Produtor, arranjador, compositor e multi instrumentista, Pretinho da Serrinha agora também é ator. Pelo menos, em tese. Em cartaz com a peça “Ensaio sobre alguma coisa que a gente não sabe o que é” no teatro do Shopping Fashion Mall, o músico conta histórias de sua vida pessoal e profissional ao lado das amigas e atrizes Maria Ribeiro e Carolina Dieckmann. Embora tenha texto para interpretar e enredo e roteiro para seguir, Pretinho da Serrinha garantiu que não se vê na posição. “Eu não sou ator, sou músico. Essas duas que inventaram essa brincadeira. Na verdade, nós somos três amigos em cima de um palco. Eu ajudo com a parte da música e elas me dão apoio na atuação”, contou o sambista que não escondeu a tensão em sua estreia no teatro. “No começo, eu estava muito nervoso. Minha boca estava completamente seca. Porém, no final, quando eu vi que estava acabando, eu não queria mais sair do palco. Foi uma experiência muito boa e eu estou muito feliz”, revelou.
No enredo, Pretinho da Serrinha narra lembranças do passado e destaca alguns personagens de sua vida que o ajudaram a chegar onde o músico chegou hoje. Referência quando o assunto é a produção e o arranjo de produtos musicais, ele mostra que, além de talento, sua trajetória tem muita luta e fé. Sobre esta exposição em cima do palco, quase biográfica, Pretinho garantiu não se importar. “Tudo o que eu conto são as minhas histórias de vida. Todas reais. Eu não me incomodo de conta-las em cima de um palco. Não tenho motivo para esconder. Uma hora ou outra esse meu passado ia aparecer. Então, é melhor que eu mesmo conte porque não tem jeito, eu vim disso”, disse o sambista que, entre esses depoimentos, conta sobre sua primeira festa de aniversário, aos sete anos, e o começo profissional no samba, aos dez.
Mas a proposta do espetáculo “Ensaio sobre alguma coisa que a gente ainda não sabe o que é” não é de tristeza. Muito pelo contrário. Com a alegria como combustível único da peça, o Tryo Elétryco, como Pretinho, Maria e Carol foram batizados, protagoniza um verdadeiro encontro entre amigos. Leve, divertido e interativo, o espetáculo tem música, humor e um pouquinho de cara de pau. “A gente não ensaiou quase nada. Quando a gente se encontrava, elas só queriam ficar cantando. Eu queria atuar para poder aprender e a Carol e a Maria só tocavam. Foi só no palco, na hora do vamos ver que eu descobri que deu certo”, confessou Pretinho da Serrinha sobre a peça que foi sucesso de público na estreia.
Em meio a toda essa alegria, algumas temáticas mais sérias também ganham espaço no espetáculo. Entre uma música e uma história divertida, o machismo, racismo e política são destacados a partir de experiências narradas pelo próprio trio. Porém, como destacou Pretinho, sempre de forma leve e nada didática. “Na maioria das vezes que falamos sobre esses assuntos, fica um clima pesado e tem briga. Mas no nosso caso não é assim. Nós somos amigos dividindo opiniões, porém, tudo dentro da amizade, da brincadeira e do respeito. No entanto, apesar dessa leveza, a mensagem está sendo passada”, explicou.
A peça “Ensaio sobre alguma coisa que a gente ainda não sabe o que é” fica em cartaz apenas no mês de julho, às terças-feiras, no teatro do shopping Fashion Mall. Enquanto estiver no palco ao lado de Maria Ribeiro e Carolina Dieckmann, Pretinho da Serrinha contou que irá precisar se dividir entre o Rio de Janeiro e Portugal. Afinal, além desta aventura como ator, o sambista ainda possui diversos outros compromissos no cenário musical. “Eu acabei de produzir o DVD da Maria Rita, estou terminando o meu disco e fazendo a turnê do Seu Jorge em Portugal”, contou Pretinho que, para reforçar sua veia artística, ainda lança seu primeiro filme. “Em breve estreio no cinema no longa sobre Pixinguinha, no qual eu interpretei o irmão dele”, adiantou.
Mergulhado em tantos projetos, Pretinho da Serrinha comentou que com ele, a crise política e cultural não tem espaço. “A música não tem fim. Cada vez que a gente trabalha, descobrimos novas portas dentro de outras oportunidades. Isso não para nunca. Pode ter a crise que for, a arte não acaba nunca. A qualquer momento, nós temos um instrumento para sair tocando e driblando os problemas. Somos mais fortes do que qualquer crise”, afirmou o músico. Porém, quando o assunto é o teatro, seu novo palco, Pretinho destacou a importância desta ocupação e de poder proporcionar arte para cada vez mais pessoas. “Esse panorama de crise nos teatros nos dá ainda mais força para encarar o palco, principalmente para mim, que estou fora da minha área. Já que está fechando por falta de grana, vamos tentar ocupar e colaborar com a nossa parte. Então, estamos fazendo a peça com ingresso barato, sem receber nada e investindo um pouco com o nosso dinheiro. É uma adequação. A ideia é fortalecer o movimento. Estou me arriscando no teatro para isso”, disse o músico Pretinho da Serrinha.
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