem ter preconceito e não vão prestar atenção no que quero dizer.

HT:  Seu nome é reconhecido no Brasil e no mundo, com apresentações realizadas na Austrália, França, Espanha, Portugal, Itália e Argentina. Já tem data marcada para rodar com este disco? 

AC: Já temos algumas parcerias fechadas no Brasil e no exterior ainda estamos programando como será, mas a princípio vou para a Itália. Para mim é maravilhoso representar o samba lá fora, um gênero que as pessoas possuem muita curiosidade. Não sei como será a recepção deste CD por que o som dele é muito peculiar: usei guitarra, arpa e percussão. Mas, no mínimo, é uma mistura que causa curiosidade por ser o CD inteiro assim. Acho importante me apresentar no exterior porque a galera vê que é possível, porque é importante levar os trabalhos mais recentes para outros lugares, divulgar os novos cantores. Precisamos vangloriar a velha guarda que desenvolveram trabalhos muito importantes, mas é preciso continuar esta história. Temos artistas produzindo conteúdos fantásticos e, ao mesmo tempo, o aparelho midiático e o mercado não abrem as portas para receber este conteúdo.

Aline já divulgou seu trabalho na Austrália, França, Espanha, Portugal, Itália e Argentina (foto: Divulgação)

Veja a publicação que a artista fez na sua rede social sobre o ex-namorado:

 

Vem textão básico aqui pra desse modo evitar maiores fadigas. Por que olha… tá difícil, planeta.

Bem, “Serpente”, nome do meu novo trabalho que será lançado em agosto é um trabalho autoral e autobiográfico. Semana passada divulgamos nas redes uma das músicas desse cd  “O Tiro”. Há dois dias fiz um post falando que o mote do disco é sobre relações amorosas, onde exporei algumas vivências um tanto “feias” do meu ponto de vista (oras, é uma autobiografia musical). Minha intenção não é dar nome aos bois, mas sim, tem carapuça que vai servir.
Hoje recebi uma mensagem de um ex affair, e por conta dela resolvi dizer algumas palavrinhas para que todos os ex que estão espalhados por esse mundo facebookiano e fora dele, não venham questionar minha forma de fazer arte, me julgar ou quiçá me ameaçar.
Estou sempre aberta ao bom diálogo com quem quer de fato dialogar.
Fica tranquilo X,  não vou expor suas broxadas (até pq não vejo isso como problema, afinal de contas somos humanos e esse lance de virilidade é um trem tão besta, mais uma faceta do machismo). Falarei das traições, mas sem expor  nomes. Questionarei os que me julgaram por ser cantora, uma “mulher da noite” (da noite, da tarde, do dia, de qualquer horário que me convir). Ao agressor…. tem tempo né, mesmo não estando mais aqui, vc também será lembrado.  Tem muita treta sim, mas o viés desse trabalho não é fazer uma “delação premiada”, em nenhuma música tive a preocupação de expor sua performance sexual (sério, cê acha mesmo que eu iria perder tempo com isso? Socorro!).
Acalmem-se, quase todas as canções são reflexões da minha caminhada amorosa, coisa que muita gente vai encontrar identificação por ter vivido algo parecido.
No mais, vale a pena pra vc (e os outros que por ventura se incomodarem), refletirem um pouco mais sobre o que é se relacionar com um outro ser, principalmente se esse outro for uma mulher. Até que ponto foram egoístas, mesquinhos, misóginos, racistas gordofóbicos, manipuladores? Vcs entendem que todos esses ingredientes fazem parte de um caldo bem grosso chamado machismo? Alguns evoluíram e muito, tenho um baita orgulho de ter me permitido caminhar lado a lado pra ver isso. Outros, bem… tenho esperança que um dia desconstruam essa carapaça que os cobre, fruto da vivência em uma sociedade onde só o fato de se nascer homem condicionará toda sua existência em detrimento da nossa.