*Por Júnior de Paula
Muito se fala que o Carnaval de Salvador não é mais o mesmo. Que os blocos – de fato – estão perdendo a força e que os camarotes, agora, são os lugares mais disputados da folia baiana, segregando a festa e distanciando o povo dos artistas que movimentam a engrenagem. É certo também que, apesar da celebração dos 30 anos do Axé nesta temporada de 2015, há algum tempo a música baiana deixou de ser o mainstream e passou a figurar como coadjuvante nos programas de rádios, com a exceção, claro, de Ivete Sangalo, a maior artista pop do país, e Claudia Leitte, que vai comendo pelas beiradas. Mas, é só chegar a quinta-feira de Carnaval para qualquer teoria apocalíptica cair por terra quando o primeiro trio elétrico atravessa o circuito Barra-Ondina. E o site HT, claro, estava lá para conferir tudo in loco.
Na Avenida, foi o dia de Saulo Fernandes, que conseguiu provar, mais uma vez, ser uma das coisas mais legais que a Bahia produziu nos últimos anos. Desencanado, com uma camisa oversized azul – quase uma bata, na verdade -, bermuda e sandálias, ele colocava o bloco “Cerveja e Cia” para cantar seus hits próprios, como “Raiz do Bem”, e músicas que passavam pela história do Axé, como “Auê”, da Banda Cheiro de Amor, e até o arrocha da sensação nordestina Pablo.
Logo em seguida, veio Anitta, no “Bloco Eu Vou!”, com sua fantasia de egípcia (que a gente contou em primeira mão aqui), jogando duro. Estreando como líder em um bloco de Carnaval de Salvador, a cantora confessou estar emocionada, mas que também é humana e estava afim de pegar alguém. “Sempre foi um sonho comandar um trio elétrico. Tô amando chamar vocês de ‘meu bloco’, mas estou vendo todo mundo se dar bem aí embaixo e eu ainda não peguei ninguém!”, comentou, antes de avistar um folião vestido de marinheiro na pipoca, que foi amor à primeira vista. Ou pelo menos foi esse o tom da brincadeira que se começou em seguida.
Anitta começou a cantar pra o rapaz, e colocar o nome do marinheiro Pedro em todas as canções, até chamá-lo para subir no trio. Mas, foi só ele chegar lá em cima, que ela resolveu esnobar o cara e se fazer de difícil. Tudo, claro, na maior diversão. Ele deu uma dançadinha enquanto ela fazia a tímida e, logo, foi convidado a se retirar de cima do trio. Afinal, é Carnaval e a fila tem que andar. Anitta, divertida e espontânea, fez direitinho o trabalho de casa e cantou clássicos do Carnaval baiano, além de colocar o batidão do funk para ecoar pela avenida e fazendo todo mundo, literalmente, sair do chão. “Cantei de tudo, dancei de tudo e me diverti tanto quanto, ou até mais, do que quem estava lá embaixo. As 5 horas e 40 minutos cantando sem parar pareceram 2 de tão boa que estava aquela energia. Não quis parar nem para descansar. Foi o melhor dia da minha vida!”, comentou. Ponto pra ela.
A festa baiana teve ainda Bell Marques, fazendo seu primeiro Carnaval solo e arrastando um trio sem cordas, Aviões do Forró, Araketu, Moraes Moreira e Luiz Caldas, enquanto mostrava que no caldeirão de ritmos baianos cabe tudo e o que mais vier.
Já no Camarote da Schin, um dos mais bombados e com o mix mais bacana de convidados – com lista by Diogenes Queiroz e Isabella Menezes – o clima esquentou e não sobrou pedra sobre pedra. Culpa do furacão Ivete Sangalo, que foi a convidada da noite no palco do espaço, comandado por Leandro Sapucahy e seu bloco “Sapucapeta”. Leandro abriu os trabalhos por volta das 11h, cantando um medley de pagodes dos anos 1990 para esquentar a multidão VIP que se aglomerava em frente ao palco que esperava Ivete. A musa deu as caras por volta de meia-noite, linda em um vestido rosa de um ombro só cravejado de cristais, uma referência a Carmen Miranda, criada pelo estilista Amir Slama e pela sytlist Patricia Zuffa. A musa emendou hit atrás de hit, como “Sorte Grande”, “Poeira”, “Acelaraê” e outras pérolas de seu repertório, por cerca de quarenta minutos.
Para um primeiro dia de Carnaval, até que não foi nada mal, né? E hoje tem mais!
* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura
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