“É necessário quebrar os padrões
É necessário abrir discussões”, diz a letra de ‘Etérea’, o mais recente lançamento de Kleber Cavalcante Gomes, mais conhecido como Criolo, que, aos 44 anos e multiartista, se consagrou como um pensador da cultura e política brasileira. O cantor irá estrear no carnaval paulistano fundindo sua energia com a alegria do bloco carioca Bangalafumenga, no dia 15 de fevereiro, na esquina da Avenida Faria Lima com a Rua Chilon. Ao lado de Pretinho da Serrinha e da baiana Patrícia Secchis, Criolo irá cantar quatro músicas que traduzem a relação do cortejo com São Paulo e com o rap. Para 2020, o tema escolhido é ‘O Banga Declara Seu Amor pelos Batidões Bonitos do Brasil‘, uma referência à música ‘Batidão Bonito’, de autoria de Rodrigo Maranhão, vocalista e fundador do bloco.
Confira abaixo o papo reto e exclusivo que tivemos com o cantor que falou sobre música, arte, política, plataformas digitais e futuro:
Heloisa Tolipan: A faixa Etérea, seu novo single, traz batidas mais eletrônicas. Como é se ‘aventurar’ nesse novo universo?
Criolo: Um prazer muito grande! Quando eu era jovem, os bailes não tinham essa separação e ouvíamos e dançávamos todo tipo de música. E a eletrônica sempre esteve presente. No início, representando os guetos ao redor do mundo. No Brasil temos produtores de música elétrica reconhecidos mundialmente. Essa cultura sempre esteve presente e próxima e, em determinado momento, inventaram que tinha que separar, mas a arte sempre trata de consertar o erro dos homens.
HT: Qual a dificuldade de nomear um novo trabalho?
Criolo: Às vezes leva um tempo, mas sempre acaba fluindo. O universo ajuda bastante.
HT: Suas letras trazem sempre fortes mensagens. De onde surgem essas inspirações? Você acredita que esse é o motivo para fazer tanto sucesso entre os jovens?
Criolo: As emoções que me visitam estão ligadas a essa vida vivida desde o ventre de minha mãe e o modo como o mundo travava nossa família. Com o tempo, a arte criou essa ponte para desabafo e abriu porta para aprendizados infinitos. Os jovens estão sempre nos ensinando uma nova forma de reconstruir esse diálogo.
HT: O que o inspira. Quem são seus ídolos?
Criolo: Tudo começa em casa, meus pais são minha maior inspiração.
HT: A música brasileira tem ganhado cada vez mais visibilidade no exterior. A que você atribui esse sucesso?
Criolo: A música do nosso país é única e cheia de regionalidade, alma, é verdadeiramente uma mistura única. Não existe nada próximo disso em nenhum canto do mundo. Somos um continente infinito de criação, histórias e ritmos.
HT: A arte por essência é transgressora. Como você enxerga a forma em que se encontram as manifestações culturais brasileiras?
Criolo: A arte dará a resposta à altura, é inevitável.
HT: As plataformas digitais causam uma ansiedade e uma euforia, por parte dos fãs que anseiam cada vez mais por novidades, muitas das vezes não tendo tempo de contemplação das faixas. Como se relaciona com essas plataformas?
Criolo: As plataformas são um dos caminhos para propagar os sons. E cada som tem sua própria energia que está ligada ao porquê de seu nascimento. Quando admiramos é natural a expectativa.
HT: Você realmente acredita que ‘não existe amor em SP’?
Criolo: A cidade insiste nisso.
HT: O ano de 2020 está só começando. O que podemos esperar do Criolo ao longo desse ano?
Criolo: Sempre aguardado a oportunidade de pedir licença para dividir um sentimento sonoro. Que venha logo!
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