Mr. Catra sobre igualdade de gêneros: “Tem que ser igual para quem é igual. Acho que cada um tem que se colocar no seu próprio lugar”


Antes de se apresentar na Pink Elephant Rio nesta sexta-feira (20), o funkeiro conversou com exclusivamente com HT. Ele também nos disse: “As UPPS foram as piores coisas, culturalmente falando, que aconteceram no estado do Rio”

“Olha só, olha só. E vou falar logo qual é: eu sou Mr. Catra e eu bato em mulher. Mas eu só bato em mulher do jeito que ela não reclama. Porque em mulher só se bate na cama. Bota ela de quatro, uma palmada e ela gama. Se ela te provoca, joga ela na cama e dá uma surra de pi!@#roca”. São esses os versos de “Mulher só se bate na cama”, uma das faixas que Mr. Catra entoa em seus shows. É a maneira que o funkeiro – que tem três mulheres (manter a atualização do número é tarefa difícil até para o próprio) – encontra para falar do assunto. Até porque as plateias em que Catra canta ficam no país que tem uma denúncia de violência contra mulher a cada, pasmem, sete minutos; segundo dados da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República.

Catra - Divulgação Site Oficial

“Por mais que seja divertido o que eu canto, é um bagulho bem sério. O povo tinha que ter consciência, mas não, misturam-se muitas coisas. Se a mulher respeitasse o direito do homem e vice-versa, não teria tanta violência. Eu tenho certeza que a violência contra a mulher é um lance que não deve acontecer. Mas é nem do homem contra a mulher e nem da mulher que agride o homem. Porque do mesmo jeito que homem bate, mulher também bate”, disse Catra em entrevista ao HT em meio ao caótico trânsito de São Paulo (nota: nesta sexta (20), ele chega no Rio para cantar na Pink Elephant Rio durante a festa Hip Hop Funk Club). E daí, com o discurso ouvido, foi inevitável lembrar da frase que, corriqueiramente em entrevistas, Catra solta: “Eu não sou machista, eu sou feminista… Ninguém gosta mais de mulher do que eu”.

Antes que a passagem surgisse nessa conversa, tiramos o assunto do limbo da graça e o colocamos como problemática social. E a frase já não parece ser bem assim quando apresentamos os tempos de movimento feminista em voga. “Tem ser igual para quem é igual. Homem não é igual a mulher. Mulher tem direitos de mulher e homem tem seus direitos e deveres de homem. Acho que cada um tem que se colocar no seu próprio lugar. Se a gente misturar as coisas, não fica um lance maneiro. Mulher com seus direitos de mulher, homem com seus direitos de homem, e homossexual com seus direitos de homossexual. Acho que todo mundo tem que ter os seus direitos, e respeitá-los porque o direito de um começa quando o do outro acaba”, soltou.

Sem medo de soar machista ou preconceituoso, Mr Catra é daqueles que acha que “o mundo não está chato. Ele, na verdade, está hipócrita”. E nem nesses tempos de patrulha e conservadorismo latentes, ele deixa de cantar as canções dos seus shows que, volta e meia começam com o aviso: “Vai começar a putaria”. Nos versos? “A pretinha tá que tá doidinha para sentar”, “Ela tremeu as pernas bambas quando sentiu meu instrumento”, “Quero ver você rebolar com o pi!@#ru dentro”, “Os bonitinho tão virando viadinho” e “Homem de verdade gosta mesmo é de bu!@#$ta”. Catra, pai de 32 filhos e avô de quatro netos, fala com a voz baixa e leva todos os assuntos em tom de seriedade.  “Eu não estou pudico por causa desses tempos de conservadorismo. O problema é a hipocrisia que está tomando conta da nossa sociedade. As pessoas tem que viver como elas agem”, reclama.

Catra também não teme nem o mercado – que aliás, ajuda a pagar suas contas. Segundo ele, as emissores de TV, rádios e gravadoras recebem essa sua musicalidade “de forma bem inusitada”. “Não tem como classificar meu tipo de som no mercado. Ficou um lance maneiro, único, particular”, vangloriou-se. Positivismo, aliás, até em tempos de crise. “E a crise não chegou ao funk. O funk chegou à crise. Ele é um movimento de custo benefício onde o custo com cachês e equipe não é tão alto, mas os resultados nas portarias são bem satisfatórios”, explicou. Mas que os tempos mudaram para o funk, ah, isso Catra não consegue discordar.  Principalmente quando lembramos dos bailes nas favelas. “As Unidades de Polícia Pacificadoras instaladas pelo Estado nas favelas do Rio de Janeiro ocasionaram, também, um sufoco da cultura funk . Fizeram as UPPs, aí entraram as contas de luz, as contas de TV a cabo, entrou tudo para o favelado pagar. Mas ninguém investiu na cultura funk, favelada, verdadeiramente carioca. As UPPS foram as piores coisas, culturalmente falando, que aconteceram no estado do Rio”, opinou.

E ele prosseguiu: “São épocas diferentes. Na época que eu comecei no funk, ele estava passando pelo holocausto cultural que foi a proibição dos bailes funk. Foi um preconceito muito grande, onde colocaram cerca de 200 mil trabalhadores na rua sem nenhum sindicato, sem ninguém abrir a boca. Aumentou a criminalidade e a prostituição. Foi um lance muito triste. As próprias autoridades deveriam rever as pessoas que foram prejudicadas com isso”. Catra pensa e vive o funk – um de seus filhos, Alandin MC, seguiu os caminhos do pai. Por isso é contra essa turma que envereda pelo batidão e depois se torna “artista pop” sem a alcunha de MC. “É triste você cuspir no prato que comeu. Não é legal. E o funk é uma benção. Mas deixa estar…depois a gente vê como é que fica”. Papo de quem encara a carreira como “uma benção maravilhosa de Deus” e tem um sonho: “Ainda não realizei a real organização familiar, uma maior consciência familiar”. Essa sim é uma tarefa difícil com mais de três dezenas de herdeiros. Não à toa uma de suas canções mais famosas se chamam “Uh, papai chegou”.

Novidade quente como o fogo

Catra foi contratado pelo canal por assinatura Multishow, do grupo Globosat, para apresentar um programa. Segundo HT levantou, a atração é 70% musical, com o restante dedicada a entrevistas. Os primeiros convidados? Ivete Sangalo e Caetano Veloso, babies. O programa terá início no mês de julho. O sonho do funkeiro, aliás, é conseguir levar Roberto Carlos para seu palco. Quem viver, verá.

Serviço

Pink Elephante Rio Apresenta: Hip Hop Funk Club com Mr. Catra

Data: 20 de maio (sexta-feira)

Local: Avenida Armando Lombardi, 333, Barra da Tijuca. Tel: 3596-0800

Horários:

23:00   – Abertura / DJ Raphael De Luca

05:00:  – Encerramento

Ingressos:

– Com Nome na Lista:

Mulheres: De graça até as 00:00 / Após R$ 30

Homens: R$ 30 / Após R$ 60

– Sem Nome Na Lista:

Mulheres: R$ 30

Homens: R$ 60

– Camarotes:Reservas:

-(21) 3579-6000 / 3596-0800

– whatsApp: (21) 97660-8144(21) 97660-8144