Comemorando 15 anos de carreira, Preta Gil lança álbum “Todas as Cores” e traduz sua pluralidade pessoal e profissional: “Nunca me enquadrei em um segmento da música”


Desde quando começou, aos 29 anos, a cantora não achou um gênero que resumisse tudo o que sua música significava. “A pluralidade que eu trago nesse álbum é algo que existe em mim desde o meu primeiro disco. Não sou só do pop, do funk ou do samba. Nesses 15 anos, eu sempre cantei de tudo um pouco e, inclusive, digo que sou do gênero #pretamusic”, disse

Preta Gil lançou hoje o novo álbum de inéditas “Todas as Cores” (Foto: Alex Santana)

“Essa sou eu”. A definição simples, porém, direta, é a forma mais própria que Preta Gil encontrou para comentar seu novo disco. Hoje, a cantora lança “Todas as Cores”. Com dez faixas inéditas, o álbum traduz a mulher plural, empoderada, colorida e múltipla que há 15 anos conquista o Brasil. Ah, além de ser um super trabalho que demorou um ano para ser produzido, “Todas as Cores” ainda foi a melhor – e luxuosa – forma de Preta Gil comemorar a década e meia no cenário musical. “Esse título já diz muito sobre o que é o disco. Para mim, esse álbum não são só dez músicas, é a melhor representação de mim, da minha persona”, defendeu.

De fato, Preta Gil não é daquelas mulheres que podem ser definidas com uma ou duas palavras. Muito menos a sua arte. Desde quando começou, aos 29 anos, a cantora não achou um gênero que resumisse tudo o que sua música significava. “A pluralidade que eu trago nesse álbum é algo que existe em mim desde o meu primeiro disco. Eu sou uma cantora que nunca me enquadrei em um segmento da música. Não sou só do pop, do funk ou do samba. Nesses 15 anos, eu sempre cantei de tudo um pouco e, inclusive, digo que sou do gênero #pretamusic, que é uma mistura de todas essas influências”, explicou a cantora que buscou reafirmar seu ecletismo musical em “Todas as Cores”.

Sendo assim, pelas dez faixas do novo trabalho, Preta Gil tempera as músicas com sertanejo, funk melody, pop, eletrônico, sofrência e até um pouco de reggae. Tudo na melhor maneira de traduzir esse enorme leque que também representa a Preta de fora dos palcos. “Eu sou essa pessoa plural. Como mãe, mulher, artista, profissional, eu não tenho só uma face. E é isso o que o álbum revela de forma até natural. Eu não pensei em fazer um disco tão diverso, apenas fiz o que me representava. No final, esse foi o resultado”, contou Preta.

“Todas as Cores” explora múltiplas sonoridades, estilos e letras (Foto: Alex Santana)

E este compilado da personalidade da leonina, que tinha tudo para ser geminiana, ainda ganha tom de comemoração pelos 15 anos de carreira de sucesso. Mais do que reafirmar Preta Gil como mulher e artista, “Todas as Cores” consagra a trajetória da cantora que começou tarde na profissão se levarmos em consideração a árvore genealógica dela. Filha de Gilberto Gil, sobrinha de Caetano Veloso e afilhada de Gal Costa, os microfones ganharam a confiança de Preta apenas aos 29 anos. “Esse disco representa a minha luta, resistência, trabalho e amor que me fizeram chegar onde eu cheguei. Foram anos de muito aprendizado e eu fico feliz de estar coroando tudo isso com esse trabalho. ‘Todas as Cores’ é um presente para mim. Nesse momento da carreira, eu queria me dedicar a um álbum completo e bem trabalhado. Em um mundo em que os artistas só lançam singles, ter esse projeto é uma conquista”, comemorou.

No entanto, quem vê e ouve “Todas as Cores” tão definido conceitualmente e musicalmente, nem imagina o processo que levou ao luxuoso resultado. Durante um ano, nas madrugadas, folgas e intervalos de sua corrida agenda, Preta Gil se dedicou aos estúdios para produzir o álbum. “Eu tenho uma rotina muito cheia e o Batutinha (produtor do disco) precisou ter muita paciência comigo. Nós fizemos faixa por faixa quando conseguíamos nos encontrar até que chegássemos às dez do disco. No final dessas, eu achei que já era o momento de lançar para o mundo. Hoje em dia, não faz mais sentido ficar segurando e guardando na gaveta”, apontou.

Durante um ano, Preta fez o disco nas madrugas e intervalos de sua agenda corrida (Foto: Alex Santana)

E hoje foi a data. Com o laçamento, Preta Gil apresentou suas novas e antigas parcerias musicais que colorem ainda mais o álbum. Uma, que já ganhou o público e é sucesso há algumas semanas, é com Pabllo Vittar na música “Decote”. “Nós começamos nos flertando pela internet, nos conhecemos para gravar a música, criamos uma parceria profissional e hoje somos muito amigas. A Pabllo é uma paixão que eu tenho”, disse. Outra presença ilustre em “Todas as Cores” é Gal Costa, madrinha de Preta e referência musical da artista. “Foi ela que me ensinou a andar, falar e cantar. E, nesse momento, eu sentia que precisava ter ela como figura materna do meu lado. Ainda mais nessa música, que tem uma letra tão forte”, contou sobre a parceria com Gal em “Vá se Benzer”.

