Na Bahia, Roger Waters faz homenagem a Moa do Katendê e se emociona: “brutalmente assasinado durante o processo eleitoral”


O cantor britânico, um dos fundadores da banda Pink Floyd, está no Brasil com a tour Us+Them e se mostrou antenado aos movimentos políticos do país. “Eu preferiria não viver sob as regras de alguém que acredita que a ditadura militar é uma coisa boa”, chorou ao falar para o público

“Eu quero apenas ter um momento para relembrar um dos seus. Esse é um grande artista local. Ele foi brutalmente assassinado durante o processo eleitoral e era um grande exemplo para todos nós em espalhar amor, humanidade e coragem”, se emocionou Roger Waters, um dos fundadores da banda Pink Floyd, ao descrever o mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, conhecido como Moa do Katendê. Moa foi assassinado na madrugada do 8 de outubro, por discordar de um eleitor do candidato à presidência Jair Bolsonaro. A imagem do mestre de capoeira foi exibida no telão, durante o show na Arena Fonte Nova em Salvador, nessa quarta-feira. O cantor trouxe sua turnê Us+Them ao Brasil e se mostrou atento e preocupado com o cenário político do país. Em seus 3 shows até o momento, trouxe manifestações políticas e palavras de ordem nos telões, enquanto chorava e pedia paz para os brasileiros.

“Lembrem-se do mestre Moa”, frisou o cantor britânico Roger Waters ao homenagear o mestre de capoeira assassinado na Bahia (Foto: Reprodução/Twitter/benedi_to)

A manifestação política começou com seu primeiro show na terça-feira (9), no Allianz Parque, em São Paulo. A politizada turnê, com uma grande estrutura tecnológica e com o setlist marcado pelos sucessos do Pink Floyd, pegou o público de surpresa e dividiu opiniões durante a apresentação. A performance de Another Brick In The Wall, sucesso mundial da banda, mostrou crianças com camisetas escritas “resist”, fazendo referência ao ato de resistir dos fãs, mostradas em palavras no telão, como antissemitismo, tortura e destruição do meio ambiente. Após a música, o nome do presidenciável pelo PSL, Bolsonaro, foi apontado e mostrado como neofascista. Durante a performance, Waters foi aplaudido e também vaiado, gritos de ordem das duas opiniões se misturaram na multidão de 45 mil pessoas. “Vocês têm uma eleição importante em três semanas. Vão ter que decidir quem querem como próximo presidente. Sei que não é da minha conta, mas eu sou contra o ressurgimento do fascismo por todo o mundo. E como um defensor dos Direitos Humanos, isso inclui o direito de protestar pacificamente sob a lei. Eu preferiria não viver sob as regras de alguém que acredita que a ditadura militar é uma coisa boa. Eu lembro das dias ruins na América do Sul, e das ditaduras e foi feio”, defendeu o cantor durante a performance. Roger já é conhecido pelo seu ativismo, principalmente nas músicas politizadas da banda britânica.  Durante a coletiva de imprensa antes do início da turnê, no ano passado, o vocalista revelou que seus shows seriam um alerta para as pessoas sobre governos autoritários no poder, mas mesmo assim surpreendeu os fãs.

 

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BRASILIA CROWD BROKE OUR AUDIENCE VOLUME RECORD FOR THESE KIDS!

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Durante o show, as projeções mostraram políticos de países do mundo todo, com o título “neo-fascism in on the rise”, referindo-se aos governos e representantes considerados neofascistas. A lista era formada, além de Bolsonaro, pelos presidentes dos Estados Unidos Donald Trump e da Rússia, Vladimir Putin, a líder francesa Marine Le Pen e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. Além dos governantes, a hashtag #EleNão também foi mostrada na projeção em São Paulo, enquanto o público gritada as palavras de ordem a favor. No Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, a apresentação, realizada no último sábado (13), foi marcada pelas mesmas manifestações políticas, mas a hashtag se manteve apenas entoada pelos fãs. Os próximos shows acontecem em Belo Horizonte (21), Rio (24), Curitiba (27) e Porto Alegre (30).

A hashtag #EleNão fez parte do ativismo durante o show de Roger Waters (Foto: Reprodução)

A postura politizada não é novidade na vida do cantor britânico e seu ativismo é movido pela própria vida: Roger nunca conheceu a figura paterna, o tenente Eric Fletcher, morto durante a Segunda Guerra Mundial. A perda foi a peça chave por trás do álbum The Wall, obra homônima do Pink Floyd.  Com a maior turnê no Brasil desde 2002, Us + Them traz a força política que envolve a história musical da banda desde o princípio. Durante o show na Bahia, na região com maior aderência ao PT no Brasil, o momento foi de relembrar Moa do Katendê e sua importância. O caso ainda está sendo investigado, mas segundo a polícia, o suspeito de assassinar o mestre de capoeira discutiu sobre política com ele, foi até a casa onde morava, voltou ao local e atacou Moa com facadas.  Característico do momento político atual, o número de ataques realizados pelos apoiadores do Bolsonaro no país aumenta rapidamente, segundo o levantamento realizado pela Agência Pública em parceria com a Open Knowledge Brasil. Os dados revelam que, desde o dia 30 de setembro, foram realizados 70 ataques, incluindo agressões e ameaças, em meio ao acirramento da violência eleitoral. Com a violência crescente, Roger pede apenas uma ação aos fãs: “Lembrem-se do mestre Moa”.

 

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REMEMBER MESTRE MOA. THANK YOU FOR AN EMOTIONAL NIGHT, SALVADOR

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