Começou a VI Semana Internacional de Música de Câmera do Rio de Janeiro e a diretora artística Simone Leitão explica como foi levantar o projeto com a crise que assola o Brasil


A pianista Simone Leitão irá se apresentar no festival de música erudita que este ano recebe mais brasileiros do que nas edições passadas

Quando pensamos em música erudita, os nomes Mozart e Beethoven surgem rapidamente na cabeça, mas a pianista Simone Leitão e muitos outros músicos estão dispostos a mostrar que não é bem assim. A VI Semana Internacional De Música De Câmera Do Rio De Janeiro é a prova disso. Dessa vez, o festival busca exaltar composições mais atuais do século XXI. No entanto, o evento deste ano será um pouco menor do que as edições passadas devido à crise que assola o país. “É uma benção levantar, mais uma vez, este festival. Este ano, perdemos dois patrocinadores e verba foi cortada pela metade, por causa disso estamos com uma versão menor do evento. Muitas empresas não conseguiram ajudar porque estão no vermelho. Temos que continuar resistindo porque, quando a crise acabar, construir algo do zero será muito pior. Esperamos que tudo acabe rápido”, agradece a pianista.

Simone Leitão é a responsável pela direção artística e concepção (Foto Divulgação)

O projeto foi patrocinado pelo banco Itaú e pela Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR) através da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rounaet) com o apoio institucional da Cidade das Artes. “Agradecemos muito as leis de incentivo. A lei Rouanet foi muito demonizada nos últimos tempos e sem ela não conseguimos fazer nada. Ela fomenta coisas bacanas como este festival. A nossa captação, por exemplo, é toda via esta legislação. Acho que quem trabalha no Ministério da Cultura é muito guerreiro, porque é o que mais troca de representante. É muito difícil lidar com essa instabilidade. Acho que todos estão lutando. A cultura tem que ser vista como um mercado, a gente gera muito emprego. Em um espetáculo existem uma série de pessoas trabalhando”, defende.

Os empregos que a cultura poderia gerar estão sendo deixados de lado por causa da crise. Muitos projetos perderam o investimento e mantê-los está cada vez mais difícil. Segundo a Simone, este cenário está muito pior na capital fluminense. “O Rio de Janeiro é o estado mais afetado pela crise. Em Belo Horizonte e São Paulo, os projetos continuam, mesmo com as dificuldades. Alguns lugares fecharam, mas foram muito pontuais, diferente da cidade carioca”, conta a pianista. Por causa do festival, a musicista passou por estas duas capitais do Sudeste e conseguiu avaliar de perto a situação.

Cristian Budu é brasileiro mas mora na Alemanha por muito tempo e é vencedor do Prêmio Clara Haskil em 2013 (Foto Divulgação)

Devido a diminuição da verba, Simone precisou reduzir a quantidade de músicos do exterior. Desta vez, a violoncelista servia Maja Bogdanovic, o violinista israelense radicado nos Estados Unidos, Giora Schmidt, e o violista mexicano Alexander Bruck fizeram parte do evento. Mas estas presenças gringas não são, necessariamente, melhores do que as nacionais. “As primeiras edições trouxeram grandes estrelas da música. Mas acho que a grande estrela é o próprio festival. Cada noite foi equilibrada e pensada para que o público aproveitasse. A música erudita é um documento sonoro da época e, dessa vez, valorizamos muito a música do século XXI, para valorizar os trabalhos atuais”, afirma a musicista que se mostra muito feliz por este festival ser abrigado na Cidade das Artes onde há um espaço especifico para o teatro de Câmara.

Ao diminuir os estrangeiros, a pianista resolveu aumentar os brasileiros na busca de valorizar ainda mais a arte nacional. A artista selecionou os participantes, principalmente, com a observação dos trabalhos. “Tenho um projeto chamado Academia Jovem Concertante que ensina muitos jovens a tocar. Observei o crescimento desses e convidei os que achava que estavam mais aptos”, conta Simone que é responsável pela concepção e direção artística do projeto que faz a seis anos. No entanto, ela afirma ser, antes de tudo pianista e mesmo estando sobrecarregada, consegue lidar com a quantidade de ações que faz.

Maja Bogdanovic é uma violoncelista servia que mora na França desde pequena (Foto Divulgação)

Para melhorar ainda mais a qualidade, Simone organizou masterclasses e workshops com a turma do exterior para haver uma troca de experiência maior e estimular quem está sofrendo com a falta de oportunidades. “Ao mesmo tempo que diminuímos os artistas internacionais, convidamos mais brasileiros. Quisemos valorizar mais os trabalhos nacionais. O festival é um momento de troca entre os músicos que vão pensar exclusivamente na arte. Os brasileiros entram em contato com os gringos e pode surgir a oportunidade de passar um tempo fora, por exemplo. Mas nada substitui uma orquestra sinfônica, porque é um projeto fixo que gera dinheiro para eles. A do Rio de Janeiro está parada e isto afeta tudo porque os jovens visam trabalhar ali e se ela não funciona, o sonho acaba”, critica.

Giora Schmidt é violinista israelense, radicado nos Estados Unidos (Foto Divulgação)

Uma das formas de melhorar o mercado erudito é aumentar o público que o aprecia. Este estilo não é muito abraçado pela população brasileira no geral. “A música erudita vem da educação e isto falta nas escolas porque a pessoa cresce convivendo com esse estilo, sem preconceitos. Já foi provado que quem escuta esse tipo de melodia desde pequeno possui um cérebro diferente. Além disso, se a televisão aberta oferecesse um espaço, mesmo que fosse pequeno, para divulgação, as coisas seriam diferentes. Nós temos um projeto que leva o erudito para as escolas e na grande parte das vezes é a primeira vez que as crianças escutam esse estilo”, explica.

 

SERVIÇO

O QUE: VI Semana Internacional de Música de Câmara do Rio de Janeiro

QUANDO: 21/06, 21h – 22/06, 21h – 23/06, 21h – 24/06, 18h e 20h – 25/06, 20h – 26/06, 10h | ONDE: Teatro de Câmara da Cidade das Artes | Av. das Américas, 5300, Barra da Tijuca | Bilheteria: terça a domingo, das 13h às 19h. Em dias de espetáculo de 13h até 30 minutos após o início | Telefone: 3325-0102 | Capacidade: 450 lugares

QUANDO: 27/06, 20h | ONDE: Sala Cecília Meireles | Rua da Lapa, 47, Lapa | Bilheteria: Ingressos à venda na bilheteria da Sala (segunda a sexta – de 13h às 18h,ou até o início do concerto, sábado – quando houver concerto, das 13h até o início da apresentação, concertos pela manhã/tarde – desde duas horas antes do início da apresentação, domingo e feriado – quando houver concerto, desde duas horas antes da apresentação), ou através do site www.ingresso.com | Telefone: 2332-9223 | 2332-9224 | Capacidade: 670 lugares

QUANTO: R$30 (inteira) | R$15 (meia)

INGRESSOS: https://www.ingressorapido.com.br/compra/?id=58561#!/tickets

NA WEB: www.riomusicweek.com