Cantora Caru lança parceria com Capinan em “Umbigo de Vênus” e desabafa: “Existir é resistir”


A Bahia e a música em comum, musicista e letrista lançam canção inédita e videoclipe em primeira mão para o site HT

A baiana de Feira de Santana já foi arquiteta e vivia uma vida bem estabelecida em São Paulo, mas o amor pela música a fez largar tudo e se mudar há dois anos para o Rio de Janeiro e viver da arte. Caru Oliveira tem apenas 28 anos e acaba de se juntar a um dos maiores letristas da música popular brasileira, José Carlos Capinan, também baiano, de Esplanada, para a recém lançada Umbigo de Vênus.

Muitas gerações musicais os separam. Caru ainda nem pensava em nascer, quando Capinan escreveu músicas referências da época dos festivais e da Tropicália no Brasil. A letra da canção Ponteio de 1967 é dele e de Edu Lobo, Soy loco por ti, América é uma parceria com Gilberto Gil no ano de 1968. A música Clarice foi escrita junto de Caetano Veloso, Papel Machê com João Bosco, além de trabalhos com Geraldo Azevedo, Paulinho da Viola, Fagner e Moraes Moreira.

E essa inédita parceria entre Caru e Capinan surgiu por acaso tomando um café em um bairro boêmio de Salvador. “Esse encontro veio em um momento incrível. Estávamos em um café no Rio Vermelho logo depois de almoçar e ele desembestou a ler haicais aleatórios. Antes que eu falasse qualquer coisa ele olhou, apontou para mim e disse: ‘Esse é a sua cara!’ E era mesmo! Queria falar dessa angústia e de como não sabemos mais expressar a paixão pelo outro…veio Capinan, meu ídolo, e me mostrou exatamente como se fala. Eu peguei esse haicai, ajustei umas coisinhas para entrar na métrica e fiz a canção a partir de um solfejo. Beto Márcio, amigo querido, me ajudou e botamos no violão”, conta Caru.

CARU (Foto: Filipa Aurélio)

Para a artista é um presente poder cantar uma letra escrita por um compositor que já teve trabalhos cantados por grandes vozes da música brasileira. “Quando eu comecei a escrever e me tornei compositora de fato, eu comecei a perceber que o letrista das músicas que eu mais admirava era o Capinan. É gratificante e realizador, eu nunca imaginei em tão pouco tempo, com tão pouca idade que eu fosse ganhar uma letra de um cara que fez músicas com o Caetano. É uma loucura, eu nem acredito ainda”, diz a cantora aos risos em uma conversa com o site HT.

A artista cresceu ouvindo músicos baianos consagrados e teve dentro de casa um grande influenciador. Caru é sobrinha de Fernando Santos, primeiro professor de percussão da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e um dos criadores da Orquestra Sinfônica baiana. O ritmo da Bahia e o tom sempre questionador é o que Caru carrega em todos os seus trabalhos. “É impossível a Bahia não estar nas minhas referências. Quando eu chamo alguém pra tocar comigo eu sempre quero que seja da minha terra, pois a gente tem um jeito que só o baiano tem”, afirma.

A baiana CARU (Foto: Filipa Aurélio)

A nova música, lançada há uma semana em todas as plataformas digitais é repleta de significados oriundos do âmago do letrista e da personalidade forte e autêntica da musicista. Gravada em um estúdio no Rio, a música foi formatada com arranjo, guitarras e teclados do santo-amarense Paulo Mutti que também assina a produção musical, o toque do baixo elétrico de Alberto Continentino, a marcação da bateria de Cesinha e a mixagem de Kassin. E hoje com exclusividade para o site HT, Caru lança  making of da gravação de Umbigo de Vênus no canal do YouTube da artista. Confere aí essa voz da bahia!

O próprio nome Umbigo de Vênus traz reflexões acerca da conexão humana através do cordão umbilical, o epicentro corporal e a mitologia grega sobre a deusa do amor, da beleza e da sexualidade. “Quer dizer sobre o nosso próprio reconhecimento dentro de nós mesmos. Ficamos muito nesse lugar de se descobrir, de querer dar nome às coisas, mas, na verdade, nós somos vários.  Insistimos em sermos um só, mas somos vários e o umbigo traz esse significado de existência e vênus traz o empoderamento da mulher. Eu como uma mulher, me sinto forte, decidida e livre o suficiente para ser quem eu quiser dentro de todos os meus umbigos, dentro de minhas várias formas”, filosofa a compositora.

Caru gosta de escrever sobre as “doenças” comportamentais do século XXI, as novas relações humanas, o virtual e o real. O contexto político também impulsiona novas poesias, diálogos e canções. Foi o momento atual do país que levou Caru a lançar a nova música Umbigo de Vênus no dia 30 de novembro. Ela continua: “Eu já tinha desistido de lançar o álbum esse ano ainda, porque eu fui alvo de agressões na rua por simplesmente estar vestida de vermelho. Então nesse trabalho eu falo sobre isso, mas de forma subjetiva. Tem muita gente querendo colocar a gente dentro de caixas e eu não vou deixar que isso aconteça.” De acordo com a cantora, é através da arte que ela pretende mostrar sobre a condição plural do ser humano. “A gente fala mais quando estamos nesse momento de resistência, tudo tem mais sentido. Tenho a sensação de que esse momento social é como se fosse um pedido para que eu me expressasse”, completa.

Cantora e compositora CARU (Foto: Filipa Aurélio)

A jovem artista entra para o mundo da música com todo vigor e coragem de se expressar, mesmo que ainda esteja no início da carreira. “Se eu tivesse medo, eu nem seria artista. Eu tinha uma vida feita como arquiteta, ganhava bem, morava bem e se eu tivesse medo de alguma coisa, eu não teria largado tudo e teria vindo fazer o que eu amo. O amor está à frente de qualquer coisa, se eu tiver esse medo eu vou ter medo de ser quem eu sou e então eu vou deixar de existir. Existir é resistir”, enfatiza Caru que para o próximo ano vai lançar mais duas músicas e o clipe do trabalho com o Capinan.

Menina arretada!