* Por Pedro Willmersdorf
No período pré-carnavalesco, muito se falou sobre o nível de equilíbrio em que se mostrava a disputa do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Falou-se muito sobre o retorno da Beija-Flor, um ano após o controverso desfile em homenagem ao Boni. Falou-se sobre o ressurgimento consolidado da Portela. Sobre a explosão da Mocidade nas mãos de Paulo Barros. Mas, passados os 12 desfiles, acreditem, voltamos a apontar os mesmos dois nomes de 2014 como favoritos ao título. Mais uma vez, Salgueiro e Unidos da Tijuca são as mais fortes credenciadas ao campeonato do carnaval 2015.
A vermelho-e-branco, no domingo, arrasou na Avenida, com uma apresentação tecnicamente perfeita, aliada ao visual inspirado da dupla de carnavalescos Renato e Márcia Lage, em um de seus melhores anos dentre os 12 que já estão à frente do Carnaval da escola. Já o pavão do Borel, encerrando a maratona, trouxe, como em 2014, o chão mais quente de Sapucaí, com harmonia e evolução impecáveis, além de um conjunto alegórico e de fantasias deslumbrante.
Curiosamente, Salgueiro e Tijuca têm pontos fracos em comum: enredo e samba. Fora estes dois quesitos, será muito improvável que as duas agremiações tijucanas percam décimos na apuração desta Quarta-Feira de Cinzas. Com o melhor desfile de sua história, a São Clemente, em tese, corre por fora. “Em tese”, pois o nome da escola de samba, infelizmente, ainda é relevante na hora da canetada do júri. Visual fascinante, um enredo sobre Fernando Pamplona magistralmente desenrolado por Rosa Magalhães, a melhor alegoria do ano (o Theatro Municipal afro), evolução e harmonia envolventes: quesito a quesito, a escola de Botafogo se exibiu em uma noite mágica. Fazê-la voltar no sábado das Campeãs seria o mínimo de justiça a ser feita com a escola.
Beija-Flor, Ilha, Imperatriz e Mocidade, seguem em busca de uma vaga no desfile do próximo fim de semana, podendo, quem sabe, surpreender e beliscar o campeonato. A escola de Nilópolis levou para a Avenida a força já reconhecida de sua comunidade, mas com um enredo frágil e uma evolução confusa no setor final da Sapucaí. Já a tricolor insulana exibiu um enredo divertidíssimo, fazendo o desfile mais alegre do ano no Grupo Especial, reforçado por uma plástica irrepreensível que consolida Alex de Souza como o carnavalesco mais talentoso do Carnaval do Rio, atualmente. Uma pena evolução e harmonia deixarem tanto a desejar. Quesitos, por exemplo, que a Imperatriz dominou facilmente: a escola de Ramos cantou, brincou, deitou e rolou com seu maravilhoso samba. No entanto, o conjunto alegórico deixou muito a desejar, contrastando demais com as fantasias.
A estreia de Paulo Barros na Mocidade trouxe de volta a criatividade do carnavalesco à toda. Empolgante, o desfile teve como ponto alto o enredo de fácil leitura e as fantasias bem acabadas. Como contraponto, as alegorias que prometeram mais do que cumpriram e o samba, que na hora H se mostrou o mais fraco dentre os 12 cantados na Avenida.
A Portela, favorita antes mesmo do desfile ocorrer, foi deixando de ser uma forte aposta ao título conforme foi cruzando o Sambódromo. Alegorias com acabamento irregular, fantasias de gosto duvidoso e um enredo completamente mal desenvolvido fizeram com que a escola, de possível campeã, passe a torcer bravamente por uma vaga no sábado, o que já seria lucro. Assim como a Grande Rio, que apresentou um desfile apenas correto, marcado por um samba eficiente, mas fragilizado pelo enredo superficial e um conjunto de fantasias e alegorias irregular, estando longe de ser um dos melhores trabalhos do carnavalesco Fábio Ricardo.
Na parte de baixo da tabela devem surgir Mangueira e Vila Isabel, com desfiles somente dignos, distantes de quaisquer resquícios de competitividade. Os percalços financeiros visivelmente marcaram a apresentação das duas escolas, com um padrão visual muito abaixo do que a elite do Carnaval carioca requer. Sorte, tanto da verde-e-rosa quanto da escola de Noel, que suas comunidades, como sempre, deram conta do recado ao levarem na base da garra seus desfiles para a frente. E, por fim, será muito surpreendente que a escola rebaixada não seja a Viradouro que, apesar de seu belo samba e uma disposição louvável de seus componentes, apresentou um desfile que não se adequa ao Grupo Especial, tanto em relação às alegorias quanto às fantasias. Junte a este fator o elemento pluviométrico: o temporal que desabou sobre a cidade na noite de domingo minou a harmonia e evolução da agremiação de Niterói, dificultando ainda mais uma missão que já parecia complicadíssima antes mesmo do cronômetro disparar.
* O sagitariano Pedro Willmersdorf é um jornalista carioca apaixonado pelo carnaval, obsessão que ele concilia com outros amores, como a música pop, o cinema, o voleibol e a vida noturna ao lado dos amigos.
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