Para completar a trinca estelar, Preta Gil convidou Marília Mendonça para dividir os vocais em “Não Me Testa”. “Eu sou fã dela desde quando ela começou a aparecer na mídia e eu ouvi a força das letras que ela mesma compõe. Para o disco, eu recebi algumas músicas e fique louca em quatro dela. Queria gravar todas, mas aí ficaria muita sofrência”, brincou a cantora que, sobre esta parceria, tem uma curiosidade super interessante. Mesmo após terem gravado a faixa, Preta e Marília nunca se viram pessoalmente. “Ela fez de Campinas e eu daqui do Rio de Janeiro. Nós possuímos uma relação muito forte pelas redes sociais e uma admiração mutua, mas ainda não conseguimos nos abraçar de verdade”, contou. Já queremos esse encontro, né?

No novo álbum, Preta Gil ter parceria com Gal Costa, Pabllo Vittar e Marília Mendonça (Foto: Alex Santana)

Por outro lado, o que Preta Gil tem muito forte em sua vida pessoal e profissional é a relação com o amor. “Eu sou romântica, gente”, contou. E isso fica ainda mais claro em “Todas as Cores”. No álbum que ela mesma já garantiu ser sua tradução musical, Preta fala do sentimento em nove das dez músicas do trabalho. “Eu tenho fascínio por letras românticas. Quando eu fui escolhendo, não pensava muito sobre o que era a música. Via o que eu gostava. No fim, percebi que, de forma natural, tudo falava de amor”, comentou a cantora que destacou que, desde o começo da carreira, este já é um tema recorrente em seu repertório.

Apesar do domínio apaixonado, Preta Gil ainda traz o empoderamento feminino para “Todas as Cores”. Assim como sua personalidade, as músicas do novo álbum exaltam a figura da mulher e a liberdade de escolha. “Eu já nasci empoderada em uma época que isso nem existia. Na minha vida, acredito ser percursora de muitos movimentos e esse é um deles. No começo da minha carreira, eu já estava fazendo capa de disco nua, assumindo a mulher que eu sou e abrindo muitas portas. É claro que nesses anos eu já tomei muita porrada da vida, mas fico feliz de ver que essa minha luta de tanto tempo ganhou parcerias atualmente”, argumentou Preta Gil que tem “Decote”, com Pabllo Vittar, como um hino deste posicionamento feminista. “Nós mulheres não queremos e nem aceitamos mais aqueles relacionamentos abusivos, em que um precisa minimizar o outro para se sentir melhor. Eu acredito que fomos feitos para nos amar e nos respeitar”, disse.

Preta Gil (Foto: Alex Santana)

Para além da teoria, Preta também comemorou estar percebendo essa mudança na prática. Testemunha da noite, das festas e usuária ativa das redes sociais, a cantora apontou o novo comportamento também como consequência da representatividade contemporânea. “Eu tenho ficado muito feliz de ver que a união tem feito a força. As mulheres estão se assumindo e se permitindo muito mais do que há 15 anos quando eu comecei, por exemplo. Hoje nós sentimos que não estamos mais sozinhas”, comentou Preta que, neste sentido, destacou o poder da internet. “As mulheres estão ganhando força com seus discursos”, completou.

E por falar no mundo virtual, “Todas as Cores” tem sido assunto quente nas redes sociais. Para o lançamento do álbum, além de uma identidade visual certeira assinada pelo mago Giovanni Bianco, com cliques de Alex Santana, Preta também tem usado de estratégias online para contar de sua novidade. Mesmo que de forma natural. “É tudo muito espontâneo. Para um lançamento como esse, é claro que pensamos em algumas estratégias de divulgação. Mas muito da repercussão tem sido natural”, disse Preta que hoje invadiu alguns perfis de celebs para contar da novidade. “Eu comecei com essa ideia de vídeos nos stories por uma besteira que eu mandei para a Pabllo. Depois dela, comecei a gravar uns videozinhos invadindo os perfis de outros amigos e saí mandando pelo Whatsapp”, disse.

A identidade visual da capa e do clipe “Decote” são de Giovanni Bianco (Foto: Alex Santana)

Neste processo de divulgação, Preta ainda segue com sua agenda hiper lotada de compromissos. Até o Carnaval, a cantora contou não ter mais nenhum dia de folga. Entre shows e viagens, Preta Gil ainda assume a missão de assinar o Expresso 2222 de seu pai em Salvador na folia do ano que vem. Em 2018, quando o camarote completa 20 anos de história em terras baianas, a cantora será a responsável por reformular o projeto que, até este ano, era comandado por Flora Gil. “O meu trabalho está sendo de trazer uma cara nova para o Expresso sem perder a excelência do trabalho da Flora de tanto tempo”, contou.

E não é só. Além da folia de Salvador, Preta ainda se dedica a melhorar o Carnaval de rua do Rio. Dona de um dos maiores encontros da cidade há nove anos, a cantora destacou o seu compromisso com a urbe. Para 2018, Preta adiantou que a conversa com a prefeitura da cidade já está bem encaminhada. “Pelo que tudo indica, o Carnaval do ano que vem vai sair mais uma vez. E, se tiver mudanças, eu acredito que serão para melhorar a festa e a estrutura para as milhares de pessoas que curtem os blocos de rua. Esse é um patrimônio da nossa cidade e nós não podemos deixar que ele se acabe”, disse a cantora sobre a festa que, ano que vem, não terá o incentivo financeiro da prefeitura nos desfiles da Sapucaí.