*Por João Ker
Na noite deste sábado (18/10), a Fundição Progresso mais parecia um Coliseu ou o palco para um culto jovem, onde meninas e meninos vestidos em sua maioria de preto esperavam ansiosamente pela chegada de seu líder espiritual. E, com pouquíssimo minutos de atraso, ele entra para comandar a seita ao rock: Jared Leto, com os cabelos compridos presos em uma espécie de coroa, barba castanha e os famosos olhos claros, na melhor pinta de “Jesus Cool”, sobe ao palco com uma camisa bem-humorada escrita “Holy Guacamole” e é recebido por uma gritaria ensurdecedora que só faz aumentar o calor dentro do espaço. Pronto, estava começando o tão aguardado show do 30 Seconds to Mars, banda californiana que o vencedor do Oscar de ‘Melhor Ator Coadjuvante’ deste ano carrega paralelamente desde 1998 e que se apresenta ainda neste domingo (19/10) no mesmo lugar, com a turnê “Love Lust Faith + Dreams”.
Há motivo para a ansiedade dos fãs (ou seria melhor dizer seguidores?), que estavam marcados para encontrar Jared em maio deste ano, mas tiveram seu culto adiado por motivos de saúde do cantor/ator. A expectativa só aumentou desde então, com a histeria dos jovens que, com bandeiras gigantes da pirâmide símbolo da banda e camisas com o rosto andrógino do cantor, mal o deixavam cantar alguma coisa, tal era o volume de seus berros. Não que ele parecesse se importar, é claro. Para quem se apresentou há pouco mais de um ano para uma multidão como a do Rock In Rio, comandar e se deixar levar por uma casa como a Fundição é fichinha.
30 Seconds to Mars no Rock In Rio
E foi isso que Jared Leto fez na maior parte do tempo, com sua atitude de ator performático: rodopiou, fez brincadeiras com a plateia, arriscou o básico do português com um “Legal” e outro “Obrigado”, enrolou mechinhas do cabelo no dedo enquanto atirava os olhos azuis em clima de flerte, respondeu o sinal da pirâmide que seus fãs faziam com uma simbologia mais forte que qualquer illuminati, urrou os “oh oh ohs!” (que foram muitos durante o show, sendo que quase todas as músicas tinham o momento daqueles gritos em uníssono) e, sim, cantou muito bem. E ainda gritou de forma afinada, já que, no caso, é isso que as músicas exigem. Antes de “Hurricane”, a faceta sabática da apresentação fica mais evidente ainda, com o vocalista dizendo “Vamos transformar essa música em uma oração!”, ao que, mais uma vez, os fãs atendem. Em outro momento da canção, ele diz “Do you really want me?” (“Vocês me querem de verdade?”) e finge que vai tirar a camisa, o que infelizmente acaba não acontecendo, mas serve para um vislumbre rápido do abdômen definido do americano.
Fotos: Vinícius Pereira
A apresentação, que durou pouco mais de uma hora, trouxe os mesmos hits e brincadeiras que o show no Rock In Rio: a plateia se abaixou e pulou quando lhes era pedido, enquanto músicas como “This Is War”, “City Of Angels”, “Up In The Air” e “The Kill” (que, assim como no festival, apareceu em versão reduzida), repletas de letras pesadas e agonizantes que complementavam o antigo look emo da banda no início dos anos 2000, eram cantadas em uma só voz, com os punhos fechados e erguidos no ar. E não, apesar de o próprio líder perguntar “o que vocês querem ouvir em seguida”, o pedido quase unânime de “A Beautiful Liiiiiiie!!!” não foi atendido. Os outros membros do grupo, que incluem o irmão de Jared, Shannon Leto, e Tomo Milicevic, até têm seus momentos aqui e ali, mas assim como acontece em outras bandas, a atração principal é o vocalista e sua eterna juventude sedutora (pasmem, pois aquele homem já tem 42 anos).
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Jared Leto faz graça e interage com o público até o último minuto do show. Fez selfies com a plateia, disse o eterno clichê de que “O Rio é o melhor público de todo o mundo porque vocês são insanos” – o que, óbvio, foi recebido com outra enxurrada de gritos e berros histéricos -, convidou alguns dos fãs para subir ao palco na última música, “Closer To The Edge”, e ainda disse amar o açaí. Pelo jeito, o verdadeiro ídolo religioso é o açaí, que todos os popstars quando chegam no Brasil, dizem idolatrar. Apesar de os telões não terem funcionado em nenhum momento do espetáculo, a banda soube muito bem prender um público que, apenas por estar no mesmo ambiente que seu líder já se sentia satisfeito. Jared Leto se despediu enquanto convidava a legião para voltar na noite seguinte e pedia para ele próprio retornar no ano que vem e fazer outro show no Rock in Rio (se Katy Perry pode, por quê ele não poderia, né?), fato que, se depender da vontade e fervor com que sua legião grita, certamente acontecerá.
Fotos: Vinícius Pereira
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