Negra Li não entrega um álbum nas gôndolas desde “Tudo de novo”, em 2012. Hiato proposital, ela garante. “Sou de uma outra época da música e perfeccionista com o meu trabalho. Quando comecei, as coisas andavam mais devagar e, agora, estou treinando para me encaixar nessa nova era musical”, contou a HT em entrevista exclusiva. O treino o qual ela se refere tem um bom personal trainer, nas devidas comparações, que atende pelo nome de João Marcelo Bôscoli, filho de Elis Regina. “Sempre admirei o João e já quis trabalhar com ele no passado. Nos reunimos para falar sobre o meu próximo disco e decidimos juntos que ele seria o produtor. Estou feliz demais, porque o João é uma playlist ambulante, conhece muito de música e está sempre à frente”.
O novo álbum, ainda em pré-produção, está fazendo Negra Li revirar a gaveta.”Tenho letras escritas em 2008 que serão lançadas”, adiantou ela, meio misteriosa. “Já temos ótimas opções, mas ainda é o começo do começo, não tenho rituais”. Nas conversas com Bôscoli, os assuntos são de um tudo: das redes sociais aos arranjos. Sintonia para refletir esse trabalho como um divisor de águas na carreira que começou na Zona Norte de São Paulo. “Minha carreira sempre teve divisores de águas, muitos antes e depois. Estou sempre me desafiando e aprendi muitas lições com as gravações dos CDs anteriores. Neste, eu quero ousar mais, porque estou preparada para um desafio ainda maior”, garantiu.
“Na melhor fase da carreira”, ela olha para trás e lembra os momentos de dificuldade que passou por ser mulher no hip hop e no soul, dois gêneros predominantemente masculinos. “Mas eu sempre tive um lugar ao sol e não posso reclamar. Afinal de contas, fiz parte de um grupos de rap só de homens e isso já foi um avanço na época”, lembrou. Negra acha que os tempos são outros e agradece por isso. “As mulheres hoje têm mais espaço. Elas são artistas completas além de grandes empresárias, mães e visionárias”.
A infância, marcada pela cantoria em uma igreja evangélica, não a fez conservadora, mas uma seguidora dos preceitos religiosos. “Os ensinamentos que aprendo através da Bíblia são fundamentais, uma direção na minha vida, consolo e reconforto pra enfrentar as provas diárias”, explicou. Mas até que ponto eles influenciam sua opinião sobre a legalização do abordo e o reconhecimento de família apenas como homem e mulher? “Em relação ao aborto é complicado dizer, mas sou a favor em casos de estupros ou em caso de risco de vida e a favor da legalização, sim. A mesma opinião tenho sobre família. Apenas Deus pode julgar”, se posicionou.
Negra Li, que prefere fugir da polêmica sobre o músico Caíque Gama, da banda Fly, ter dito que “para quem tem cabelo ruim, [trança] é uma salvação”, lançou a #BelezaNegra como uma forma de empoderamento da mulher de sua raça, contra, em suas própria palavras, “padrões estabelecidos”. “A ideia dessa ação é espalhar a beleza negra e fazer dela cada vez mais presente e comum de se ver. Façamos a nossa parte enaltecendo a todas as mulheres desse país e trabalhando para que a auto estima delas esteja sempre elevada”, convocou. Quando a ineficiência do Ministério da Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos entra na conversa, a cantora generaliza a culpa. “Cabe ao governo, a sociedade e o setor privado diminuir a desigualdade social e racial do nosso Brasil promovendo a igualdade de direitos e oportunidades”.
Feminista em partes, já que concorda com o discurso do movimento no que diz respeito “a igualdade de direitos, liberdade e respeito independente do gênero”, Negra Li, no entanto, afasta discursos radicais. Postura de quem faz sua parte, não abaixa a cabeça para homem nenhum e, aos 36 anos, já quer se reinventar. Faltam Negras Li por aí.
Artigos relacionados